José Maria Sacadura, CEO da Powerdot, concedeu uma entrevista ao Escape Livre onde nos falou sobre a empresa, a sua missão e objetivos, desenhando uma imagem daquilo que é a mobilidade elétrica hoje e no futuro. Uma conversa onde ficou claro o desejo de investimento em mais pontos de carga em locais onde a experiência de carregamento não seja frustrante ou incapaz de seduzir mais pessoas para os benefícios da mobilidade elétrica. Por outro lado, o CEO da Powerdot quis aproveitar a ocasião para derrubar alguns mitos.
Pioneira na criação do conceito “destination charging”, a Powerdot é a operadora líder em Portugal de postos de carregamento de veículos elétricos ou eletrificados, sendo, também, a maior empresa portuguesa deste segmento na Europa.
Com uma missão bem clara, a Powerdot necessitou de apenas três anos para se alcandorar á posição de liderança entre os operadores de carregadores para veículos elétricos e na passagem pelo quarto ano de existência, permanece firme em Portugal e no Velho Continente com mais de cinco mil postos espalhados por Portugal, Espanha, França, Polónia, Bélgica e Luxemburgo.
O seu rápido crescimento e os objetivos firmes de chegar aos 14 mil postos em 2025 e quase 30 mil em 2030, atraiu investimento estrangeiro com a Antin Infrastructure Partners a injetar 150 milhões de euros na Powerdot. Será com este investimento que a empresa apresenta uma carteira de investimento de 300 milhões de euros, 18 milhões já este ano de 2023, reforçado, igualmente, os recursos humanos com 80 novas contratações.
“Destination Charging”? O que é?
Desde logo uma mudança de mentalidade e comportamento. “Temos de deixar de pensar que a bateria tem de ficar carregada até ao limite. Consoante há mais postos de carregamento, vamos carregando e não atestando como sucedia anteriormente com os carros com motor de combustão interna” diz o CEO da Powerdot.
Que acrescenta um caso pessoal. “Ainda ano outro dia fui ao teatro e no parque de estacionamento havia um carregador. Tinha autonomia suficiente para muito tempo, mas como iria estar cerca de duas horas no espetáculo, decidi deixar o carro a carregar e assim alargar mais um pouco a autonomia.”
Ou seja, o modo de pensar a utilização do carro elétrico tem de mudar, é isso?
“Desde logo temos de aumentar o número de carregadores nos espaços de acesso público como grande superfícies, centros comerciais, hospitais, clínicas, hotéis, enfim, permitir que não haja filas – espera numa fila não é, de todo, uma experiência agradável – e que o carregamento seja uma experiência diferente.”
Para a Powerdot, a experiência de carregamento deixa de ser um desvio obrigatório para passar a estar integrado na rotina do utilizador?
“É isso mesmo! Queremos melhorar a experiência de carregamento e leva-los a pensar que o carregamento da bateria não é um ato isolado. A cada deslocação para fazer comprar, assistir a um espetáculo ou outra coisa qualquer, podemos carregar a bateria e tê-la sempre em níveis ótimos de desempenho.”
O CEO da Powerdot vai mais longe e diz-nos que “o nosso desejo é acelerar a mobilidade sustentável com um modelo que faça do carregamento de um automóvel tão ou mais fácil que carregar um smartphone!”
Negócio “win win” para a Powerdot e para os associados
Esta nova forma de carregar o veículo elétrico tem como pressuposto uma ideia “dois em um”, ou seja, carregamento e atividade, seja ela de lazer, profissional ou de compras. “Claramente!” exclama José Maria Sacadura.
“A nossa proposta é uma oferta ‘win-win’, ou seja, todos ganhamos. Desde logo porque o modelo de negócio é inovador. A Powerdot instala, de forma totalmente gratuita, os postos de carregamento, assumindo a gestão e a manutenção dos mesmos. Seria já uma mais valia para os proprietários dos espaços oferecer uma oferta de carregamento, pois chamaria mais clientes. Mas a Powerdot foi mais longe e partilha com as empresas que detêm os espaços parte das receitas obtidas nos carregamentos.”
Ou seja, se for um proprietário de uma superfície apta a receber um ou mais carregadores, custa-lhe zero e para lá do tráfego que aumenta ainda recebe parte dos proveitos. Com um sorriso, José Maria Sacadura meneou a cabeça lembrando que “é uma situação onde todos ganhamos. E se numa primeira fase alguns duvidavam do conceito e aceitaram, apenas, um posto, a maioria já solicitou que instalássemos mais postos nos seus parques de estacionamento.”
Alterar mentalidades é fundamental
Se o caminho desbravado pela Powerdot está a oferecer frutos, a verdade é que, como referimos anteriormente, há que mudar mentalidades. “Temos de mudar aquela noção que falei antes do ‘atestar’. Ainda hoje há muito utilizador de modelos 100% elétricos que só carregam quando a autonomia já está quase na ‘reserva’ como num carro a gasóleo ou gasolina. Com um carro elétrico e o nosso conceito, vamos carregando à medida que paramos seja no centro comercial, seja no nosso local de trabalho, enfim, onde formos.”
Paralelamente há um mito que temos de derrubar… os carregadores ultra rápidos são (mesmo) essenciais?
“Essa é outra questão que tem de ser abordada com uma mudança de mentalidade. Num ambiente urbano se criarmos redundância de postos em locais onde podemos sempre tratar de alguma coisa para além do carregamento, para quê os postos hiper mega rápidos de carregamento? Se adotarmos como rotina carregar sempre que possível – trabalho, comprars, visitas, lazer – para que é preciso um carregado ultrarrápido?” E José Maria Sacadura não está a desvalorizar a sua necessidade pois, “numa autoestrada faz todo o sentido porque a autonomia pode não servir para irmos de Porto a Faro e precisamos de rapidez, até porque a experiência de carregamento numa autoestrada não é muito agradável, naturalmente. Mas em ambiente urbano ou extraurbano, não fazem sentido.”
Falou em redundância de postos porque não há nada mais frustrante que ir carregar o carro e o posto estar avariado?
“Exato. Por isso defendemos a redundância de postos e haver sempre um lugar alternativo, pois, pode sempre haver problemas numa tomada, num disjuntor que disparou por sobrecarga elétrica ou por necessidade de manutenção.”
Faltam mais carregadores para elevar a rede nacional
Sendo a rede portuguesa considerada a 4º melhor da Europa, quisemos saber a opinião de José Maria Sacadura sobre o que será necessário para termos a melhor rede europeia. A resposta saiu veloz.
“Mais e mais carregadores!” Para o CEO da Powerdot, “somos uns bons alunos no que toca à rede de carregamento, tendo vantagens pelas características do nosso país. Ligar o ponto A ao ponto B não exige muitos quilómetros e todos temos feito um grande investimento para estarmos entre os cinco melhores. Porém, para estarmos mais acima, temos de oferecer mais carregadores e, desta forma, aumentar a confiança dos utilizadores e facilitar a transição para o veículo elétrico.”
A paisagem portuguesa em termos de carregadores é hoje bem diferente. ”É verdade! Em relação há alguns anos, hoje consigo carregar de forma muito mais assídua que antes, porque a rede pública duplicou o número de postos na via pública.
O exemplo da Powerdot poderá ajudar a fazer crescer a mobilidade elétrica em Portugal?
Seria um erro não perguntar ao CEO da Powerdot qual é o seu entendimento sobre as necessidades que precisam ser satisfeita para que a mobilidade elétrica seja um sucesso em Portugal.
“Como já referi, mais carregadores, oferecer confiança aos utilizadores e acabar com o ‘range anxiety’, ou seja, a ansiedade gerada pela impossibilidade de encontrar um posto de carregamento. Como muitas pessoas não conseguem carregar o carro em casa, os postos públicos têm de aumentar e os que estão nos locais onde a Powerdot instala.”
Power Dot reforçou rede nacional de carregadores elétricos
A startup portuguesa instalou 36 novos pontos de carregamento elétricos em oito distritos nos primeiros três meses de 2022.
Mas há mais. “Outro dos pontos que iria ajudar muito é a redução da burocracia na instalação de postos de carregamento.” Tudo porque como salienta o CEO da Powerdot, “o mercado é recente e ainda assistimos a alguns vícios do mercado do setor elétrico que tenta comparar coisas que não são comparáveis. Tem de ser simplificado o processo de instalação.”
Fica evidente que o exemplo da Powerdot poderá ajudar ao desenvolvimento e crescimento da mobilidade elétrica derrubando alguns mitos, mas há a necessidade de desburocratização do processo de instalação para que a mobilidade elétrica seja um sucesso.
E quanto às questões da uniformidade de pagamentos?
Outra questão sensível tem a ver com a uniformidade de pagamentos. Hoje há a necessidade de ter contas aqui e ali e não há, ainda, forma de centralizar tudo. Claro que questionámos José Maria Sacadura sobre este tema lançando a ideia de que esta situação é, também, um travão à expansão dos veículos elétricos. A resposta é interessante…
“É verdade que esse tema tem vindo a ser discutido entre nós e com todos os interessados no negócio, buscando a simplificação de pagamentos. Porém, temos de dar aqui um desconto a todos porque tudo isto começou há pouco tempo e há ainda muitas coisas que têm de ser afinadas, como por exemplo, a simplificação da definição do tarifário, clarificar algumas alíneas que não são totalmente claras, enfim, melhorar a perceção daquilo que, efetivamente, pagamos. Mas é um caminho que estamos a fazer e acredito que a tecnologia nos vai ajudar a simplificar aquilo que hoje ainda é um bocadinho complexo.”
Falando de falta de simplicidade e clarificação sobre o que realmente se paga num carregamento, o que pensa o CEO da Powerdot sobre os preços absurdos de alguns carregamentos, denunciados nas redes sociais?
“Penso que muitos dos casos são ruídos porque as coisas não correram bem. Mas, muitas vezes, a culpa é do desconhecimento do utilizador. Há coisas que, se calhar, têm de ser ensinadas aos utilizadores, nomeadamente, a escolha do carregador e da forma de carregar. Por outro lado, há que perceber que do lado dos operadores ter um cliente que está ‘pendurado’ no carregador sem estar a carregar impedindo outros de o fazer, leva a que a cobrança seja feita ao minuto. Muitas vezes se o utilizador carregar, apenas, o tempo necessário entre os 10 e os 80% da bateria ao invés de deixar o carro agarrado à tomada para lá do requerido para aquela carga, os preços serão menores.
Temos todos de melhorar os detalhes da mobilidade elétrica e perceber que um carregamento na auto estrada será sempre mais caro que numa aldeia ou em casa. Sempre!
Powerdot
Então, carregar em casa é a melhor política?
“Podendo, Claro que sim! Bebemos café, almoçamos ou jantamos sempre mais barato em casa, lógico. A regulação dos preços será sempre feita pela oferta e pela procura. Se não quiser investir numa Wallbox ou na renovação da instalação elétrica da sua casa, tem de perceber que terá de pagar os carregamentos mais caros pois os operadores têm de remunerar o risco e o investimento além de pagar as remunerações dos colaboradores. Portanto os preços são aquilo que o mercado dita e acredito que com o aumento dos operadores e das oportunidades de carregamento, os preços vão normalizar.“
Mesmo assim, o carregamento de um carro elétrico será sempre mais barato que atestar um carro com gasolina ou gasóleo.
Powerdot
E os objetivos da Powerdot para hoje e para o futuro?
A Powerdot tem objetivos muito ambiciosos baseados em quatro anos de franca expansão e de sucesso do seu conceito. Obviamente que o futuro oferece mais oportunidades, embora a concorrência vá chegar depressa. Ainda assim, José Maria Sacadura mostra-se otimista e revela:
“Para este ano é chegar aos 4 mil postos de carregamento com a instalação de mais 600 este ano. Também estamos a reforçar os nossos recursos humanos tendo uma equipa de supervisão em cada mercado que se juntam às equipas centrais, sendo que estas ajudam no desenvolvimento de cada país. Depois temos uma primeira linha de resposta às necessidades dos carregadores com um centro de operações que monitoriza tudo.”
O CEO da Powerdot reforçou os números, ou seja, ter 30 mil postos de carregamento em 2030, em toda a Europa
“Queremos ser dos maiores, senão o maior, operador europeu em termos de pontos de carregamento. Vamos continuar a apostar nos mercados onde já operamos, mas com forte incidência no mercado francês onde há muitas oportunidades para a nossa forma de funcionamento e para o conceito “destination charging”, pelo que França terá um papel muito importante para o crescimento da Powerdot.”
Aqui fica o exemplo de uma empresa portuguesa líder de mercado que se expandiu pela Europa com um sucesso assinalável na área da mobilidade elétrica. A Powerdot vai continuar a investir e o Escape Livre regressará, mais tarde, à conversa com o seu CEO para avaliar os resultados da política seguida por José Maria Sacadura e a sua equipa de gestão aos comandos da Powerdot.