O Rali da Sardenha foi ganho por Thierry Neuville e pela Hyundai, naquela que foi a primeira vitória do ano da casa coreana, do piloto belga e do novo responsável máximo pela Hyundai World Rally Team, Cyril Abiteboul. Porém, a vitória só surgiu depois de Sebastien Ogier ter errado devido a uma bota cheia de lama, Esapekka Lappi ter abrandado em demasia quando viu o Toyota na valeta e Kalle Rovanpera ter andado o rali todo a poupar pneus para a Powerstage.
Com isto não estamos a menorizar o mérito de Neuville naquela que foi a quinta vitória da Hyundai nas últimas seis edições da prova transalpina. O belga forçou o andamento, perseverou nas adversidades e estava lá para aproveitar os erros dos outros como tantas vezes sucedeu com os seus erros. Vide o caso da Croácia, por exemplo.
Muita chuva inesperada
A 20ª edição do Rali Itália Sardenha disputou-se, atipicamente, com pouco calor e muita chuva que trouxe caos à prova. Os Toyota não se deram bem com a água e os cursos de água presentes em alguns troços. Takamoto Katsuta acertou em cheio no fundo de uma dessas passagens a vau e destruiu a frente e os radiadores do GR Yaris, abandonando na manhã de sexta-feira.
Elfyn Evans, ainda titubeante depois do violento acidente em Portugal, também foi vitima de uma poça de lama que obrigou o galês a várias sessões de mecânica à beira da estrada e à perda de tempo suficiente para ficar fora da luta pela vitória.
Sebastien Ogier estava na Sardenha para roubar mais um recorde a Sebastien Loeb: ambos venceram na ilha mediterrânica por quatro vezes. Depois das vitórias no Monte Carlo e no México, Ogier conheceu o infortúnio na Croácia (um furo numa depressão da estrada) e gastou os “vouchers” de sorte na Sardenha.
Primeiro ao conseguir “safar-se” de um curso de água que engasgou o GR Yaris, depois a uma frente destruída pela passagem nesse curso de água e, finalmente, por outro erro a passar por uma ribeira mais à moda do todo-o-terreno. O carro engasgou, tossiu, mas voltou a funcionar. Isto sem perder a liderança da prova, conquistada no braço face a Esapekka Lappi.
Já no penultimo dia de prova a sorte cansou-se de ajudar Ogier: numa travagem, o pé escorregou – estava enlameada a bota do francês depois de ter estado a mudar um pneu antes de entrar no troço – e o resultado foi a queda num buraco de onde já não saiu sem ajuda do reboque.
Duelo de volta
Regressou no domingo, mas nem sequer estava motivado para vencer a Powerstage. O mesmo aconteceu a Esapekka Lappi. Depois de falhar o pódio na Suécia e uma possível vitória no México, o finlandês reeditou o duelo com Ogier, mudou seis vezes com o francês a posição de líder e parecia encaminhado para uma possível vitória.
Porém, assim que viu o carro do francês pendurado na valeta, Esapekka Lappi soube, imediatamente, que não iria ganhar a prova. Levantou o pé, imediatamente, e promoveu ao primeiro lugar Thierry Neuville.
O belga fez o que lhe competia, foi pressionando Ogier, apostou tudo no dia de sábado e sai-lhe o “jackpot”: a primeira vitória da época para a Hyundai, para si e para Cyril Abiteboul. Uma vitória que não teve seguimento na Powerstage – marcou zero pontos – o que o deixa a 25 pontos de Kalle Rovanpera, o líder do Mundial.
O que pode mudar…
O finlandês da Toyota está em fim de contrato com a equipa de Jari-Matti Latvala (está sob contrato da Toyota desde 2018 quando tinha 15 anos e fez um teste com o Yarius WRC tendo sido a Toyota a pagar a época de Skoda no WRC2 Pro) e pode ser uma opção para a Hyundai – pelo menos o empresário Timo Jouhki falou com as duas equipas – embora esse cenário seja, para já remoto. Mas percebe-se a cobiça: o finlandês andou o rali todo a gerir, conseguiu sobreviver ao primeiro dia a abrir a estrada, ganhou dois lugares com um safanão no troço mais longo do rali e o pódio caiu-lhe nos braços com o abandono de Ogier.
Melhor posicionado do que esperava neste rali que não é do seu agrado, Rovanpera dedicou o último dia a poupar pneus (já o tinha feito durante todo a prova) e atacou de forma felina na Powerstage que venceu e embolsando os cinco pontos de bónus.
Contas feitas, está no comando do campeonato com 25 pontos de avanço (uma vitória) para Neuville.
Dani Sordo acabou por ver a sua prova acabar a uma dúzia de quilómetros do fim. Depois de capotar parado e ficar de pernas para o ar numa valeta, recuperar o carro ajudando na assistência a cuidar do i20 N e ter ganho um par de classificativas, o espanhol teve de abandonar com um coletor de escape partido.
Ford com imprevistos
No campo da Ford, Pierre-Louis Loubet chegou a colocar o Puma Hybrid R1 no terceiro lugar, mas uma teimosa caixa de velocidades à entrada de um troço que deu direito a penalização e um despiste devido à quebra da direção, acabaram com o rali do francês que nem regressou em SuperRally por uma de duas razões: ou o carro ficou mais danos irreparáveis com os meios à disposição na Sardenha ou Malcolm Wiulson decidiu que não iria gastar mais dinheiro com Loubet.
Por seu turno, Ott Tanak foi vítima de demasiado otimismo na passagem a vau de uma ribeira, o Puma engoliu água, tossiu, engasgou-se e não voltou a trabalhar empurrando o estónio para mais um abandono. Tentou ganhar a “PowerStage”, mas Rovanpera não deixou. Perdeu o segundo lugar do campeonato e está, agora, a 33 pontos do finlandês.
No WRC2, Adrian Fourmaux esteve imparável durante todo o rali, mas na “PowerStage” deixou o Ford Fiesta Rally2 deslizar para fora de estrada, bateu com as rodas do lado direito numa guarda de ribeiro em pedra e perdeu uma vitória que estava, quase, no bolso.
Ganhou, assim, Andreas Mikkelsen. O piloto do Skoda Fabia ficou incomodado com o “banho” que Fourmaux lhe deu no troço de 50 quilómetros (mais de 20 segundos) e tinha baixado os braços. Ganhou, mas reconheceu que o francês tinha feito um belo rali. Teemu Suninen (Hyundai) ficou em segundo e Kajetan Kajetanovicz herdou o terceiro lugar do WRC2.