Já diz o ditado que “quem tem filhos, tem sarilhos”, algo que eu aprendi recentemente. Apesar disso, acho que até ao momento nem me posso queixar. Há quem diga que ele me vai pedir as chaves dos carros demasiado cedo, a ver vamos… Bom, mas regressando aos sarilhos… não é só quem tem filhos que os tem, quem tem clássicos, também!
Desprovidos de eletrónica e com poucos semicondutores face aos carros modernos, os automóveis clássicos também têm os seus “problemas”. Alguns são apenas o resultado de muitos anos em cima, e poucos cuidados, outros são bem mais do que isso. Contudo, e por mais fiabilidade que possamos por num carro clássico, todos dão os seus… “sarilhos”. Ora, o nosso Porsche 944 não foi exceção(!) e não, não foi é uma piada do dia 1 de abril. Infelizmente…
Como sabem, e se viram o vídeo que produzimos onde apresentámos o “nosso clássico”, adquirimos recentemente este Porsche 944 de 1983 com o qual queremos viver tudo aquilo que já é de todo impossível com os automóveis modernos, em particular com os elétricos.
A escolha não foi fácil, inclusivamente chegámos a pedir a vossa ajuda aqui. Contudo, depois de alguns meses de pesquisa e análise do mercado, a nossa escolha acabou por recair neste modelo alemão. Para muitos visto como o “patinho feio” dos Porsche, mas para nós visto como aquele que salvou a vida do icónico Porsche 911. Aliás, para nós é muito mais do que isso. É um automóvel que, na altura, foi destacado em toda a imprensa como um dos melhores desportivos de sempre! Curioso? Vê o nosso vídeo:
Em “constante valorização”…
Muito equilibrado beneficiando do facto de ser um transaxle, o Porsche 944 acabou de celebrar os seus 40 anos de vida. E, como dizem atualmente todos os anúncios de clássicos, e não só, está em constante valorização. Neste caso é mesmo um facto, nos últimos tempos este tem visto o seu valor aumentar dia após dia. Porém, e como em tudo, há casos e casos. Atualmente já é relativamente raro encontrar um exemplar em rigoroso estado de originalidade e conservação. Nós conseguimos encontrar este e, mesmo com apenas um proprietário e todo o seu histórico de manutenções, a primeira surpresa chegou cedo…
Não chegámos a ficar apeados, mas foi por pouco. Apenas por uma questão de sorte!
De um momento para o outro o “nosso clássico” começou a acusar temperatura acima do ideal assim que o trânsito se intensificava. Se em estrada tudo parecia normal, assim que o ritmo abrandava, o ponteiro da temperatura fazia a “gracinha” de passar para cima do meio e se atirar para perto do máximo. Depois de alguma pesquisa e muitas trocas de opiniões, e dados os sintomas pouco animadores, acabámos por levar o nosso 944 para as mãos de alguém que tem muitos e muitos anos a trabalhar com os modelos da marca de Estugarda. Com as muitas e muitas horas de experiência em cima (e em baixo certamente) destes carros alemães, facilmente descobriu o que se passava.
Havia um relé queimado, o que fazia com que o sistema de refrigeração só trabalhasse numa velocidade, por sinal reduzida. Diz-se que apenas trabalhava à velocidade de ralenti. Quando o sistema de refrigeração era realmente imprescindível, em trânsito ou com o carro parado, a velocidade da ventoinha não era suficiente para dar conta do serviço. Ou seja, não refrigerava como devia.
Até aqui tudo bem. Apenas um relé, ao contrário de todos os outros cenários bem mais graves que se puseram. Chegámos mesmo a fazer um teste para tentar identificar a presença de CO2 no vapor do líquido de refrigeração, o que em caso positivo indicaria algo bem mais grave como uma junta da cabeça queimada. Felizmente não era nada disso!
Não há duas sem três ou, se preferirem… uma desgraça nunca vem só!
Contudo, o cenário começou a revelar-se menos animador quando nos apercebemos de que o radiador perdia água (líquido de refrigeração). Para além disso, e como normalmente uma “desgraça” nunca vem só, também a bomba de água estava já na “corda bamba”. Ou seja, na eminência de partir e poder causar um estrago muito maior. Altura de entrar em despesas, ou não fosse um clássico!
Com este cenário em cima da mesa, só havia mesmo uma hipótese. Substituir o radiador e bomba de água para garantir que não iríamos mesmo ficar apeados. A odisseia começou precisamente aqui. Um radiador! Essa peça imprescindível e habitualmente tão fácil de conseguir, encontrava-se esgotada em todo o lado. De tal forma que nos chegaram a pedir valores completamente astronómicos com três zeros ao lado do primeiro algarismo. Infelizmente, e ao contrário do que a Porsche apregoa para o programa Porsche Classic, também a marca tem a referência descontinuada e fora de stock. Solução? Retirar o radiador e mandar fazer uma réplica em alumínio, algo que demorou menos de uma semana numa casa da especialidade.
Já em relação à bomba de água foi tudo mais fácil devido à disponibilidade de peças em stock, tanto na marca, como fora. Foi colocada uma bomba de água nova, modelo bem mais recente já com modificações de fiabilidade recomendadas pelo próprio construtor.
Naturalmente que se aproveitou para substituir o termostato, também ele já acusar o peso da idade, fez-se uma limpeza de todo o circuito de refrigeração do motor, e o nosso Porsche 944 saiu a trabalhar que nem um relógio novamente. Pronto para os próximos episódios. Ou seja, o detalhe, e a certificação como veículo de interesse histórico.
Conclusão e conselhos
É por tudo isto que é verdadeiramente importante tentar conhecer a história do carro antes de o adquirir. Se mesmo no nosso caso, que tínhamos muita informação e toda a manutenção estava em dia, tivemos esta surpresa, imaginem se assim não fosse…
Por outro lado, não facilitem quando se tratar de problemas de aquecimento/refrigeração. De um momento para o outro pode realmente correr mal e ficarmos nas mãos com um estrago bem considerável.
Bom, o importante é que “o nosso clássico” está de volta à estrada! Agora é tempo de lhe fazer uma “rodagem” antes de o levar para a Reverse Lab onde vai ser detalhado ao pormenor. Fiquem desse lado atentos aos próximos episódios.