O Rali de Monte Carlo 2023 acabou por não trazer nenhuma surpresa e a nona vitória de Sebastien Ogier foi tão natural como o domínio da Toyota no arranque do Mundial de Ralis 2023. O campeão do Mundo em título, Kalle Rovanpera, melhorou a sua prestação face a 2022, começou o ano com uma espetacular vitória na PowerStage e deixou claro que quer renovar o cetro. Para a Hyundai magra consolação o terceiro lugar de Thierry Neuville na estreia de Cyril Abiteboul como novo responsável máximo da equipa. Próxima prova será o Rali da Suécia.
O Rali de Monte Carlo 2023 não foi a prova que todos esperavam. Ao contrário do que sucedeu durante os reconhecimentos, a neve e o gelo destacaram-se pela falta de comparência. O que transformou a prova monegasca num rali de asfalto convencional. Ainda por cima com “apenas” 325 km de troços e sem as escolhas de pneus a influírem no resultado final, a 91ª edição do Monte Carlo foi um passeio para Sebastien Ogier e para a Toyota.
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Rali de Monte Carlo 2023. Hyundai com dificuldades
Após terminar 2022 com uma excelente vitória no Rali do Japão, na casa da rival Toyota, a Hyundai entrou no chamado “período máquina de lavar”, ou seja, alterou quase tudo e chamou um homem da Fórmula 1 para substituir Julien Moncet. Cyril Abiteboul ficou com o lugar de “team principal” e já deu a cara pela equipa. Pareceu sempre algo enfadado, mas acabou por recolher os cumprimentos da equipa graças ao pódio conquistado por Neuville.
Mas houve mais alterações na Hyundai: Ott Tanak saiu e entraram Esapekka Lappi e Craig Breen, um vindo da Toyota o outro vindo da M-Sport Ford.
Contas feitas, apenas Thierry Neuville deu um ar da sua graça vencendo dois troços em 18 disputados e terminando no terceiro lugar. Mas a linguagem corporal do belga deixou perceber que não fora o furo no Toyota GR Yaris Rally1 de Elfyn Evans e o seu lugar teria sido o quarto posto.
Muita subviragem e dificuldades na gestão dos pneus não permitiram a Neuville verter a superior potência do i20 N Rally1 a seu favor. Um pódio é muito bom e depois da Suécia (onde qualquer um dos homens da frente pode ganhar) será tempo para a Hyundai meter mãos à obra, tal como o fez em 2022.
Por outro lado, Esapekka Lappi terá de elevar o ritmo porque fechar a prova num pálido 8º lugar a quase quatro minutos do vencedor e, ainda por cima, ter ficado atrás de Dani Sordo (piloto em part-time) e de Ott Tanak a quem substituiu na equipa coreana, é mau. Não há outra forma de dizer as coisas. Já Sordo fez o que lhe competia e apesar do sétimo lugar não ser extraordinário, ele sabe o seu papel e os pontos que tem de amealhar para a Hyundai.
Toyota domina sem dificuldades
A equipa liderada por Jari-Matti Latvala entrou em 2023 confiante e com o Yaris mexido… para melhor. Desapareceram as “orelhas” que penalizavam a velocidade do Toyota, as cavas das rodas traseiras foram redesenhadas e o carro pareceu mais veloz que anteriormente.
Atrás do volante, a Toyota continua com as melhores peças: Kalle Rovanpera e Elfyn Evans juntando Takamoto Katsuta e o oito vezes campeão do Mundo, Sebastien Ogier.
Certamente lamentando não se poder confrontar com Sebastien Loeb depois da derrota de 2022, Ogier não teve a mínima dificuldade em reclamar a nona, sim, leu bem, a 9ª vitória no Monte Carlo, desempatando com Loeb.
O francês a fazer a segunda prova com Vincent Landais a seu lado (que preferiu uma época mais curta com Ogier que a temporada toda com Pierre-Louis Loubet) esteve irrepreensível. Ganhou metade dos troços da prova, arrumou com a discussão no segundo dia de prova e conseguiu dar alguma incerteza ao jogar pelo seguro e deixar Rovanpera aproximar-se menos de duas dezenas de segundos.
Seguro, rápido e conhecedor das estradas como poucos, Ogier nem precisou do famoso ataque aos sábados para conquistar uma prova onde nem os Pirelli lhe deram dores de cabeça. Terá sido a vitória mais fácil de Ogier no Monte Carlo!
Rovanpera começou estremunhado, perdeu tempo na primeira noite de prova e ainda deu um toque com a traseira do Yaris. A estrelinha de campeão iluminou-se e o toque teve o condão de acordar o campeão do mundo, permitindo escapar sem problemas de maior. A partir dai percebeu que não iria apanhar Ogier – nem precisava de o fazer pois o francês não está a tempo inteiro no Mundial – e limitou-se a fugir a Neuville.
Sempre que o belga se aproximava, o finlandês estugava o passo e repunha a ordem natural das coisas. Por seu turno, saiu a fava a Elfyn Evans. Um furo atirou-o de segundo para quinto, recuperou até ao quarto posto e pouco mais pode fazer o galês.
A cumprir a sua estreia na equipa oficial, Takamoto Katsuta acabou em sexto com algumas peripécias pelo caminho, ainda assim, suficiente para bater os Hyundai de Sordo e Lappi. Não chegou para Ott Tanak.
Ford precisa de desenvolver o Puma
Para lá do muito azar de Pierre-Louis Loubet e a lentidão própria de um idoso gentleman driver (Jourdan Serderidis), Ott Tanak não esteve ao seu melhor nível. O francês desmontou por duas vezes o Puma Rally 1, a primeira devido a uma falha na direção assistida que o deixou à beira do colapso, acabando o seu esforço elogiado por todos. A segunda por ter escorregado numa placa de gelo, ele que era o segundo na estrada. Acabou por abandonar com uma fuga de água no motor do Ford.
O estónio andou a perceber como se comportava o Puma e num rali onde nada fazia a diferença, apenas o piloto e o carro, Tanak e o Puma não fizeram essa diferença. Ainda por cima, o carro desenvolveu um problema de direção assistida (parece ser crónico nos Puma pois já em 2022 sucedeu várias vezes) empurrando mais para trás o campeão do Mundo de 2019.
Deu um ar da sua graça na PowerStage ao ficar a 0,6 segundos de Rovanpera, depois de muito poupar os pneus Pirelli ao longo da etapa final. Mas ficou evidente que faltam quilómetros de adaptação ao carro e faltam recursos à M-Sport para desenvolver o Puma. Pode ser que resolvido que está o problema do salário de Ott Tanak graças à ajuda da Red Bull (finalmente o estónio faz parte da família Red Bull), o resto dos recursos sejam encaminhados para o carro.
WRC2, a montanha pariu um… Citroën
Oliver Solberg fez o Monte Carlo apenas para fazer mão ao Skoda Fabia RS Rally2, não pontuando. O filho de Peter Solberg andou endiabrado, mas teve um furo e deu um toque que o impediu de ficar na frente do WRC2. Porém, ficou a promessa que Oliver pode fazer “estragos” na categoria.
Por outro lado, Gus Greensmith e Andreas Mikkelson não estiveram presentes. Por isso, Nikolay Gryazin acabou por dar espetáculo no Rali de Monte Carlo 2023, com um andamento que deixou, todos, longe do primeiro lugar. A sua irreverência ao volante acabou por provocar um furo que deixou Yohan Rossel pertinho do russo. O piloto do Citroën da PH Sport acabou por não ter andamento para Gryazin e só deixou tudo para resolver no derradeiro troço devido a mais umas pantominas do piloto russo da Toksport.
Porém, foi fora da estrada que se decidiu o vencedor do WRC2. A equipa de Rossel apresentou um protesto alegando que Gryazin atalhou o percurso. Os comissários aceitaram o protesto e cobriram-se de alcatrão e penas ao penalizar em cinco segundo Nikolay Gryazin por este ter cortado um pouco mais uma curva.
Assim, Yohan Rossel ganhou na secretaria uma prova onde nunca esteve sequer em condições de chegar à vitória, relegando para segundo lugar Gryazin. Uma patetice que, naturalmente, levantou teorias da conspiração evolvendo franceses, colégio de comissários francês, enfim!
Tendo ganho 16 dos 18 troços do rali, a Skoda não levou para casa a vitória na estreia do Fabia RS Rally 2. Ficou a consolação da vitória no WRC2 Challenger com Gryazin. Finalmente, no WRC Masters Cup, vitória folgada para o sexagenário François Delecour na frente do campeão do mundo da classe em título, Mauro Miele.