Afinal quais foram as razões para a Alemanha dar o dito por não dito e ter arrepiado caminho no que toca ao fim dos motores de combustão interna? Pura e simplesmente, o peso da indústria automóvel na economia germânica e a ameaça de redução da força de trabalho nas suas fábricas e sedes feita por alguns construtores, esgrimindo sem qualquer problema o argumento simples da menor necessidade de mão de obra para produzir veículos elétricos.
A descarbonização dos transportes é vista como um dos pilares fundamentais para a União Europeia liderar a redução das emissões poluentes em 55% nestes próximos anos e chegar à neutralidade carbónica em 2050.
Para isso, o regulamento que reduz a zero as emissões de CO2 nos automóveis construídos a partir de 2035 é essencial. Ou melhor, era!
Tudo porque a Alemanha decidiu arrepiar caminho numa altura em que faltava apenas a formalidade da votação na Comissão. É verdade que a aprovação no Parlamento Europeu foi feita no limite, dando sinais de alguma insatisfação por parte de alguns países.
União Europeia adiou votação final sobre o fim dos motores a combustão
União Europeia adiou votação final sobre o fim dos motores de combustão interna que se deveria realizar hoje dia 7 de março.
Afinal quais foram as razões para a Alemanha arrepiar caminho?
Este recuo da Alemanha foi inesperado, mas não apanhou todos desprevenidos. Os construtores alemães e outros multinacionais, como a Stellantis, coordenaram-se e depois da votação no Parlamento Europeu, comunicaram que iriam começar a fazer despedimentos com o mais simples dos argumentos: os carros elétricos precisam de menos mão de obra para serem produzidos e como libertam muito menos margem de lucro operacional, a força de trabalho pode ser reduzida.
Para a Alemanha esta situação é ampliada pelo facto da indústria automóvel germânica ser o maior bloco económico alemão. Basta olhar para alguns números: emprega cerca de 800 mil pessoas e exibe receitas em redor dos 411 mil milhões de euros.
Paralelamente, estudos feitos recentemente, dizem que três quartos dos alemães dizem que querem que o seu próximo veículo tenha motor de combustão interna! Por outro lado, a Alemanha continua a ser o único país onde há zonas das suas autoestrada que não têm limite de velocidade, um estaca encravada no coração dos ambientalistas. Fica plenamente evidente que assim que foi erguido o fantasma dos despedimentos e o fim de uma certa cultura automobilista, o Governo alemão travou a fundo.
E agora o que fazer?
O problema é que o movimento foi gerado pela Porsche e pela Ferrari (marcas de prestígio na Alemanha e em Itália), a decisão alemã de abster-se na votação e acabar com o regulamento surgiu demasiado tarde, numa altura em que a loucura elétrica já despejou milhares de milhares de milhões de euros na fogueira da mobilidade elétrica. E perante uma opção que é, igualmente, cara.
Restam duas possibilidades: ou se altera de forma profunda o regulamento – o que levará meses e a uma nova votação que não tem garantias de sucesso – ou então é feita uma declaração de intenções da Comissão Europeia no sentido de apresentar uma proposta que acomode as pretensões da indústria automóvel, ou melhor, os e-fuels, os tão falados combustíveis sintéticos.