Quanto custa um carro elétrico? Segundo dados da Jato Dynamics o preço está 27% acima de um carro com motor de combustão interna e tem vindo a aumentar desde 2015. Contas feitas, comprar um carro elétrico pode não estar ao alcance de todos, porque apesar de baixas de preço como as da Tesla e da Ford, os valores continuam elevados.
Afinal quanto custa, em média, um carro elétrico?
Em 2022, o preço médio de um carro elétrico é de 55 821€. São cerca de 7 mil euros a mais que no ano de 2015. Do outro lado do lago, os valores são semelhantes com um modelo elétrico a custar, em média, 63 864€ quando em 2015 esse valor era de 53 038€.
Quer isto dizer que, em média, um carro 100% elétrico é mais caro 27% que um modelo com motor de combustão interna na Europa e 43% no mercado norte americano.
E quanto custa um elétrico na China?
Para se perceber a diferença para outros mercados, um carro 100% elétrico custa menos 33% que um carro convencional… na China! Isto apesar do aumento dos preços generalizados.
Por tudo isto, percebem-se as palavras de Carlos Tavares, CEO da Stellantis: “é necessário resolver o problema da acessibilidade.” Só garantindo o acesso das classes média e inferior aos veículos elétricos é que se pode massificar o conceito. Qual é o problema?
A China tornou-se no maior pesadelo para a indústria automóvel mundial. Tal como a serpente encantou Eva no Paraíso, a China atraiu investimento e tecnologia europeia e agora “morde” a mão que a fez crescer. Sendo a maior produtora de componentes, controla os preços e tem estado a puxar por eles levando os gestores europeus à beira de um ataque de nervos.
Conduzimos o Aiways U5, o SUV elétrico “big brother” chinês 🇨🇳
Durante 4 dias testámos o Aiways U5 com um anão chinês escondido lá dentro. Tudo, mas mesmo tudo, sobre o novo SUV elétrico vindo da China.
Investimento na China está a “morder” os europeus
Querer petiscar naquele que é o maior mercado mundial está a revelar-se doloroso passados anos a fio a defender que a China seria o “El Dorado” da indústria. É que para além de controlar os preços, a China tem sido assolada pela Covid-19 e a política “Covid-zero” provocou massivas falhas de fornecimento. Voltando-se para parceiros descartados em favor dos chineses, muitos construtores encontraram uma parede de custos impressionante.
Por estas razões, os fabricantes estão a reposicionar-se e a regressar ao passado, deslocalizando produção para outras geografias. Os japoneses a regressar a casa tal como os americanos e os europeus a voltarem de mão estendida para os governos do Velho Continente em busca de ajuda para voltarem a ter indústria na Europa. Porque se os japoneses e os americanos conseguem, rapidamente, resolver os seus problemas, os europeus estão a ser vítimas de anos a pagar mão de obra barata e a encontrarem solução para tudo na transferência de tecnologia e produção para a China.
Alemães particularmente expostos à China
E os alemães estão, particularmente expostos! Os grupos Mercedes-Benz, BMW e Volkswagen juntamente com o poderoso grupo do setor químico BASF representam mais de um terço do investimento europeu na China!
Entretanto, a baixa de preços promovida pela Tesla só foi respondida pela Ford. A Volkswagen já veio dizer que não vai acompanhar a movimentação dos norte americanos e do lado da casa da oval azul chegou a confissão. Segundo John Lawer, diretor financeiro da Ford, o Mustang Mach-E deixou de oferecer qualquer margem de lucro à marca. Quer isto dizer que os cerca de 5 mil dólares de redução de preço nos EUA (que os colocam no patamar onde podem beneficiar de um apoio estatal de 7500 dólares) e o aumento dos fatores de produção levam a que o Mustang Mach-E deixe de dar lucro. Para piorar o cenário, o modelo pode mesmo passar a ser deficitário se os custos de produção continuarem a aumentar.
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A VW avisa que 2023 será um ano pior que o de 2022 para a indústria automóvel. Foi o seu diretor financeiro, Arno Antlitz que o referiu
Indústria pede um plano de apoio para o futuro
Naturalmente que estes movimentos acontecem por uma única razão que os mais empedernidos teimam em não perceber. O mercado está a desacelerar e é cada vez mais óbvio que o mercado de usados não tem funcionado. A baixa de preços pode aumentar as encomendas, mas não é algo sustentável ou estrutural.
Foram anos a fio a perder dinheiro com os elétricos e apesar do custo do kWh ter baixado desde 2015, os preços dos veículos têm aumentado desde essa data. O que significa que estamos muito longe daquilo que se esperava e por isso não espanta que Luca de Meo, CEO da Renault e presidente da ACEA, tenha enviado uma carta aberta a pedir que os governos desenhem uma estratégia que ajude a indústria automóvel.
Porque a espada afiada da mobilidade elétrica aproxima-se cada vez mais de jugular a indústria e pode gerar uma hemorragia industrial, financeira e social. Esperemos que não, mas os últimos tempos não têm sido favoráveis.