Decide-se amanhã a 44ª edição da maior aventura todo o terreno do mundo. A luta pela vitória à geral no Rali Dakar faz-se entre Nasser Al-Attiyah, na Toyota Hylux GR DKR, e o nove vezes campeão do mundo de ralis, Sebastian Loeb, aos comandos do BRX Hunter. A vantagem pende, significativamente, para o catari. Espera-se, por isso, mais um dia de luta intensa onde, sendo o Dakar, tudo pode acontecer!
E por tudo poder acontecer, fazemos hoje uma viagem ao passado.
Um roubo, à vista de todos no Dakar
O ano era 1988, o rali Paris-Alger-Dakar percorria as paisagens africanas em direção à capital senegalesa, com Ari Vatanen na liderança no seu Peugeot 405 T16. Um rali sem percalços, controlado desde terras francesas pela Peugeot, onde Juha Kankkunen fazia a função de aguadeiro de luxo com o 205 T16 do ano anterior. Esse controlo, no entanto, acabou na madrugada de 18 de janeiro, quando se preparava o arranque da 14º etapa que ligava Bamako a Kayes.
O que aconteceu foi que recebi uma chamada no meu quarto de hotel às 7:15 da manhã. A recepção passou-me a alguém, que passou a outra pessoa, aparentemente europeu. Essa pessoa afirmava: Temos o carro do Vatanen, venham de Táxi em 15 minutos com 25 milhões de Francos.
Jean Todt
Foi desta forma que Jean Todt, à data diretor da estrutura Peugeot, ficou a saber do rapto do Peugeot 405 e o respetivo resgate que, hoje, representaria cerca de seis milhões de euros. ??
Nessa noite, o parque fechado (Parc Fermé), fez-se num campo de futebol sem, propriamente, um grande controlo de acesso. Qualquer pessoa podia entrar e sair, o que levou a que muitos vissem mesmo o carro do finlandês a sair do recinto por volta das quatro horas da manhã, assumindo, que se tratava de um qualquer mecânico da equipa a efetuar reparações.
Assim, o pelotão formou-se naquele dia, à partida da etapa, inacreditavelmente, sem a presença do líder do rali.
Depois da tempestade, meia bonança
O carro viria a ser encontrado algumas horas mais tarde, em perfeito estado, num descampado nos arredores da capital maliana.
Depois de ser trazido até Vatanen, o finlandês completou ainda a etapa, reforçando a liderança. No entanto acabaria por ser desclassificado, por ter ultrapassado a hora limite para o início da especial.
A vitória ficou assim, para o compatriota e colega de equipa, Kankkunen, no Peugeot 205.
A responsabilidade do ato nunca foi apurada, sendo ainda hoje um mistério o que realmente aconteceu com o Peugeot. Inevitavelmente, foram surgindo algumas rebuscadas teorias da conspiração, chegando-se até a sugerir que tinha sido a própria equipa a “roubar” o carro para efetuar reparações com mais tempo. Teorias há muitas, certezas nem tantas…
Uma história à Dakar para recordarmos o quão especial e imprevisível esta odisseia no deserto, realmente é.
O campeão mundial de rali de 1981, voltaria a alinhar com o Peugeot 405 T16 raptado vencendo as duas edições seguintes, em 1989 e 1990, a primeira delas, imagine-se, atirando uma moeda ao ar! Mas esta história, fica para outra altura.