Nesta entrada do nosso Diário de Bordo do Ano Elétrico, seguimos então rumo até à cidade mais alta de Portugal Continental. Isto, depois do nosso Volvo XC40 ter dado as boas vindas a uma nova geração. Partindo da capital, importa primeiro fazer algumas considerações e apresentar o contexto da viagem.
Começamos pela mais óbvia de todas, a distância. Temos pela frente quase 330 km de distância. Já o nosso Volvo XC40 P8 Recharge anuncia uma autonomia WLTP de 420 km, mais do que suficiente, certo? Mas, para responder a isso, importa perceber o que é o Ciclo WLTP.
O que é o Ciclo WLTP?
O WLTP (Worldwide Harmonized Light Vehicles Test Procedure) obriga a realizar um teste de estrada designado por RDE (Real Driving Emissions). Assim, o veículo vai equipado com o Sistema Portátil de Medição de Emissões (PEMS).
O objetivo deste protocolo de homologação é comparar todas as ofertas no mercado sob o mesmo padrão de medição. Ao contrário do anterior sistema, este permite apurar um valor de consumo mais realista, baseado numa representação mais próxima das condições reais de condução.
O teste WLTP dura 30m, numa distância de 23,25km, 52% em percurso urbano e 48% extra-urbano, a uma velocidade média de 46,5km/h e temperaturas entre os 14ºC e os 23ºC.
Nestas circunstâncias, o Volvo XC40 P8 Recharge oferece uma autonomia máxima de 420 km. Mas, apesar dos valores WLTP se aproximarem bastante ao de uma utilização quotidiana, urbana e suburbana, de um veículo elétrico, em viagens longas o desafio é muito diferente! E, naturalmente, as expetativas não são iguais.
Um teste (real) à autonomia
Vamos por partes. Em pleno inverno, as temperaturas são inferiores àquelas a que se realiza o teste WLTP. Começando nos 12ºC quando partimos de Lisboa, baixando até aos 5ºC quando nos aproximamos da Guarda. Só por si, estas temperaturas vão reduzir a capacidade da bateria, forçando a consumos mais elevados.
Depois temos a velocidade média. No Ciclo WLTP é de 46,5km/h. Nesta viagem, praticamente toda em autoestrada, será mais do dobro. Um fator que irá reduzir em muito a autonomia da bateria. Mais ainda, ao manter essas velocidades por mais de 300 km, em vez dos cerca de 25 km do teste WLTP.
Por último, nesta viagem iremos subir dos dois aos 1000m de altitude. Certamente, a ingreme subida à cidade da Guarda num SUV de linhas frontais retilíneas que não favorecem especialmente a aerodinâmica a “altas velocidades” desempenhará o seu papel nos consumos.
Neste contexto, como se comportará este XC40 Recharge? Bom, no papel, os números não são favoráveis e dizem-nos que é provável que não seja possível fazer muito mais de 220 km com uma carga de bateria. Será? Vamos lá então descobrir!
Planear a viagem no computador de bordo
Usando o sistema Google Maps integrado do Volvo, introduzimos o nosso destino. O sistema alerta imediatamente que não será possível fazer a viagem sem efetuar uma paragem para carregar. De uma forma simples e fácil de usar, este sistema apresenta automaticamente as várias hipóteses de carregamento ao longo do percurso. Também nos indica o tempo de carga necessário e calcula o tempo total necessário para a viagem.
As previsões não são as melhores. Segundo os cálculos do carro iremos demorar 3:54m a completar a nossa viagem. No entanto podemos ver que o carro sugere uma chegada à Guarda com 27% de bateria. Contudo, só precisamos de chegar com 10%. Por isso, temos alguma margem de manobra. Mas tudo irá depender da prestação e dos consumos do carro até lá.
Selecionamos a Área de Serviço de Abrantes, na A23. Sensivelmente a meio caminho e sem necessidade de nos desviarmos do trajeto principal. Aqui temos disponível um carregador rápido de até 50 kWh. Apesar de o Volvo permitir carregamentos até 150 kWh, o único disponível no trajeto fica na Área de Serviço de Santarém na A1 (demasiado perto do ponto de partida, reduzindo de forma considerável a eficiência do carregamento).
Os consumos em autoestrada
Assim, partimos com o Volvo carregado a 100% e uma temperatura de 12ºC. Ao entrarmos na autoestrada, rapidamente os valores do consumo sobem. Dessa forma, chegámos a Abrantes com média de 27,9 kWh/100km e 47% de bateria. Demorámos 1:28h a uma velocidade média de 106 km/h. Estão agora apenas 6ºC. Percorridos 152,4 km de viagem, ainda temos pela frente cerca de 170 km e a subida para a cidade da Guarda.
Carregámos apenas 25m, a 50 kWh (menos 30 minutos do que o Google sugeriu ao início). Tempo para tomar um café e comprar os jornais do dia. Saímos agora com a bateria a 80%, com previsão de chegar à Guarda ainda com 13%.
Subir até à cidade da Guarda
A ingreme subida nos últimos quilómetros da viagem reflete-se nos consumos. Chegámos à cidade da Guarda com 4ºC e uma média de 28,7 kWh/100km. Percorremos 327,3 km, a uma média de 110 km/h. A viagem demorou um total de 3:28h (2:58h de condução e 30 minutos no total da paragem para carregar).
Na verdade, demorámos praticamente o mesmo tempo que num veículo a combustão com uma paragem para café pelo caminho.
No entanto, importa referir que quando chegámos a Abrantes não havia outro veículo a ocupar o posto de carregamento. Bastaria um para que a nossa paragem se prolongasse significativamente. Um problema cada vez mais recorrente com o aumento do número de veículos elétricos a circular e a manifesta falta de postos de carregamento espalhados pelo país.
Uma viagem praticamente normal
Mesmo com todas as condições a desfavor, o Volvo XC40 P8 Recharge superou as expetativas. Esta viagem, de Lisboa à Guarda, 100% elétrica foi, essencialmente, normal. Neste que foi um cenário desfavorável para o desempenho de um automóvel elétrico, ainda assim teríamos conseguido percorrer 260 km em autoestrada com uma carga completa.
Curiosos com estes resultados, fomos ver o que muda ao viajar em condições mais favoráveis e tendo à disposição carregadores mais potentes. E os números contam uma história ainda melhor!
Tomemos como exemplo a mesma viagem, mas em sentido contrário, da Guarda a Lisboa. Mas o que muda? Bem, primeiro é um percurso a descer, desde os 1000m de altitude da cidade da Guarda até ao nível do mar em Lisboa. Depois, podemos carregar na A1, na Área de Serviço de Santarém, por exemplo, onde já temos disponível um carregador de 150 Kwh (o triplo da velocidade do que estava disponível em Abrantes).
Além da velocidade, também as condições de temperatura exterior e inclinação do percurso, têm impacto na performance dos automóveis elétricos.
Numa das viagens Guarda-Lisboa que realizámos, a uma média de temperatura de 15ºC, chegámos com média de 25,2 kWh/100km e demorámos um total de 3:12h (2:56h de viagem e apenas 16m numa breve paragem para carregar). O carro estava pronto para seguir e nem tivemos tempo de pedir um café! A uma velocidade média de 112 km/h, demorámos praticamente menos 20m que na direção oposta e teríamos feito 290 km de autoestrada com uma carga completa.
Ou até, numa das viagens que fizemos ao Alentejo, percorremos 331,4km com uma carga completa! Maioritariamente também em autoestrada, fizemos média de 22,7 kWh/100km a uma velocidade média de 86 km/h. Mas sobre essa viagem, falaremos numa próxima entrada deste diário!
Quanto custou esta viagem até à Guarda?
Neste capítulo os pontos positivos não param de somar. Primeiro, porque o XC40 P8 Recharge, mesmo com tração integral, paga apenas Classe 1 nas portagens. Um benefício da sua natureza elétrica que não passa despercebido na fatura. Depois, porque para quem tem a facilidade de poder carregar em casa, o custo do “combustível” elétrico é significativamente mais barato que os combustíveis fosseis.
Contas feitas, o custo da viagem do XC40 P8 Recharge de Lisboa à Guarda foi 23,57€!
Em detalhe, pelos 117% de bateria necessários para esta viagem, pagámos 6,95€ por uma carga completa em tarifa bi-horária em casa, e 16,62€ por mais 33% no posto de carregamento da A23. E ainda nos sobrou 13% de bateria.
No entanto, se todo o carregamento elétrico fosse feito em postos públicos, lentos ou rápidos, o custo subiria a preços bem mais desfavoráveis. Não pelo custo do kWh, mas pelos excessivos custos de ativação e minutos de ocupação dos postos durante a carga.
Sem contar com os valores das portagens, os custos desta viagem num veículo a combustão equivalente a este Volvo XC40 P8 Recharge, seriam, em média, de 38,92€ a gasolina e 31,21€ a gasóleo.
Em jeito de conclusão…
Ficámos agradavelmente surpreendidos com a prestação do Volvo XC40 P8 Recharge. Demorámos apenas mais 30 minutos do que numa viagem a combustão (sem paragens). E, se considerarmos uma paragem a meio caminho para um café, demorámos praticamente o mesmo.
O Pilot Assist funciona bem até 120km/h e torna a viagem muito confortável, tranquila e segura. E tudo com zero emissões e custos reduzidos. Assim, apesar deste nórdico ser especialmente perfeito para uma utilização mais urbana e suburbana, é perfeitamente capaz de nos levar a percorrer o país já sem grandes preocupações de maior. Apenas algum planeamento!