A quinta etapa do Dakar 2022 foi o palco para a estreia de Henk Lategan a vencer etapas na competição mesmo com uma porta do lado do piloto a teimar em manter-se aberta ao longo dos 346 km de especial. Tudo parecia encaminhado para mais uma vitória de Sebastien Loeb porque o piloto do BRX Hunter chegou ao final da etapa quase três minutos de avanço para Nasser Al-Attiyah, que devido à vitória de ontem abriu a pista. O piloto da Toyota Hilux GR DKR continuava com um sorriso nos lábios por manter uma robusta vantagem para o francês e não vai abrir a estrada amanhã.
Essa dificuldade acabou por ficar no colo de Henk Lategan. O sul africano, um dos maiores azarados do pelotão – depois do acidente do ano passado que o tirou cedo da corrida, este ano foram as rodas traseiras que insistem em se separar da Hilux a atrasá-lo definitivamente – conheceu uma etapa sem problemas.
Assim sendo, o piloto da Toyota andou como sempre e, no final, acabou recompensado com a sua primeira vitória em especiais do Dakar, batendo Loeb por 1m58s. Apesar disso, Henk Lategan está, apenas, no 45º lugar a 9h24m58s do líder.
Luta pelo pódio
Na luta pelo pódio deste Dakar 2022, Yazeed Al-Rajhi voltou a atrasar-se, mas desta feita para auxiliar Yazir Seaidan, depois de forte despiste deste. Depois de perder a especial de ontem devido a um excesso de velocidade penalizado com dois minutos, hoje perdeu muito tempo sendo apenas 24º na etapa a 22m21s do vencedor. Mas recuperou 11m37 segundos devido a ter parado para ajudar Seaidan. Com isto voltou a sair do pódio por troca com Lucio Alvarez (Toyota Hilux T1+) que foi terceiro na etapa, mas está apenas a pouco mais de 4 minutos.
Carlos Sainz voltou a ter problemas no Audi RS Q e-tron, desta feita com a suspensão a ceder após 201 km de especial. Felizmente para o espanhol, Stephane Peterhansel está apenas a cumprir o desenvolvimento do carro em prova.
Ao ver o Audi de Sainz parado, usou os seus recursos e os de Edouard Boulanger como mecânicos para ceder a suspensão do seu carro e assim devolver Carlos Sainz e Lucas Cruz à competição. Peterhansel chegou ao final da etapa com 3h05m37s.
Os espanhóis perderam mais 1h03m54s e enterraram, definitivamente, as possibilidades de chegar ao Top 10 ao sair do Top 20 e ficando a mais de uma hora do 10º lugar.
Na geral, Nasser Al-Attiyah continua a “passear” o impressionante Toyota Hilux GR DKR T1+ com 35m10s de vantagem para o BRX Hunter de Sebastien Loeb, estando agora no terceiro lugar a Toyota Hilux GR V8 de Lucas Alvarez.
Dizer que Al-Attiyah escapou, por pouco, à exclusão deste Dalar 2022. A equipa esqueceu-se de ligar o sistema remoto que monitoriza a pressão do turbo do motor V6 da Hilux GR DKR. O que configura uma ilegalidade. Mas como foi a equipa que relatou o problema ao colégio de comissários, tudo acabou com uma pena suspensão de exclusão e uma multa de 5 mil euros.
Já Giniel de Villiers teve muito mais sorte. Repetindo o episódio de atropelar uma moto sem acautelar o bem-estar físico do “motard” – felizmente estava fora da moto que ficou destruída – o sul africano foi penalizado em cinco horas – apesar de ter dito que andou em círculos até se aperceber que estava tudo bem com o piloto que, como referimos, não estava na moto – e condenado a pagar o arranjo da moto e a pagar a inscrição do piloto em 2023.
Com esta penalização, De Villiers caiu para 35º e o vencedor da edição de 2009, com um VW Touareg, terá dito adeus a um regresso ao Dakar em 2023, pois o sul africano tem acumulado más prestações nunca sendo um protagonista na luta pela vitória.
Portugueses no Dakar 2022
Quanto aos portugueses neste Dakar 2022, depois do abandono de Benediktas Vanagas e Filipe Palmeiro após violento capotanço, sobram Paulo Fiúza ao lado de Vaidotas Zala e Miguel Barbosa.
O primeiro foi 19º na etapa a pouco mais de 17 minutos do vencedor da etapa, estando agora num excelente 11º lugar da geral, com o Mini JCW a pouco menos de três minutos do décimo lugar do Century Buggy de Mathieu Serradori.
Para Miguel Barbosa e Pedro Velosa, as coisas continuam pouco sorridentes e o piloto da Toyota Hiliux V8 não foi além de um 42º lugar na etapa a 54m56s do vencedor, o que corresponde a um 36º lugar à geral a 6h43m11s.
Kamaz domina entre os camiões
Ontem não conseguiram os quatro primeiros lugares, hoje os Kamaz fizeram um (Karginov), dois (Sotnikov), três (Shibalov), quatro (Nikolaev), deixando o melhor dos outros, Janus van Kasteren (Iveco) a 6m47s. Na geral, temos Dmitry Sotnikov na frente de Eduard Nikolaev (a 9m53s) e Anton Shibalov (a 26m27s). Janus van Kasteren e Ales Loprais (Praga) impedem que Andrey Karginov faça o pleno para a Kamaz.
O neerlandês da Iveco já está a 52m16s e o checo segue a 1h01m13s. Ou seja, a vitória está entregue desde o primeiro metro do Dakar 2022.
Dia agridoce para os portugueses nos LW Proto e nos SSV
Se nos SSV o dia foi excelente para Luís Portela de Morais e David Megre, sétimos na etapa a 14m07s, dando um salto na classificação geral do 12º para o 9º lugar a 2h43m05s, para Mario e Rui Franco, o dia foi menos risonho. Depois de um dia em que o veículo chegou ao final do dia quase destruído, os dois portugueses decidiram ser mais cuidadosos, mas não evitando alguns problemas que redundaram num 27º lugar na tirada a 1h23m18s. Caíram de 6º para o 9º posto da geral, a 4h34m39s, a 11 minutos de Camelia Liparoti e com Pavel Lebedev a 6 minutos. Rui Oliveira e Fausto Mota estão no 18º lugar da geral dos SSV, a 4h34m05s.
Nos LW Proto, a vitória na etapa foi, pela quarta vez em cinco tiradas, para Seth Quintero, seguido de Francisco Lopez Contardo que reforçou a liderança da categoria, agora com 22m16s para Sebastian Eriksson e 2h05m38s para Philippe Pinchadez. Cristina Gutierrez está no 5º lugar, Camelia Liparotti é 8ª, Merce Marti é 20ª e Annet Fischer é 24ª. Uma forte armada feminina nos LW Proto. Quem já não está em prova é o campeão do Mundo WRC2, Andreas Mikkelssen. Acompanhado por Ole Floene, o seu navegador de sempre, ficou pelo caminho com o seu OTR3.
Já entre os SSV, vitória na etapa para Rodrigo Luppi de Oliveira, seguido de Marek Goczal e Sergei Kiriakin. Na geral, o brasileiro continua a dar nas vistas e ultrapassou Austin Jones (foi apenas 4º a mais de 8 minutos do vencedor da tirada), sendo agora o líder com pouco mais de 4 minutos de vantagem. O terceiro é Michal Goczal a 22m25 segundos. Molly Taylor continua em prova no 21º lugar.
Petrucci venceu nas motos, portugueses pouco felizes
A vitória entre as motos na especial de hoje foi para o australiano Toby Price, mas o destaque tem de ser dado, uma vez mais, a Danilo Petrucci. O piloto italiano do Moto GP está a cumprir a sua estreia no Dakar, teve de abandonar uma especial com a moto a ser levada para o acampamento por helicóptero, mas regressou ao abrigo das novas regras. E depois de uma penalização de 10 minutos infligida ontem, o italiano voltou a mostrar que está revestido de talento para ser segundo a apenas 4m14s de uma das “raposas velhas” do Dakar.
Mas, quando já estava no acampamento, uma penalização de 6 minutos foi aplicada a Toby Price por excesso de velocidade, surpreendeu-o oferecendo-lhe a vitória. A primeira de um piloto do Moto GP no Dakar.
Dizer que a etapa para as motos foi interrompida porque os acidentes com alguns pilotos de motos, Quad e Dakar Classic pressionaram os serviços de assistência médica de tal forma que não foi possível assegurar a segurança da corrida. Os automóveis não foram afetados porque estavam em outro percurso e com recursos de assistência médica próprios.
Contribuintes para esta situação foram Joan Barreda Bort que voltou a cair entre os kms 265 e 270, e Skyler Howes. O espanhol, depois de uma queda que magoou o braço ontem, desta feita foi o ombro a ficar lesionado e a decisão sobre o abandono de Joan “Bang Bang” Barreda será tomada antes da partida para a etapa de amanhã.
Quanto ao norte americano caiu, bateu com a cabeça e não se lembrava de nada do acidente. Chegou ao final da etapa com ferimentos num tornozelo e num ombro, que dizia o americano desconhecer como os fez. Devido a isso, os médicos da organização decidiram não dar luz verde para o piloto da Husqvarna continuar em prova.
Na classificação geral do Dakar 2022, Mathias Walkner (KTM) ganhou uma mão cheia de segundos a Sam Sunderland (GasGas) e a Daniel Sanders (GasGas), numa etapa onde os cinco primeiros da geral nunca estiveram em luta pela vitória.
Assim, Sam Sunderland lidera com 2m29s para Walkner, 5m59s para Adrien Van Beveren e 8m01s para Sanders, sendo o quinto classificado o norte americano Skyler Howes (Husqvarna) a 13m36s. Lorenzo Santolino caiu para 6º a 15m27s.
António Maio (Yamaha WR 450), ausente em 2010, está de regresso ao Dakar e na etapa de hoje andou a namorar com o Top 10 da etapa. O 27º classificado do Dakar de 2020 e sete vezes vencedor da Baja de Portalegre, estava em busca de um lugar no Top 15 e ser o melhor privado. Acabou por ser 16º na etapa a 09m34s e na geral está, apenas, no 23º posto a 1h23m52s depois de conhecer alguns problemas nesta primeira fase da prova. Está a pouco mais de 43 minutos do Top 15.
O melhor português é Joaquim Rodrigues que com a sua Hero foi 19º na etapa a 12m59s do vencedor da tirada, voltando a perder lugares na classificação geral onde ocupa o 20º lugar a 1h09m35s.
Quanto a Rui Gonçalves (Sherco), depois do pódio de ontem ficou em 27º na etapa a 17m10s, ocupando o 33º posto da geral a 2h16m29s. Mário Patrão foi o 38º na tirada de hoje, estando posicionado no 57º lugar a 5h30m23s. Alexandre Azinhais está no 73º lugar, Arcélio Couto segue no 82º posto e Pedro Bianchi Prata manteve o lugar 105.
Finalmente, nos Quad, o americano Pablo Copetti perdeu 41 minutos para Alexandre Giroud e o francês assenhorou-se da liderança da categoria. Amanhã voltamos a ter um “loop” com partida e chegada a Riade, após 620 quilómetros, dos quais 404 km serão contra o cronómetro. Será o fecho da primeira semana deste Dakar 2022 e a derradeira tirada antes do dia de descanso (sábado em Riade). Desta feita o percurso segue para oeste da capital da Arábia Saúdita, sendo muito complicado em termos de navegação devido a muitos cruzamento e pistas paralelas na primeira parte da etapa. Depois surgem as primeiras dunas que é o preambulo de uma cordilheira infernal de 40 km. A parte final é veloz e permitirá aos mais audazes recuperar algum tempo.