Ajoelhado pela pandemia de Covid-19, o Mundial de Ralis viu-se, depois, amputado das provas tradicionais, entre elas o Rali de Portugal. Que está de regresso… e com público! Foi durante anos o melhor rali do mundo graças a uma organização liderada com punho de ferro por Alfredo César Torres, mas teve como calcanhar de Aquiles os entusiásticos adeptos portugueses.
Este descontrolado entusiasmo que percorria o país de sul a norte atingiu o auge com os carros do grupo B e, em 1986, ficou escrito no livro da história do Mundial de Ralis com o sangue daqueles que faleceram no acidente do Ford RS 200 de Joaquim Santos.
Continuou a ser o melhor rali do mundo, mas percorreu uma via sacra depois do General Inverno ter decidido, em 2001, despejar hectolitros de chuva sobre o percurso.
Uma história de altos e baixos
Enlameou os troços, enferrujou a organização e atirou o Rali de Portugal para fora do Mundial de Ralis. Foi um choque que perdurou durante cinco longos anos até que o ACP decidiu mudar o rali para o Algarve (justificado pela presença do aeroporto de Faro e a ampla rede de hotéis) e apresentar a candidatura para o regresso ao Mundial.
Foi assim disputada a prova de 2006, acabando por encontrar lugar na competição maior dos ralis mundiais em 2007. Se a prova antes da despromoção foi ganha por Tommi Makinen (Mitsubishi Lancer Evolution), a de regresso teve como vencedor Sebastien Loeb (Citroen C4 WRC).
Porém, a FIA tinha vestido uma camisa de sete varas com excesso de ralis e andou a fazer rodízio e tocou ao Rali de Portugal passar pelo Intercontinental Rally Challenge em 2008, regressando ao Mundial em 2009. Foi o ano em que Jari Matti Latvala teve o acidente da sua vida ao capotar o Ford Focus WRC várias vezes e Sebatien Loeb venceu pela segunda vez em Portugal.
A prova manteve-se no Algarve até 2014 – com super especial em Lisboa – quando o ACP decidiu fazer a prova regressar a Norte onde “estão os verdadeiros adeptos dos ralis”. E desde esse ano que o Rali de Portugal percorrer catedrais como Fafe, desta feita com toda a segurança e a dureza que se exige a uma prova em pisos de terra.
A edição deste ano marca o início das provas de terra do Mundial de Ralis 2021, calendário que vai assistir ao regresso do Rali Safari e do Rali da Acrópole, tendo realizado a primeira edição do Rali do Artico e da Croácia e indo estrear o Rali de Ypres, na Bélgica e o regresso do Rali do Japão.
Edição 2021 rica em inscritos e em competitividade
O Rali de Portugal continua a ser uma das provas mais queridas dos pilotos, responsáveis das equipas e dos jornalistas. Se a sul era o sol e a gastronomia que seduzia, a norte são as estradas, a gastronomia e a generosidade do povo nortenho.
A Toyota Gazoo Racing World Rally Team liderada por Jari-Matti Latvala inscreve quatro Toyota Yaris WRC para Sebastien Ogier e Julien Ingrassia, Elfyn Evans e Scott Martin, Kalle Rovanpera e Jonne Halttunen, Takamoto Katsuta e Daniel Barritt.
Para pilotar os Hyundai I20 Coupé WRC da Hyundai Shell Mobis World Rally Team, Andrea Adamo, o responsável da casa coreana, escolheu Thierry Neuville e Martin Wydaeghe, Ott Tanak e Martin Jarveoja, Dani Sordo e Borja Rozada e Pierre Louis Loubet, que vai mudar de navegador. Vincent Landais vai sair do banco do lado direito do Hyundai i20 WRC, entrando para o seu lugar Florian Haut Labourdette. Um desconhecido que tem 109 ralis no saco da experiência com 16 vitórias, sendo o seu momento alto quando esteve ao lado de Thierry Neuville num Hyundai i20 WRC no Rali de Monza em 2019.
A edição 2021 tem uma lista de inscritos absolutamente fabulosa com 81 equipas.
Depois do que fez na Croácia, Adrien Fourmaux conquistou Richard Millener e Malcolm Wilson. A sua excelente exibição e o generoso contributo da Red Bull abriram o sorriso dos responsáveis da M-Sport Ford World Rally Team e o francês que estudava para ser médico volta a sentar-se no Ford Fiesta WRC, relegando, uma vez mais, Teemum Suninen para o Ford Fiesta Rally2. Gus Greensmith vai fazer o segundo rali do ano com o experiente Chris Patterson, esperando que os troços em terra lhe tragam mais confiança e ritmo.
WRC2 animado e WRC3 com portugueses
Entre os concorrentes do WRC2, Mads Ostberg estará presente com o Citroen C3 Rally2 e irá lutar pela vitória com Andreas Mikkelsen (Skoda Fabia Evo), Marco Bulacia (Skoda Fabia Evo), Teemu Suninen (Ford Fiesta Rally2), Nikolay Gryazin (VW Golf GTI Rally2) e Esapekka Lappi (VW Golf GTI Rally2), de regresso ao mundial depois do Rali do Ártico.
A Hyundai terá um carro oficial no WRC2, um i20 Rally2 para Ole Christian Veiby e outro para Oliver Solberg (que estará de regresso ao i20 WRC na Sardenha). A M-Sport Ford promove o regresso de Martin Prokop ao Mundial com um Rally2 e entrega carro idêntico a Tom Kristensson, jovem piloto do Mundial Júnior.
No WRC3 são muitos os candidatos à vitória e é nesta categoria que encontramos os portugueses protagonistas do Campeonato de Portugal de Ralis. Armindo Araújo, Ricardo Teodósio, Bernardo Sousa, Miguel Correia, Paulo Neto e Diogo Salvi, todos ao volante de diversas evoluções do Skoda Fabia Rally2. Bruno Magalhães estará ao volante do Hyundai i20 Rallye2, José Pedro Fontes e André Villas Boas (o treinador de futebol) vão pilotar os Citroen C3 Rally2 da Sports &You, equipa que fornece o C3 para Eric Camilli. Pedro Meireles estará ao volante do VW Polo GTi Rally2
Habituais no Mundial de Ralis na categoria WRC3, Yohan Rossell e Nicolas Ciamin vão estar ao volante dos Citroen C3 Rally2, Kajetan Kajetanowicz, Emil Lindholm e Chris Ingram vão utilizar o Skoda Fabia Evo.
A lista de inscritos para o Rally de Portugal 2021 é completada com os carros do Troféu 208 com 17 formações entre portugueses e espanhóis.
O horário e as classificativas da edição 2021
Como habitualmente, a prova terá o Parque de Assistência (Service Park) na Exponor, em Matosinhos, com a cerimónia protocolar de abertura da prova a realizar-se em Coimbra.
Seguem-se três etapas com muitos quilómetros de troços. A primeira etapa, na sexta feira, andará pelos troços da zona de Arganil com a dupla passagem por Lousã (12,35 km), Góis (19,51 km) e Arganil (18,82 km). As duas passagens são separadas por um serviço remoto de pneus em Arganil– Lousã, Góis e Arganil perfazem 50,86 km e as duas rondas significam 101.36 km de troços – seguindo-se os 18,16 km de Mortágua.
Prova especial de classificação que regressa ao Rali de Portugal após mais de 20 anos de ausência, fechando esta primeira etapa com a Super Especial de Lousada com dois carros lado a lado em competição direta. Serão 8 provas especiais de classificação num total de 122,88 km contra o cronómetro.
No sábado, segundo dia de prova, o Rally de Portugal 2021 dirige-se para a zona da Cabreira e os concorrentes vão disputar 7 classificativas num total de 165,16 km de troços. Um dia demolidor com a dupla passagem por Vieira do Minho com 20,64 km, Cabeceiras de Baston com 22,37 km e o impressionante troço de Amarante com 37,92 km, a maior especial do rali. Entre as duas rondas (cada uma com 80,93 km) haverá um serviço remoto mecânica e pneus. O dia termina nas ruas do Porto com a Superespecial com 3,36 km.
O Rally de Portugal 2021 irá para a estrada na quinta feira 20 de maio com o “shakedown” entre as 9.00 e as 15.00 horas. A cerimónia de partida será em Coimbra às 20.30.
Domingo será o último dia de prova, destacando a zona de Fafe onde os pilotos vão cumprir 58,22 km (sem assistência), a dupla passagem por Felgueiras (9,18 km), Montim (8,75 km) e Fafe (11,18 km), sendo que a mítica especial servirá de Powerstage.
Contas feitas, o Rally de Portugal 2021 terá 377,51 km de troços e 1514,07 km de ligações, uma prova longa e dura que terá como destaque, para lá do regresso do troço de Mortágua 20 anos depois ou a longa especial de Amarante com quase 38 km, a classificativa de Fafe.
Está mais curto que no passado com apenas 11,18 km, mas a emoção é a mesma e o catalisador de público é o mesmo: 2 km de pura magia onde se vão aglomerar milhares de espetadores, primeiro no alto do Confurco para verem a descida até à estrada nacional com um ganho à esquerda e outro à direita onde os pilotos fazem questão de dar espetáculo e, depois, o salto da Pedra Sentada onde os carros voam… literalmente.
A emoção do Rally de Portugal 2021 começa na sexta feira dia 21 de maio com saída de Coimbra e ligação para a zona de Arganil a partir das 6h30, terminando a prova na Exponor às 20 horas. O dia de sábado começa bem cedo às 6h15m e termina já bem tarde. O dia de domingo arranca às 05h45m e termina com o pódio na Power Stage e, depois com o pódio final em Matosinhos ás 15h45m. O programa completo pode ser consultado aqui.