Desnecessário, dispendioso e apressado. É assim que os construtores caracterizam a norma Euro7 que continua no centro das atenções do universo automóvel. O Escape Livre já aqui deu notícia sobre o coro de insatisfação face à regulamentação Euro7, mas recentemente a oposição a esta norma aumentou de tom, particularmente, depois da União Europeia ter cedido à Alemanha na questão dos combustíveis sintéticos. O braço de ferro promete!
De um lado da barricada os construtores, do outro a União Europeia. De um lado o argumento que uma nova norma antes dos motores de combustão interna serem (quase) liquidados é desnecessária e vai custar demasiado dinheiro sem a mínima necessidade.
Do outro lado, o argumento que esta norma é absolutamente essencial para evitar uma repetição do Dieselgate cujo protagonista foi o Grupo VW.
Desde o Euro1, norma lançada em 1992, que a União Europeia vai apertando mais e mais a quantidade de emissões de gases poluentes. Com o advento da eletrificação, a diabolização do gasóleo depois do Dieselgate e, agora, com a quase abolição dos motores de combustão interna, a União Europeia quer ir mais longe com mais uma norma que aperte a malha no que toca à emissão de CO2 e NOx.
Todos em desacordo…
Do lado dos legisladores europeus a proposta contempla alargar os ensaios em condições de utilização real (RDE) e a instalação de sensores de monitorização, em tempo real, das emissões. Toda esta monitorização será válida para os pneus e os travões. A norma Euro7 deverá entrar em vigor em 2025 para os ligeiros e em 2027 para os pesados.
Carlos Tavares, CEO da Stellantis já disse que o Euro7 é “inútil” quando os investimentos na mobilidade elétrica já ultrapassou, largamente, as dezenas de milhares de milhões de euros, tendo ainda de enfrentar a descontinuidade dos motores de combustão interna sem perder competitividade até 2035.
A ACEA já veio dizer que esta norma vai encarecer os carros 2000€ e que os ganhos em matéria de emissões não são significativos. A União Europeia diz que os carros ficariam mais caros apenas 150 euros e os camiões 2600 euros.
Do lado dos construtores, o Euro 7 é desnecessário, dispendioso e apressado. Nos pesados a fúria é grande. Mattias Johansson (Volvo) diz que a entrada em vigor em 2025 não dá tempo para nada no que toca à adaptação dos motores. Martin Daum (Daimler Camiões) lembra que este sistema de monitorização vai exigir muito investimento, enquanto Alexander Vlaskamp (CEO da MAN) diz que o Euro7 vai custar à sua empresa mais de mil milhões de euros. Já Gerrit Marx, CEO da Iveco diz que a regulamentação é “absolutamente estúpida!”
União Europeia inflexível
Do lado da União Europeia continua a inflexibilidade com o argumento de evitar “escândalos do passado com dispositivos enganosos” destacando, assim, a importância dos testes RDE alargados. E para reforçar esta ideia, o Conselho Internacional para Transporte Limpo (ICCT), organização independente lançou uma “bomba” ao dizer que “77% dos testes antes dos RDE e do Euro 6, os veículos alimentados a gasóleo deixavam antever a utilização de dispositivos fraudulentos para cumprirem os limites legais.”
Veremos quem tem razão neste braço de ferro que está interligado com outras questões, pois percebe-se que a União Europeia quer forçar a todo o custo o progresso dos veículos elétricos. Cedeu face à Alemanha, mas o Euro7 pode dar a vitória sobre a indústria, obrigando-a a acelerar a eletrificação.