Renault e Nissan colocam fim nas desavenças e chegaram a acordo para equilibrar a Aliança, algo que a casa japonesa reclamava há algum tempo. Segundo este novo equilíbrio de forças, os dois construtores vão aumentar a cooperação para modelos elétricos e lançar novos projetos na América Latina, Índia e Europa. Contas feitas, a Renault reduz a sua parte na Nissan de 43 para 15% e a Nissan ficará com parte da nova empresa da Renault para veículos elétricos.
Renault e Nissan chegaram a acordo para equilibrar a Aliança, porém, em comunicado conjunto, anunciaram que as propostas vão ser submetidas a aprovação pelos respetivos conselhos de administração. Imediatamente depois da esperada aprovação será feito um anúncio formal.
1 ano de negociações
Recordamos que as conversas sobre este assunto começaram no início de 2022 e têm-se arrastado até esta semana. Finalmente há uma estrutura final do acordo que será afinada e colocada em papel para aprovação ainda esta semana.
As duas empresas referiram ser este acordo uma ponte para “cumprir a ambição de fortalecer os laços da Aliança e maximizar a criação de valor para todas as partes interessadas.”
A proposta final leva a Renault a reduzir a sua participação na Nissan de 43 para 15%, igualando, assim, os 15% da Renault detidos pela Nissan. Assim, ambas as companhias terão votos equivalente a 15% do capital. Ou seja, a Nissan passa a ter direito de voto com conselho de administração da Renault, algo que nunca existiu e que foi pedra de toque para as desavenças recentes.
Por outro lado, a Renault irá transferir 28,4% da sua quota para um fundo gaulês onde os direitos de voto serão neutralizados para a maioria das situações. Porém, no que toca a dividendos e receitas de venda de ações, a Renault mantém os direitos para preservar o valor da participação.
O fundo poderá vender esse capital que lhe será confiado, desde que seja comercialmente vantajoso para o Grupo Renault, podendo o capital ficar estacionado nesse fundo sem haver obrigatoriedade de venda.
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Nissan investe na Ampere
Já a Nissan vai investir na Ampere, um “spin-off” da Renault que vai ocupar-se da mobilidade elétrica e do negócio de software da casa francesa. O volume de investimento da Nissan não foi revelado, mas deverá traduzir-se em 15% do capital da Ampere. Juntar-se-á, assim, à Qualcomm que vai investir na empresa do grupo Renault.
Detalhe: a Ampere é uma divisão que se vai focar no desenvolvimento e comercialização de veículos 100% elétricos que cumpram as regras europeias. Ou seja, o investimento da Nissan permitirá manter modelos com o escudo da marca no Velho Continente e à Renault ter veículos elétricos com a tecnologia Nissan.
Porém, segundo fontes citadas pelo Automotive News Europe, a Nissan e a Mitsubishi vão ter acesso a tecnologia Renault para os seus modelos europeus, mas a Nissan vai continuar a trabalhar sozinha na sua própria tecnologia elétrica.
Nova gestão mais transparente e esquecer Carlos Ghosn
Esta “nova” Aliança desenvolverá novos projetos na América Latina, Índia e Europa com a expetativa de aumentar a penetração de todas as marcas nos respetivos mercados. Enfim, esta alteração da Aliança poderá deixar para trás das costas o episódio Carlos Ghosn. Episódio esse que deixou algum desconforto entre as partes desde a prisão do gestor libanês em novembro de 2018.
Esta mudança será a maior desde que a Renault salvou da bancarrota a Nissan em 1999, ao assumir o controlo da empresa comprando grande parte do seu capital. Por outro lado, trará uma governança mais transparente que vai substituir o RAMA (Restated Alliance Master Agreement) que era outro pomo de discórdia entre a Nissan e a Renault. Resquícios da liderança de Carlos Ghosn.
A cronologia dos eventos principais da Aliança Renault Nissan Mitsubishi
- 1996 – Depois de uma bem-sucedida carreira na Michelin, Carlos Ghosn chega à Renault como vice-presidente executivo. Doze meses depois apresenta um plano de corte de custos e a Renault regressa aos lucros em 1998 com um aumento de três dígitos.
- 1999 – Com dinheiro fresco, a Renault salva a Nissan da bancarrota e, imediatamente, Carlos Ghosn desenha um plano que fará a Nissan regressar aos lucros no final de 2000. O Nissan Revival Plan despede 21 mil pessoas (14% da força de trabalho da Nissan), fecha fábricas e muda a estrutura de liderança da marca. Antes do final de 2000, a Nissan regressa aos lucros e Ghosn é endeusado no Japão.
- 2000 – Naturalmente, Carlos Ghosn passa a CEO da Nissan, mas não deixa a Renault como a Nissan desejava. Mas com a recuperação tão bem sucedida, Ghosn faz o que quer e do lado francês, com a Nissan a contribuir com cerca de metade do lucro anual, também não se levantaram grandes questões.
- 2002 – Carlos Ghosn apresenta o Nissan 180, um plano a três anos que prevê a venda de 1 milhão de veículos em todo o mundo em 2005.
- 2005 – O plano Nissan 180 falha os seus objetivos e Ghosn apresenta novo plano de três anos, enquanto se torna CEO da Renault.
- 2008 – Volta a falhar o plano de Carlos Ghosn e o libanês apresenta um plano ainda mais ambicioso para cinco anos que é abortado rapidamente devido à crise financeira mundial.
- 2013 – Sendo CEO das duas empresas, Carlos Ghosn sonha com a fusão da Renault com a Nissan e nesse sentido é apresentado um plano conjunto de redução de custos e desenvolvimento de produção “low cost”. A convergência vai sendo cada vez maior e em 2014, é apontada uma poupança anual de 10 mil milhões de euros até 2022.
- 2016 – A Aliança recebe um novo membro depois da Nissan ficar com o controlo acionista da Mitsubishi, apanhada num escândalo de falsificação de características para obter benefícios para os seus modelos. Carlos Ghosn passa a ser o CEO da Mitsubishi, passando, assim, a ser o CEO das três empresas.
- 2018 – Choque mundial! Carlos Ghosn é preso no Japão sob a acusação de ter escondido o valor total da sua remuneração e de ter usado dinheiro da Nissan para proveito pessoal. Nega as acusações, mas o mal estava feito e é despedido de presidente da Aliança Nissan Renault Mitsubishi.
- 2019 – O escândalo Ghosn permanece e dentro da Aliança a Renault indica um veterano da Michelin como presidente (Jean-Dominique Senard) e a Nissan. Makoto Uchida ficou como CEO da Nissan. A tensão foi escalando entre as duas companhias e atingiu mais um pico quando Senard quis recuperar a ideia da fusão ou, no limite, aumentar a presença da Renault no capital da Nissan. Algo recusado pelos japoneses. Em dezembro, numa fuga mirabolante dentro de uma caixa de artigos de som num jato particular, Carlos Ghosn foge à justiça japonesa e refugia-se no Líbano onde não pode sair do país, mas está ao abrigo da extradição.
- 2020 – A pandemia de Covid-19 trouxe mais dificuldades e prejuízos às duas empresas, levando o Estado francês a emprestar 5 mil milhões de euros à Renault para assegurar liquidez. Chega a CEO o italiano Luca de Meo em julho e pouco depois, Senard diz que não vai haver fusão pois ambas podem ser eficientes separadas.
- 2022 – Os planos de separar o negócio dos veículos elétricos gizado por Luca de Meo leva a mais um momento de tensão. A Nissan tem receio que a sua propriedade intelectual cai na mão de terceiros devido à presença da Qualcomm. Para investir na Ampere da Renault, a Nissan exige que a Renault fique com apenas 15% do capital da Nissan.