Muitos dos objetos que hoje consideramos “normais” foram, aquando da sua primeira aparição, coisas estranhas. Se ousar pensar diferente é, muitas vezes, um risco, ousar fazer é um ato de bravura. Este Citroën AMI é isso mesmo. É uma “coisa” diferente, para mentalidades diferentes e mobilidades diferentes. Mas será que vai criar um futuro diferente?
A proposta da Citroën é arrojada. E, quer se goste ou não goste, não passa desapercebida (prova foram os muitos olhares curiosos quando nos fizemos à estrada nas ruas da capital). As vendas são feitas 100% online e até pode começar o processo no site da FNAC! Conduzi-lo é uma experiência única. Mas já lá vamos….
100% elétrico, 75 km autonomia
O Citroën AMI tem uma bateria de 5,5 kWh de iões de lítio que se recarrega em apenas três horas numa tomada normal de 220v, como qualquer telemóvel. O cabo está escondido na ombreira da porta do passageiro, bastando puxar para chegar à tomada, como se fosse o cabo de um aspirador comum. Infelizmente, ao contrário do que acontece com a maioria destes pequenos eletrodomésticos, não tem um enrolador automático, sendo necessário voltar a introduzir o cabo manualmente. Já para carregar “fora de casa” a Citroën disponibiliza um adaptador (opcional) para carregar na via pública.
Aliado a um motor de 6 kW, o AMI permite velocidades até 45 km/h e 75 km de autonomia com uma carga. Parece pouco para um carro? Parece, só que o AMI não é um carro!
“Hoje é um dia especial, o dia em que apresentamos uma solução revolucionária de mobilidade urbana.”
Jorge Magalhães, Diretor de Comunicação Citroën
Atenção! O Citroën AMI não é um carro!
E, como tal, não o podemos comparar com um. O AMI encaixa-se numa categoria só dele, apresentando-se como o “elo perdido” entre as trotinetes, bicicletas e motociclos elétricos e um SMART. Um passo evolutivo com grandes argumentos de robustez, segurança, conforto e capacidade de carga face às soluções de duas rodas. Só perde (por alguns centímetros) no capítulo do estacionamento.
Surpreendentemente, o AMI é um quadriciclo ligeiro que podemos conduzir a partir dos 16 anos e carta B1. Nesse sentido, não pode circular em Vias Rápidas nem Autoestradas. Sem dúvida que foi desenhado exclusivamente para viver no habitat natural das metrópoles.
O Citroën AMI por fora
Esta proposta “fora da caixa” da marca francesa não deixa passar a ironia de ser um veículo que parece, precisamente, uma caixa! Com apenas 2,41 m de comprimento, 1,39 m de largura e 1,52 m de altura, o AMI é ultracompacto. E, com um diâmetro de viragem de 7,20 m e rodas de 14”, as manobras tornam-se simples e fáceis.
No AMI, a simetria é a palavra-chave e, através processo de construção muito inteligente, resulta num veículo que tem apenas 250 peças e pesa 470 kg já com a bateria!
Por exemplo, as portas do condutor e do passageiro são peças idênticas, o que faz com que abram em direções opostas, e resulta numa poupança de logística e armazenamento quando chegámos ao fabrico e ao pós-venda. Também os para-choques frontais e traseiros e as janelas laterais seguem esta dinâmica de construção.
Com os kits disponíveis, podemos receber em casa uma caixa com um kit de personalização à nossa escolha.
O Citroën AMI por dentro
O habitáculo fechado e aquecido traz uma nova camada de conforto e segurança a este tipo de veículos. A sensação de espaço interior é amplificada pela luminosidade que entra pelas janelas (que abrem para cima como no “velhinho” 2CV) e pelo tejadilho panorâmico (de série).
As portas são largas e permitem o acesso fácil ao interior. O espaço para ambos passageiros é amplo, tanto em largura como altura. Apenas o banco do condutor é regulável no comprimento. Todo o habitáculo está preparado para oferecer uma simplicidade funcional, com vários espaços de arrumação, profundamente eficaz para o propósito.
O mostrador não causa qualquer distração, mostrando apenas a velocidade, a autonomia e o odómetro. Tudo para que o foco seja na condução.
Já a versão comercial, o AMI Cargo, troca o lugar do passageiro por uma mala com 260 l capaz de acomodar uma carga de 140 kg, e um tampo de trabalho para criar um verdadeiro “escritório sobre rodas”.
Liberté, électricité, mobilité
Todo o processo de compra do carro é feito online no site do AMI mas pode ser feito num concessionário da marca e também ser iniciado no site da FNAC (pode ainda encontrar o carro fisicamente em 4 destas lojas, Amoreiras, Braga, Viseu e Santa Catarina).
Ao fazer a compra no site, pode depois escolher receber o AMI em casa (com um custo de entrega de 200€) ou num concessionário (com um custo de 100€). Em ambos os casos, terá um representante da marca a acompanhar a entrega e a realizar uma explicação do produto. Se iniciar e completar o processo num concessionário, poderá levantar o AMI sem custos de entrega adicionais.
Por outro lado, através da APP My Citroën é possível ligar-se ao AMI, encontrando, entre outras funcionalidades, as habituais informações de estado de carga e tempos de carregamento.
Preços e Versões
O Citroën AMI está igualmente disponível em cinco versões. Como resultado, temos as versões chave na mão AMI AMI, AMI POP, AMI VIBE e AMI CARGO. Da mesma forma existem as versões personalizáveis AMI Color.
Os preços começam nos 7350€ da versão AMI AMI, e vão até aos 8710€ da versão Vibe. Pelo meio temos os 7750€ das versões AMI Color e AMI Cargo e os 8250€ da versão Pop. Todos os preços já incluem IVA e, tratando-se de um veículo elétrico, passíveis de ser elegíveis para os diferentes apoios existentes. Já a marca oferece as despesas inerentes à matriculação do AMI.
Ao volante, na cidade!
Nesta primeira experiência a bordo do AMI, realizámos pouco mais de 20 km na cidade de Lisboa, que nos levaram a percorrer tanto as grandes avenidas como as ruas mais estreitas da cidade.
A primeira coisa que salta à vista é a facilidade com que nos movimentamos pelas ruas. O AMI é muito fácil e intuitivo de conduzir, deixando-nos sempre com uma sensação de confiança enquanto circulamos ao lado de automóveis de maiores dimensões. A aceleração é muito eficaz e permite rapidamente atingir as velocidades necessárias para todas as deslocações na cidade.
A visibilidade frontal é excelente, apesar de a distância ao vidro da frente sobretudo com o banco todo encostado para trás complicar um pouco a visibilidade a três quartos para os semáforos. Seja como for, nada como aprender a parar no sítio certo para resolver esta questão.
Com os vidros fechados, o ruido fica, quase, todo lá fora, reforçando o conforto, fiando só a faltar a companhia do rádio, que não existe (na loja online do AMI pode comprar uma coluna de som Bluetooth adaptada ao carro).
Em virtude do pouco tempo que tivemos ao volante do AMI, ficou por testar a facilidade de estacionamento e o comportamento do AMI à chuva, em piso molhado, sobretudo nas ruas de calçada. Mas isso ficará certamente para uma segunda experiência.
Primeiro estranha-se, depois entranha-se
Por fim, desligando do chip dos automóveis, e pensando no que é navegar as ruas da cidade em duas rodas, a sensação de segurança e conforto do AMI abrem as portas para um novo futuro de mobilidade. Um que ainda tem muito espaço para crescer.
Para além disso, são estes “primeiros” passos que mudam as coisas. Fazem-nos repensar a forma como nos deslocamos e trabalhamos. De tal forma que, se fosse só por isto, o Citroën AMI já era muito bem-vindo a Portugal.