O Renault Espace 2023 marca o fim, definitivo, do Espace criado em 1984, passando de monovolume a SUV com opção de cinco ou sete lugares sem aumento de preço. A base é a do Austral e, curiosamente, a casa francesa optou por recuperar o nome Espace e não Grand Austral ou outro nome qualquer. O Escape Livre já cumpriu o primeiro ensaio ao novo modelo que está disponível para encomenda com preços que arrancam nos 45 500€.
O Renault Espace tem uma história interessante – descanse que não a vamos contar aqui – que desaguou em quatro gerações com início em 1984. Os mais conhecedores estarão a dizer que isto é um erro. Porém, a quinta geração do Espace já nada tinha a ver com o conceito original e surgiu depois de um declínio claro do modelo provocado pela moda SUV em crescendo.
A quarta geração durou de 2002 a 2015 e a quinta geração do Espace, a tal que era um SUV travestido de crossover, esteve no mercado sete anos depois de ser apresentada no Salão de Paris de 2014 e acabar a produção em março último. O sucesso foi limitado e quando a Renault anunciou que estava a caminho um novo Espace, confesso que fiquei boquiaberto.
Porquê o nome Espace?
O conceito original era simples: maximizar no espaço interior minimizando o volume exterior. Ora, a quinta geração tinha tentado despir esse conceito e a sexta acaba mesmo com o Espace. Original, claro. Passa a ser um SUV.
A justificação para a utilização do nome Espace, porém, tem um raciocínio por parte dos responsáveis da Renault que acaba por fazer sentido. Chamar Grand Austral à versão de sete lugares do Austral seria redutor – até porque há versões de cinco e sete lugares sem acréscimo de preço – e recuperando o nome do antigo monovolume, colocam o modelo acima do Austral e com o mesmo carro cobrem dois segmentos. Aceito!
E será que há assim tanto espaço no interior?
Por amor à verdade tenho de dizer que o Espace tem o espaço interior de uma carrinha, seja na configuração de cinco ou sete lugares. Tive a oportunidade de experimentar os sete lugares. À frente tudo é tranquilo, a meio há espaço a rodos. Sério! Para arrumar as pernas há 321 mm e as costas podem ser reclinadas até 31 graus.
Para perceber como o Renault Espace despiu a pele de monovolume, o banco central manteve a possibilidade de deslizar sobre calhas (220 mm) mas deixou de ter lugares individualizados, passando a ser um banco normal. O lugar do meio pode ser usado como porta-copos quando desocupado. Ah, detalhe: todos os lugares têm tomadas USB-C, há um carregador sem fios na consola central e duas tomadas 12 volts.
Preços do Renault Espace 2023
Com versões de 5 ou 7 lugares ao mesmo preço, o Renault Espace arranca nos 45 500€ da versão Techno. Seguem-se o Esprit Alpine a partir de 48 300€ e o topo de gama Iconic que começa nos 50 300 €.
E a terceira fila de bancos? Se quem estiver a meio prescindir de alguns dos 321 mm que lhe são oferecidos para arrumar as pernas; se não tiver claustrofobia; se não se importar de bater com a nuca no forro do tejadilho; se não tiver o estômago fraco… enfim, poderá fazer uma mão cheia de quilómetros.
E, já agora, terá de ter dotes de contorcionista, pois aceder à terceira fila de bancos não é, propriamente, fácil.
Aqui fica um conselho: como os sete lugares são de graça (paga o mesmo se for um Espace de 5 ou 7 lugares) compre o Espace com sete lugares e deixo-os estar fechadinhos. Assim, eles estarão, sempre, lá para si em caso de necessidade (verá que será quase nula essa necessidade) e ficará com uma bagageira entre 477 e 677 litros, consoante o banco do meio avance ou recue. Utilizando os sete lugares… leva uma escova de dentes. Vá lá, são 159 litros.
Se precisar de muito espaço para bagagem, então escolha a versão de cinco lugares que lhe oferece entre 579 e 777 litros, de acordo com a posição do banco central.
O banco do meio tem rebatimento 60-40 e tudo o resto é igual ao Austral. Nenhuma estranheza nisso, afinal, o Espace tem como base o Austral.
Os materiais e os acabamentos são simpáticos e em destaque está o ecrã central com 12 polegadas.
E face ao anterior Espace?
É mais pequeno. O Renault Espace 2023 tem 4,72 metros de comprimento, menos 14 centímetros que o anterior modelo e consegue, também, ser ligeiramente mais baixo (31 mm) e mais estreito (1843 contra 1914 mm do anterior), com uma distância entre eixos igualmente menor: 2738 contra 2884 mm. Já a distância ao solo é maior (o que encolhe o habitáculo) e as jantes têm, no mínimo, 19 polegadas.
O carro é mais leve que o anterior nada menos que 215 kg. Ganhos na motorização (50 kg), nas dimensões gerais (84 kg), na plataforma (43 kg) e na carroçaria (38 kg).
No que toca ao estilo, mudança radical face à anterior geração. Estamos na presença de um Austral que se transforma na parte traseira, formato SUV com área vidrada estreita e uma grelha dianteira com barras verticais. Os faróis LED têm o formato em C e na traseira os habituais farolins, em LED, que se prolongam para a tampa da bagageira.
E por baixo do capô, há vários motores?
Não! Há apenas o conjunto motopropulsor E-Tech da Renault que é usado no Clio, por exemplo, mas aqui com um motor mais pequeno e motor elétrico mais potente. Ou seja, aqui temos um bloco 1.2 litros (3 cilindros) com 130 cv e um motor elétrico com 50 kW. A bateria de 2kWh assegura que há alguma energia elétrica armazenada sem necessidade de carregamento externo. A bateria é alimentada pela recuperação de energia de travagem e desaceleração.
O sistema utiliza o sistema E-Tech da Renault cuja caixa de velocidades robotizada possui uma embraiagem semelhante aos carros de competição, cuja aspereza é mitigada por um segundo motor elétrico que assegura movimento contínuo entre passagens de caixa. O sistema é, na minha opinião, excelente e apenas no modo Sport se nota alguma rudeza.
A Renault reclama uma aceleração 0-100 km/h em 8,8 segundos e um consumo de 4,6 a 4,8 l/100 km. Não cheguei a tanto e deitando um olhar de soslaio ao computador de bordo, o consumo foi de 5,9 l/100 km. Nada mau, mesmo assim. Dizer que a potência total combinada é de 200 cv e o binário de 230 Nm no motor térmico e 205 no motor elétrico.
E em estrada como se comporta?
Em primeiro lugar tenho de lhe dizer uma coisa: o Espace tem eixo traseiro multibraços porque as especificações do sistema híbrido (mais potente que no Clio, por exemplo) estavam para lá das capacidades do mais barato eixo de torção.
Porém, as rodas independentes são mais caras que o eixo rígido e por isso a Renault juntou o sistema 4Control de quatro rodas direcionais. Fica justificado o preço superior do modelo.
Depois, posso dizer-lhe que este sistema – totalmente personalizável nos modos de condução – pode fazer as rodas virar até 5 graus. Isto torna o Espace mais ágil e eficaz em curvas mais exigentes. Ajuda de forma clara a força o ritmo e em percursos mais enrolados, a frente tem muita aderência e permite algumas brincadeiras.
Mas, claro, estamos a falar de um carro com generosas dimensões e algum peso pensado para a família e não para candidatos a pilotos. Estranho é o Espace, sendo um carro francês, não ser bem mais confortável. É um automóvel sensível ao estado da estrada e de um veículo gaulês, esperávamos mais conforto. Quer isto dizer que é desconfortável? Nada disso!
O que é que eu penso deste novo Renault Espace?
Como já sou um veterano que se lembra do Espace original, olhar para este Renault Espace 2023 faz-se perceber que, realmente, os SUV ainda estão longe do seu pico. Tenho a certeza que este Espace não é tão original ou disruptivo como o original. Também tenho a certeza de que, tecnologicamente, este é um produto de excelência com sistemas ADAS (de segurança e ajuda à condução) muito completo e que faz corar de vergonha as anteriores gerações do Espace. Acredito que este seja um excelente produto, pois a Renault está a fazer um “all in” para encaminhar as contas no sentido certo, depois do buraco aberto pela saída da Rússia.
Essencialmente, o Espace passou a ser um SUV arraçado de carrinha com aspirações familiares e possibilidade de cinco ou sete lugares, uma motorização híbrida eficiente com um interior que seduz, está bem equipado e onde nos sentimos bem. Enfim, gostei deste Renault Espace que fomos ensaiar pelo Douro.