Esapekka Lappi foi o vencedor da segunda prova do Campeonato do Mundo de Ralis, o Rali da Suécia. O finlandês, piloto da Hyundai com um programa limitado, fez uma prova irrepreensível e sem cometer erros, aproveitou erros alheios para levar a Hyundai a vencer pela segunda vez consecutiva, algo que nunca aconteceu desde que a casa sul-coreana está no WRC. Para a Toyota foi a segunda derrota consecutiva. Porém, graças ao novo sistema de pontuação, Elfyn Evans ficou mais perto de Thierry Neuville, o líder do campeonato.
O Rali da Suécia 2024 voltou à zona de Umea para encontrar a neve e o gelo que Karlstadt já não oferecem e, diga-se, voltamos a ter uma prova espetacular. Tal como sucedeu no Monte Carlo. Caso para dizer que são poucos… mas bons!
Hyundai 2 – 0 Toyota
Para lá da vitória de Esapekka Lappi, já lá vamos, o grande destaque deste Rali da Suécia é a segunda derrota consecutiva da Toyota. Os comandados por Jari-Matti Latvala nunca foram surpreendidos duas vezes seguidas. Por outro lado, a Hyundai nunca tinha ganho duas provas seguidas no Mundial. Razões para esta situação?
Em primeiro lugar, uma reorganização da equipa desde a chegada de Cyril Abitboul. Em segundo lugar, a chegada de François Xavier (FX) Demaison fez o i20N Rally1 evoluir decisivamente nos últimos meses. Finalmente, o carro está mais fácil de pilotar. Outra vantagem reside no facto de Abitboul ser um executivo. Ou seja, não percebe nada de engenharia e mecânica e deixa isso para os departamentos técnicos, liderados por FX Demaison com a ajuda de Christian Louriaux, o homem que criou o i20.
Por outro lado, pela primeira vez em muitos anos, a Hyundai tem um alinhamento de pilotos superior ao da Toyota. Abitboul tem Thierry Neuville e Ott Tanak a tempo inteiro, dois homens que têm os olhos postos nos títulos. Como lugares tenentes os competentes Esapekka Lappi, Andreas Mikkelsen e o sempre fiável Dani Sordo.
Jari-Matti Latvala tem Elfyn Evans e Takamoto Katsuta e como apoio dois campeões do Mundo, Sebastien Ogier e Kalle Rovanpera. Perceberam a diferença? Não espanta por isso a cara de Latvala no final do rali – deixando as declarações para Kaj Lindstrom – e o score neste momento: Hyundai 2 – 0 Toyota!
Principais candidatos com problemas
Depois de ter sido Andreas Mikkelsen a ocupar o banco do terceiro Hyundai i20 N, nas estradas geladas e com neve da Suécia foi Esapekka Lappi a secundar Thierry Neuville e Otta Tanak. A vitória no Monte Carlo deu um impulso extra à Hyundai. Porém, o primeiro dia do Rali da Suécia 2024 atirou pela janela a putativa luta entre o belga e o estónio. Em primeiro lugar porque Thierry Neuville, ao sair em primeiro para a estrada, encontrou muita neve fresca que o fez acumular segundos atrás de segundos. E a coisa não foi pior porque “inventou” uma avaria elétrica que o atrasou quatro minutos (40 segundos de penalização), exatamente o tempo necessário para colocar Elfyn Evans como o primeiro carro na estrada.
Em segundo lugar, Ott Tanak não evitou um pião a alta velocidade que fez do Hyundai i20 N Rally 1 uma bola de pingue-pongue acabando por destruir os radiadores numa das pancadas nos muros de neve.
Ficava a porta aberta para a Toyota liderar. Porém, Elfyn Evans também não evitou um 360 que revelou a estrelinha do galês (não estragou nada e só perdeu uma mão cheia de segundos). Depois, foi a armadilha de Neuville que colocou o galês a abrir a estrada. Muitos segundos perdidos e o primeiro lugar a ficar demasiado longe.
Quem também não foi muito feliz foi Kalle Rovanpera. No seu regresso ao Mundial, mostrou que vinha com fome de vencer, andou depressa, mas um pião furou um pneu ao GR Yaris e destruiu o sistema de refrigeração. Abandonou e ficou arredado da vitória.
Takamoto Katsuta liderou Rali da Suécia 2024…
Perante tudo isto, a Toyota teve em Takamoto Katsuta, o líder surpresa de um rali onde o japonês, hoje um cidadão de Jyvaskyla (Finlândia), está mais á vontade do que a maioria pensava. Aliás, os pilotos vindos dos circuitos estão à vontade no gelo.
Nesta altura destacavam-se outros dois pilotos. Esapekka Lappi e Adrian Fourmaux. O primeiro começou a pressionar o japonês da Toyota e acabou mesmo por o ultrapassar chegando ao primeiro lugar.
Já o francês da M-Sport mostrou estar muito mais calmo e focado, ciente dos seus limites e do Ford Puma Hybrid. Estava sossegadinho a fazer a sua prova quando lhe caiu no colo o segundo lugar do Rali da Suécia! Como?
Mas o japonês acabou por sair de estrada
Takamoto Katsuta voltou a errar quando não o podia fazer. Tinha perdido a liderança para Lappi, mas no segundo dia, depois de uma classificativa menos conseguida pelo finlandês, estava a apenas 9 décimos do Hyundai. Ao invés de manter o segundo lugar – muito importante para a Toyota – atacou Lappi e… falhou! Saiu de estrada e ficou preso num banco de neve, deixando o finlandês sozinho na frente com quase minuto e meio de vantagem para os restantes.
Por outro lado, as condições particulares da prova na sexta feita permitiram que Oliver Solberge chegasse ao terceiro lugar da geral ao volante do Skoda Fabia RS Rally2. O sueco fez história, pois nenhum piloto com um carro do Tier 2 no Mundial de Ralis tinha conseguido chegar ao final de um dia competitivo no pódio.
Nessa mesma sexta-feira, Georg Linnamae juntou-se a um restrito número de pilotos a vencer um troço do WRC com um carro do Tier 2. Venceu o troço #42 Brattby – nome que homenageava Craig Breen depois da exibição do malogrado piloto irlandês em 2023 – e deu ao Toyota GR Yaris R2 a sua primeira vitória em troços do Mundial.
Esapekka Lappi voltou a vencer seis anos e meio depois
A prova sueca do Mundial de Ralis ficou decidida quando Katsuta ficou preso no banco de neve e empurrou Fourmaux para o segundo lugar do rali. Pelo caminho o francês ainda rubricou a sua terceira vitória em troços do Mundial de Ralis (primeira passagem pelos 28 km de Bygsdsiljum). Uma bela prenda para o aniversariante Malcolm Wilson, patrão da M-Sport que cumpriu 68 anos. E Fourmaux deixou o britânico ainda mais satisfeito ao resistir à pressão de Elfyn Evans sem errar, fechando o dia de sábado com os pontos do segundo lugar.
Indiferente a tudo isto, Esapekka Lappi levou o Hyundai i20 N à vitória. Pelo novo sistema de pontuação, o finlandês venceu o dia de sábado, mas foi apenas sexto no dia de domingo (só contam os troços desse dia) e não pontuou na PowerStage deste Rali da Suécia 2024.
Quer isto dizer que Esapekka Lappi venceu o rali, mas quem mais pontuou foi o segundo classificado, Elfyn Evans. O galês reuniu 24 pontos devido ao terceiro lugar no sábado (13 pts), vencer o dia de domingo (7 pontos) e ter sido segundo na PowerStage (4 pontos). Lappi ficou com 18 pontos, os mesmos de Thierry Neuville, o quarto classificado do rali. Enfim.
Por consequência, fica para a história a segunda vitória de Esapekka Lappi no Mundial de Ralis. 6 anos e meio, 60 ralis e quatro construtores depois do primeiro sucesso obtido no Rali da Finlândia de 2017 com um Toyota Yaris WRC. Fica, também, o primeiro pódio da carreira de Adrian Fourmaux. Que é, agora, o terceiro classificado do Mundial de Pilotos. Está atrás de Thierry Neuville e de Elfyn Evans. O galês vai para o Rali Safari (28 a 31 de março) a apenas seis pontos do belga.
Oliver Solberg ganhou o WRC2
Com toda a certeza foi uma prova sem erros. E com um andamento que se revelou inalcançável, Oliver Solberg ganhou em “casa” o Rali da Suécia 2024. Na primeira prova oficial como piloto da Skoda, o filho de Petter Solberg revelou-se intratável. Venceu com enorme vantagem para os seus adversários e, pelo caminho, ainda fez história ao terminar o dia de sexta-feira no terceiro lugar à geral.
Referência final para Sami Pajari que levou o Toyota GR Yaris até ao segundo lugar. E para Nikolay Gryazin que foi até à Suécia sem pontuar para o WRC2 para ganhar experiência. Andou depressa, mas bateu muito e acabou fora dos primeiros lugares.