Hoje é dos construtores mundiais com maior margem de lucro operacional (18,3%), mas a Porsche viveu tempos difíceis há 30 anos. Wendelin Wiedeking era o CEO na época e precisava de tirar um coelho da cartola. Estava a ser burilada a entrada da casa de Weissach no segmento dos SUV, mas o cuidado era enorme para não chocar os fãs da Porsche. Então, decidiu contratar o atelier de Nucio Bertone para desenhar a nova geração do 911. O Porsche 911 996 poderia ter sido assim…
A necessidade de ter mais produtos para diversificar vendas era uma imposição. No início dos anos 90 do século passado, a Porsche passava por muitas dificuldades. Wendelin Wiedeking lançou a ideia: que tal fazer um roadster e um SUV? O primeiro foi aplaudido, o segundo nem por isso!
Com o intuito de dar esse impulso à Porsche, o CEO contratou os Estúdios Bertone para criarem um novo modelo para se juntar ao 911. Nascia, assim, o Boxster tipo 986 que tinha lançamento aprazado para 1996. De uma forma muito habitual em outros construtores, o departamento de estilo interno foi colocado em competição com consultores exteriores.
Boxster pouco arredondado
Foi dessa forma que a Bertone acabou por entrar no projeto do 911 tipo 996 e do Boxster Tipo 986. O maior problema foi contratar uma empresa italiana para fazer um desportivo germânico. No momento em que aceitou a empreitada, a Bertone apresentou inúmeros estudos e propostas.
O projeto do Boxster Type 986 não ficou demasiado longe do produto final apresentado pela Porsche e feito pelo seu departamento de estilo da autoria de Grant Larson e Pinky Lai. A versão final ficou muito mais arredondada que a proposta entregue por Bertone, marcada, ainda, por alguma influência do 968, o sucessor do Porsche 944, um carro que conhecemos particularmente bem, ou não fosse ele “o nosso clássico“.
Porsche 911 demasiado… Ferrari!
Já a proposta do 911 Tipo 996 era bem diferente. Com toda a certeza, alguém nos estúdios da Bertone entendeu que um 911 de sucesso deveria ser um… Ferrari! Olhando para as imagens do protótipo, percebe-se a silhueta do Ferrari 550 Maranello ou do Peugeot 406 Coupé, ambos desenhados por… Pininfarina.
Nada nos protótipos da Bertone ligava o 911 às suas raízes. A frente tinha inspiração remota no 968. Por outro lado, era demasiado comprida tal como sucedia no 550 Maranello. Em contraste com tudo aquilo que eram os códigos de estilo do 911, a traseira era comum e mais parecia uma berlina de cinco portas que outra coisa.
Curiosamente, os faróis dianteiros complexos ficaram para a versão final assinada pelo britânico nascido em Hong Kong, Pinky Lai. Por outro lado, a Bertone tentou dar coerência às duas propostas para o 911 e para o Boxster. Apesar do 996 ser conhecido como o patinho feio dos Porsche 911, devido à forma das óticas dianteiras e o arranjo da traseira, a verdade é que se Wendelin Weideking tivesse aceite a proposta de Bertone e não a de Pinky Lai, a história da Porsche e do 911 seria bem diferente, não acham?
Apesar de tudo, certo é que a geração 996 do Porsche 911, inegavelmente a menos amada das gerações 911, é aquela que ultimamente tem visto os seus valores subir consideravelmente. Atualmente é a única geração da qual ainda se poderão encontrar alguns exemplares a preços “acessíveis”. Muito provavelmente apenas por mais algum tempo…