Numa entrevista à Bloomberg, Carlos Tavares alerta para a necessidade de fusões. Com toda a certeza, a fusão da PSA com a FCA é uma prova desta premente e rápida necessidade. Tudo porque, no seu entender, a ascensão dos construtores chineses, os esforços da União Europeia para eliminar os motores de combustão interna e os novos contratos muito onerosos conseguidos pelos sindicatos nos EUA, são combustíveis para alimentar mais fusões e aquisições.
O CEO da Stellantis é um dos mestres da gestão automóvel. O português tem levado a bom porto a gigantesca nau e prepara-se para mais operações relâmpago. Até porque nesta entrevista à Bloomberg que o Automotive News Europe publica e que o Escape Livre reproduz com a devida vénia a ambas as publicações, lembra que tudo aquilo que é apontado como razões para mais fusões, deve fazer pensar a autoridade da concorrência na hora de não aprovar fusões como a da PSA com a FCA (Fiat Chrysler Automobiles) em 2011.
Stellantis. Oito modelos novos com base em nova plataforma
O grupo Stellantis promete oito novos modelos, elétricos, híbridos, PHEV ou com motor de combustão, com base na nova plataforma STLA Large.
Estão a preparar-se para as fusões e aquisições?
No outro dia, estávamos a preparar a forma como vamos apresentar os resultados da primeira fase do plano Dare Forward 2030. Quando estávamos a preparar isto, perguntei à equipa: há alguma coisa que tenha mudado nos últimos três anos em comparação com o momento em que construímos o plano? A resposta foi a magnitude da ofensiva chinesa, o que penso ser verdade. A magnitude da ofensiva chinesa, a competitividade que podem demonstrar e a chegada maciça de todos os seus melhores fabricantes de automóveis é uma mudança significativa.
O que é que isto significa para si?
Quando estes concorrentes chegarem aos nossos mercados, terão capacidade para vender os veículos elétricos ao mesmo preço que os veículos com motor de combustão interna. Por outro lado, se os governos ocidentais impuserem a venda de veículos 100% elétricos a bateria, é óbvio que quem for competitivo nesse campeonato, terá um problema existencial.
Quem não se preparou para este impacto vai estar em apuros. Por isso, precisamos de estar aptos e prontos para quando essas oportunidades surgirem fazermos parte da consolidação. Com toda a certeza, quem não têm feito o trabalho de casa em matéria de redução de custos vão-se meter em sarilhos. (Carlos Tavares é conhecido pela sua feroz insistência na contenção de custos, NDR)
Então, prevê uma vaga de consolidação na indústria automóvel?
É inevitável e vai colocar o mundo ocidental entre a espada e a parede no que toca à autoridade da concorrência. As atuais regras não vão ajudar a enfrentar a ofensiva chinesa. Porque se tivermos de financiar uma tecnologia muito dispendiosa e não tivermos escala, ficamos em apuros.
A União Europeia ajudou a Stellantis
É verdade e gostaria desde já de agradecer o facto de nos terem ajudado a criar a Stellantis. E é da mais elementar justiça dizer que fomos apoiados pela União Europeia e sem esse apoio, a FCA estaria em apuros e a PSA estaria em apuros.
Considera que a Renault é vulnerável?
A falta de escala é sempre um problema e a estratégia também é importante. O meu interesse na Renault é igual ao interesse por outras marcas. Eles estão a fazer coisas muito diferentes e por isso estou atento. O que fazem é refrescante e posso sempre aprender alguma coisa.
Naturalmente, penso que esta transformação irá provocar um certo número de problemas. Em primeiro lugar, vemos cada vez mais parceiros ou fornecedores chineses na Renault.
Veremos como é que isto se vai desenrolar, inclusive aos olhos do Governo francês. Sempre tive respeito pela Renault e fiquei surpreendido com a sua estratégia “Old Company -New Company.”
Ora, como sabem, o meu pensamento é exatamente o oposto. Precisamos de uma única equipa que coloque a empresa numa única direção, a todo o vapor. Acho que está claro para todos que o que vai financiar a eletrificação é a rentabilidade oriunda dos produtos com motores de combustão interna. Naturalmente que se cortarmos o que é rentável e isolarmos o que não é rentável há aqui um problema. Só para ilustrar: como podemos financiar o que não é rentável num ambiente económico de juros altos?
Renault Clio. Uma história de sucesso com 33 anos
Foi em 1990 que chegou às estradas o Renault Clio. É o automóvel francês mais vendido no mundo, com 16 milhões de unidades, e o mais vendido em Portugal, onde recentemente chegou aos 500.000. Com a chegada da “fase 2” da quinta geração, recordamos um pouco da história deste modelo nestes 33 anos.
E o que pensa da Ford e da General Motors?
Não sei… dependerá da situação, das condições prévias que assegurem que todos ganham e que seja feito de forma amigável, ou seja, convergente.
Do mesmo modo, se a indústria não fizer nada, vai desaparecer sob a ofensiva da indústria chinesa. Do meu lado as questões são simples.
Em primeiro lugar tenho de perceber como é que a minha empresa vai sobreviver. Em segundo lugar, como vai ter sucesso. Finalmente, se surgirem oportunidades, quais vão ser elas e se tenho solidez financeira para isso.
Depois, se tivermos de fazer alguma coisa, sempre de modo amigável e nunca de forma hostil, exatamente como fizemos com a Stellantis. Somos criticados por tudo e por nada, por isso há que fazer as coisas bem. Enfim, se duas empresas se juntarem têm de ter a certeza absoluta de que as sinergias resultantes sejam de valor para todos os interessados.
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O que é que a Jeep precisa de fazer para dar a volta à sua sorte?
Temos de continuar a trabalhar na qualidade e no custo, mas penso que só precisam de uma gestão mais dinâmica para ficarem numa posição muito melhor. Enfrentamos as consequências da greve do sindicato e o enorme impacto na rentabilidade nos EUA. Mas temos um bom plano de lançamentos que vão dar forte impulso à marca.
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