Ott Tanak venceu Rali da Suécia e lidera o WRC 2023 com o Ford Puma da M-Sport que, treze meses depois, volta a ganhar uma prova do Mundial de Ralis. A vitória do Campeão do Mundo de 2019 deixou claro várias coisas: Kalle Rovanpera não vai ter uma passadeira vermelha para reconquistar o título ganho em 2022; a Hyundai continua a dar passos em falso e Abiteboul já deixou clara a sua linha de atuação. Por outro lado a Pirelli sofreu inexplicavelmente problemas de delaminação dos Sottozero. Ou seja, a troca de Craig Breen e de Ott Tanak veio “apimentar” o Mundial pois parecem estar, ambos, nos carros certos.
O Rali da Suécia é o único rali disputado, integralmente, em pisos de neve e gelo sendo, por isso mesmo, um caso à parte e pouco indicativo do momento de forma dos carros. Um pouco como sucede com o Monte Carlo quando tem neve e gelo e nenhum dos dois Sebastien está presente.
Ott Tanak venceu Rali da Suécia
Porém, este Rali da Suécia deixou claro que a Toyota evoluiu o carro num sentido diferente do esperado com a tónica no aumento de performance em alcatrão e manter as qualidades em piso de terra. Talvez por isso o vencedor de 2022, Kalle Rovanpera, não tenha tido lugar no pódio. Por outro lado, fica evidente que o mito das facilidades do finlandês na conquista do segundo título não passa disso mesmo.
Ott Tanak, como já referimos amiúdes vezes, será, provavelmente, o piloto mais completo do Mundial e em forma, motivado e satisfeito com o carro, será o mais perigoso adversário de Rovanpera. Ora, o estónio tem uma equipa aos seus pés, um companheiro de equipa que não lhe faz sombra, bem pelo contrário e tem um carro que está a ser moldado para a sua condução. Resultado?
Uma vitória muito saborosa para o protegido de Markko Martin – com quem tem uma equipa de ralis – após uma luta absolutamente deliciosa com Craig Breen. Ambos conheceram problemas – pneus demandados no segundo dia de prova e pane do sistema híbrido em várias ocasiões para o irlandês – mas Ott Tanak acabou por oferecer a Malcolm Wilson a segunda vitória do Puma. Depois do Monte Carlo de 2022 com Sebastien Loeb retomando, assim, a história de sucesso ao volante dos Fiesta da M-Sport em 2017 – Tanak ganhou a Sardenha e a Alemanha – antes de passar para a Toyota onde foi campeão do Mundo e para a Hyundai onde foi do céu ao inferno.
Hyundai com pés de barro
O irlandês conheceu um 2022 pavoroso. A opinião mantém-se: não é material para vencer o Mundial de Ralis. Mas Craig Breen já justificou o regresso à Hyundai. Desde logo porque, se é verdade que uma “andorinha não faz a primavera”, a exibição na Suécia deixou a prestação de Dani Sordo muito desfocada.
O mais novo recruta da Hyundai Portugal para o Campeonato de Portugal de Ralis andou rápido e seguro, ofuscando, até, Thierry Neuville. Desprezou o belga e apontou baterias a Tanak. Estas acabaram por lhe falhar e a oportunidade de ganhar pela primeira vez uma prova do Mundial esfumou-se. Não seria fácil derrotar Ott Tanak, mas esteve à frente do piloto da M-Sport e não fossem os problemas com os Pirelli e com o sistema híbrido… talvez tudo tivesse sido diferente.
E antes da Powerstage, Cyril Abiteboul arregaçou as mangas e fez um desenho a Craig Breen: ele é piloto “part time” complementa a temporada com a presença em Portugal e tem obrigação de catar pontos para o campeonato de construtores, logo, se está à frente de Neuville, candidato da Hyundai ao título de pilotos, ele tem de sair da frente.
Os erros de Thierry Neuville
E o irlandês, sem perder o sorriso, lá chegou atrasado o suficiente para deixar passar Neuville a caminho do segundo lugar. Com Abiteboul a dizer aos jornalistas que “não gosto de chamar ordens de equipa, é uma questão que discutimos como equipa e fazemo-lo para o bem da equipa.”
O que Abiteboul não sabia é que os pilotos não sabem o que se está a passar com os adversários nos troços (as comunicações via rádio ou telemóvel são proibidas durante o troço) e o plano que adulterava a verdade desportiva virou-se contra a Hyundai. Thierry Neuville voltou a errar – se calhar os cinco vice-campeonatos dizem alguma coisa… – Craig Breen fez o troço com a cautela necessária… e ganhou 1,8 segundos a Neuville.
Regressava, assim, ao segundo lugar por 1,3 segundos e deixava Cyril Abiteboul com um sorriso amarelo. Tinha se exposto e Neuville deixou-o ficar mal. Acontece!
Toyota limita danos
Abrindo a estrada no primeiro dia, Kalle Rovanpera estava quase condenado a ter um papel de assistente da luta pela vitória. Tentou recuperar como fez no Monte Carlo, mas não conseguiu, acumulando pequenos erros ao longo da prova. Na Powerstage não quis ganhar os cinco pontos para não ficar à frente do campeonato e sair na primeira posição no Rali do México, próxima prova do Mundial de Ralis.
Para o vencedor de 2020, Elfyn Evans, o Rali da Suécia foi uma desilusão. Depois do furo no Monte Carlo o ter tirado da luta pelos primeiros lugares, o galês nunca esteve, sequer, perto da luta pelo pódio na Suécia. E teve muita sorte para conseguir um cinzento quinto lugar, vendo Esapekka Lappi perder tempo com um despiste e Takamoto Katsuta capotar e deixar o Yaris GR Rally1 pior que o chapéu de um pobre.
Lappi levou o Hyundai ao 7º lugar e as coisas não estão a correr bem para o finlandês, acumulando pequenos erros e a deixar-se dominar pelos pilotos em “part time”, o que não é simpático para o “wingman” de Thierry Neuville.
Pierre Louis Loubet com o outro Ford Puma da M-Sport esteve bem melhor desta vez e reclamou um sexto lugar que poderia ter fugido quando teve de completar a Powerstage em modo elétrico.
WRC2: domínio de Oliver Solberg
Despedido pela Hyundai Motorsport, Oliver Solberg deu um passo atrás, depois de perceber que a equipa com Ott Tanak e o apoio da Monster Energy no WRC R1 não ia acontecer. Pegou num Skoda Fabia Evo R2 e depois de passar pelo Monte Carlo para “fazer mão ao Skoda” fez pontuação máxima na Suécia sem dar grandes chances aos adversários. Além disso, a mais direta concorrência acabou por conhecer problemas. Solberg venceu na frente de Ole Christian Veiby e de Sami Pajari, com Teemu Sunine apenas em sexto e o campeão em título somente no sétimo posto.
Classificação final
- Ott Tanak/Martin Jarveoja (Ford Puma Rally1), 2h25m54,5s;
- Craig Breen/James Fulton (Hyundai i20 N Rally1), a 18,7s;
- Thierry Neuville/Martijn Wydaeghe (Hyundai i20 N Rally1), a 20,0s;
- Kalle Rovanpera/Jonne Halttunen (Toyota GR Yaris Rally1), a 25,1s;
- Elfyn Evans/Scott Martin (Toyota GR Yaris Rally1), a 1m24,0s; etc.
Terminaram 45 equipas
Campeonato do Mundo – Pilotos
- Ott Tanak, 41 pts;
- Kalle Rovanpera, 38 pts;
- Thierry Neuville, 32 pts;
- Elfyn Evans, 29 pts;
- Sebastien Ogier, 25;
Classificados 15 pilotos
Campeonato do Mundo – Construtores
- Toyota Gazzo Racing World Rally Team, 80 pts;
- Hyundai Shell Mobis World Rally Team, 66 pts;
- M-Sport Ford World Rally Team, 51 pts.