Se tem um automóvel 100% elétrico, então a resposta à pergunta é: “Provavelmente… menos do que imagina!” Segundo várias agências internacionais e observadores independentes, o valor dos usados elétricos continua a estar abaixo dos modelos a gasolina. Culpados? Em primeiro lugar, os incentivos fiscais à compra. Em segundo lugar, a tecnologia evolui muito depressa. Finalmente, os custos com as baterias.
Com toda a certeza fica claro que Akio Toyoda tem toda a razão quando diz que há mais vida para além dos elétricos e que mudanças feitas à pressa… dificilmente correm bem.
Não se trata de má vontade ou de outra coisa qualquer face aos veículos elétricos. Simplesmente a constatação de factos. Com toda a certeza, os incentivos à compra de modelos 100% elétricos, a veloz evolução da tecnologia e os custos das baterias, tornam os carros 100% elétricos muito menos atrativos como viaturas usadas. Por isso o valor dos usados elétricos é bem menor do que se pensa.
Aliás, Fintan Knight, fundador e CEO da Automotive Equity Management, referiu que “este é, provavelmente, a maior dificuldade económica que irá atingir a indústria. É uma questão central para o modelo de negócio da mobilidade elétrica.”
Usados elétricos com depreciação maior que os convencionais
Este especialista em termos de mobilidade foi um executivo da Audi, Rolls-Royce e BMW e tem vindo a especializar-se nesta questão do valor residual dos veículos elétricos. Fintan Knight aponta diversos estudos que dizem ser um dos maiores problemas a questão do valor residual dos modelos elétricos.
Com o intuito de oferecer propostas atrativas de leasing/renting, os braços financeiros dos construtores precisam de valores residuais elevados. Em outras palavras, quanto maior for o valor residual do veículo, mais baixa pode ser a renda. Com efeito, se o valor residual – venda como usado – for elevado, o valor cobrado ao utilizador será menor.
Com toda a certeza isto é algo muito importante no universo dos veículos elétricos, mais caros que os convencionais. Segundo afirmam alguns responsáveis pelas vendas de marcas com produtos 100% elétricos, a camada de clientes a que os produtos agora chegam – depois de atingido o pico dos clientes empresariais e dos particulares com capacidade de compra – oferecem resistência a pagar os preços de tabela. E desconfiam, muito, da possibilidade de ter de gastar milhares de euros na substituição de uma bateria.
Por isso é tão importante o valor residual nos veículos elétricos, pois reduzidas rendas mensais através de renting podem seduzir os compradores de menor capacidade financeira. Estendendo outra benesse: os menores custos de manutenção dos veículos elétricos.
Custos têm de ser bem aferidos
As margens de operação nos veículos elétricos são muito diferentes. Por essa razão é preciso aferir com precisão os valores residuais. Só para exemplificar, se o valor de um veículo elétrico com três anos for muito inferior ao que foi previsto, toda a cadeia será afetada (construtor, financeira, concessionário). Porque ao revender o veículo abaixo do valor residual aferido, todos vão perder dinheiro. E, claro, o comprador que caso fique com o veículo verá ele valer muito menos que o esperado.
Ora, assim sendo, terá de ser feito um desconto que corresponda aos níveis dos valores residuais do mercado. Ora, assim, sendo as margens de lucro, já esmagadas, vão sofrer ainda mais. Não espanta, por isso, que um estudo feito pela DAT tenha revelado que 53% dos potenciais compradores de veículo elétrico acabaram por comprar um carro convencional devido aos custos elevados de compra.
Otimismo ameaçado pela realidade
Quando os veículos elétricos chegaram em 2020, o mercado cresceu rapidamente, mas a oferta era escassa e os incentivos eram muito e bons. Tudo isso está a mudar e a Automotive Equity Management realizou um estudo que, entre outros, compara um Audi Q7 TDI a um Audi Q8 e-tron. A diferença entre o valor residual de um e de outro é 11% favorável ao Q7.
E, de acordo com outro estudo feito nos EUA, um carro novo desvaloriza 28% nos primeiros três anos, um carro 100% elétrico desvaloriza… 41%. Porém, há outros relatórios que dizem ser a perda ainda maior em outras geografias.
Por outro lado, há mais dificuldade em vender elétricos usados. A rotação de stocks é de 53 dias em comparação com os 36 dias dos modelos a gasolina. Isto na Europa. E porque não se trata de suma sanha persecutória, na Suécia – país onde os veículos 100% elétricos valem 33% das vendas – a situação é idêntica e os modelos elétricos perdem 10% do seu valor por ano, enquanto os outros ganharam valor.
E fica claro que os modelos a gasolina são 23% mais valiosos no mercado de usados que os 100% elétricos. Ou seja, há ainda um longo caminho a percorrer e como disse e frisou Akio Toyoda, a transição energética está a fazer-se depressa demais e sem opções e os custos disso vão ser tremendos.