O Centro Cultural de Belém foi o palco para mais um Fórum do Retalho Automóvel organizado pela Associação de Comércio Automóvel de Portugal (ACAP) e subordinado ao tema “Conduzir à nova mobilidade”. Com toda a certeza, o auditório foi pequeno para receber jornalistas, analistas e convidados que escutaram, atentamente, a revelação de mais dados sobre as vendas em Portugal, o estado do parque automóvel e os desafios da nova mobilidade.
O Fórum do Retalho Automóvel – Conduzir à nova mobilidade, reuniu especialistas, observadores, jornalistas e convidados na ACAP no Centro Cultural de Belém. Em primeiro lugar, para a apresentação dos números finais de vendas em Portugal. Em segundo lugar, para discutir o atual estado do setor, centrados na sustentabilidade e na avaliação dos impactos ambientais na indústria em Portugal.
Conduzir à nova mobilidade
Com apresentação e moderação de Liliana Lopo de Carvalho, jornalista da SIC, a sessão arrancou com António Coutinho, CEO da MCoutinho, que esteve presente na qualidade de Presidente da Divisão de Retalho Automóvel da ACAP. De seguida, Hélder Pedro, secretário-geral da ACAP, explanou as perspetivas do setor. Lembrou, uma vez mais, a necessidade de entrarem em vigor, rapidamente, instrumentos legislativos já aprovados no Orçamento de Estado. Como, por exemplo, os incentivos ao abate de veículos em fim de vida.
Tendência de consumo em Portugal
Apresentado por Rita Alemão, co-fundadora e “manging partner” da LYD – Leading by Greatness, o estudo “Consumer Insights – Tendências do Consumidor Português na aquisição e utilização de produtos e serviços automóveis” revelou algo interessante.
Este estudo é fruto de uma parceria entre a ACAP e o Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa (ISEG) e teve uma amostra de 6 mil pessoas. Nessa amostra, 57% fazem parte da geração X (Millennial) com idades entre os 25 e os 40 anos. Por outro lado, 43% desta amostra faz parte da geração Y (idades entre os 40 e 60 anos).
Com o intuito de lançar luz sobre as preferências dos consumidores na compra de veículos automóveis no futuro, este estudo decompôs os resultados pelos diversos patamares de idade.
Para uma idade média de 55 anos, 60% têm planos de comprar um automóvel novo, enquanto 30% prefere comprar um automóvel seminovo e 10% quer um veículo usado. Para uma média de 35 anos, 30% tenciona comprar um automóvel novo, 40% quer um automóvel seminovo e 30% deseja um automóvel usado.
Preocupações ambientais orientam compra
Para lá disso, há uma clara tendência para a procura de viaturas elétricas e híbridas. Sejam elas novas ou seminovas. Por outro lado, no que toca às viaturas usadas, na faixa até aos 55 anos, 20% querem um automóvel a gasolina, na faixa até 35 anos, são 30% os que querem um automóvel a gasolina usada.
Para Rita Alemão, as principais tendências “são de procura de viaturas elétricas, que estão em linha com aquilo que é a preocupação com o ambiente a sustentabilidade.” Segundo ela, “os mais velhos têm apetência por viaturas híbridas. As mais novas olham para os veículos elétricos, desde que tenham oportunidade financeira.”
E aqui está o grande problema que já foi identificado, os preços dos veículos elétricos. A maioria não tem oportunidade financeira e por isso encaminham-se para modelos seminovos elétricos ou híbridos. “Nos modelos usados, a clara tendência de preferência reside nos modelos com motores de combustão interna por ser mais barato” completou Rita Alemão.
Nova mobilidade é mais-valia ou desafio?
Depois de Miguel Fonseca, um executivo automóvel que passou por várias marcas em Portugal, ter falado sobre os desafios da mobilidade, o debate “Evolução do Aftermarket – Impacto na rentabilidade”, voltou a concitar as atenções da plateia. O painel era composto por André Figueiredo, responsável da Automóveis do Mondego e membro da Comissão Executiva de Retalho da ACAP. Também porTomás Rocha, responsável da Auto Indústrial e também membro da Comissão de Retalho da ACAP e, finalmente, Nuno Lopes, diretor após-venda do Grupo Stellantis.
André Figueiredo lembrou que a nova mobilidade pode ser considerada como uma mais-valia ou, em contrapartida, um desafio para o negócio como o conhecemos. Dessa maneira, este responsável por um dos maiores grupos de retalho nacional, lembrou que há novas oportunidades. Que podem e devem ser exploradas e interpretadas como forma de reinventar o negócio.
Nada vai mudar a situação atual nos próximos cinco anos
Por outro lado, Tomás Rocha expressou, nesta iniciativa da ACAP, a convicção que nada vai mudar no após-venda nos próximos cinco anos. Porém, deixou claro que os veículos elétricos colocam desafios ao negócio. De acordo com este responsável da Auto-Industrial, tendo a manutenção de um veículo elétrico até menos 40% de necessidades de assistência, isso colocará desafios à rentabilidade. De facto, com menor necessidade de peças e lubrificantes, manter a sustentabilidade dos espaços de oficina que hoje existem será um desafio. “Teremos, a partir de 2035, encontrar forma de rentabilizar o que temos hoje” é a frase que fica da participação de Tomás Rocha.
Nesse sentido, Nuno Lopes, do Grupo Stellantis, lembrou que, com base no atual parque automóvel nacional, a influência da mobilidade elétrica no negócio do após-venda é reduzida. Por isso mesmo, há prioridades como a validação de competências (humanas e técnicas) com formação e desenvolvimento de equipamento. As redes de concessionários, na visão do diretor de após-venda da Stellantis, são outro desafio. Que terá de ser, progressivamente, enfrentado para ser possível adaptar tudo ao progresso da nova mobilidade elétrica.