A ACAP (Associação Automóvel de Portugal) não esconde a sua desilusão pelo facto do Orçamento do Estado, para 2021 não incluir medidas de estímulo para o setor, cujas quebras, nos últimos 10 meses, foram superiores a 35%. Ao contrário do que sucede em Espanha, França e Itália, a não criação de incentivos ao abate de veículos em fim de vida é, de acordo com a ACAP, uma ameaça que põe em causa a sustentabilidade de um sector que representa 8% do PIB.
Segundo Hélder Pedro, secretário-geral da ACAP, «a criação de medidas de incentivo ao abate seriam, no caso de Portugal, além de uma prioridade do ponto de vista económico, um passo importante e urgente no campo da gestão ambiental».
De acordo com os números, Portugal é o segundo país, só superado pela Croácia, na queda de veículos ligeiros de passageiros matriculados na União Europeia, com as vendas e empresas de rent-a-car a caírem de modo preocupante.
Comparando o número de veículos registados em agosto de 2019 e em 2020 nota-se que a descida de quase 50%, mas, se for feita a comparação dos 10 primeiros meses, a descida sobe para 75%.
Falta de apoios à descarbonização
A ACAP considera, ainda, que o fim dos incentivos fiscais aos veículos híbridos é uma medida de extrema gravidade, muito em particular, por ir contra a politica de descarbonização da União Europeia e por comprometer as metas de redução a que o setor automóvel está obrigado.
É que cerca de 72% do parque automóvel nacional é composto por veículos ligeiros de passageiros, com uma idade média de 13 anos, contra 11 anos na média da União Europeia, pelo que ausência de incentivos faz com que os acordos ambientais assumidos ficam mais distantes, vai contribuir para que o parque automóvel mais antigo e poluente, com a importação de veículos usados a crescer, penaliza o sector e o ambiente de faz com que a aposta nas energias alternativas continue a ser adiada.
Números relevantes!
A ACAP faz questão de sublinhar que os números do sector demonstram a sua importância a nível nacional, já que o volume de negócios é superior a 33 mil milhões de euros, com um Valor Acrescentado Bruto de 4,2 mil milhões de euros, que garante uma receita fiscal de ordem dos 10 mil milhões de euros, o que representa cerca de 21% das receitas fiscais do Estado, que o sector automóvel emprega 152 mil trabalhadores e que as exportações representam 8,8 mil milhões de euros, o que significa 15% das exportações nacionais, sendo o automóvel o produto mais exportado pelo país.
Mais do que a importância do setor, estes números mostram que é urgente a necessidade de olhar para esta indústria e ajudá-la a enfrentar e ultrapassar esta crise, com o incentivo ao abate a ser uma oportunidade para o setor e para o Governo, que podia permitir minimizar as quebras, que o Governo estima ser superiores a 270 milhões de euros, no ISV
Hélder Pedro, secretário-geral da ACAP
Já José Ramos, presidente da ACAP, manifestou o seu desânimo afirmando que o orçamento e em particular as medidas em relação aos veículos híbridos são esclarecedoras sobre o pouco conhecimento que “estes senhores” têm em relação ao setor automóvel.