A evolução da tecnologia é uma coisa boa que, vez por outra, carrega consigo alguns percalços. Já pensou nisto: os puxadores retráteis das portas podem ser perigosos? Apostamos que nunca pensou nisso e, não raras vezes, já vociferou contra aqueles puxadores que nunca sabemos como funcionam. Com toda a certeza podemos culpar a tecnologia, mas este tipo de puxador de abertura de porta já existe há muitos anos. Provavelmente teremos de culpar os estilistas. Mas regressa a pergunta: os puxadores retráteis das portas são, ou não, perigosos?
Quando são introduzidas soluções que acabam por ser menos eficientes que as existentes, a tecnologia não serve para nada. Numa época onde a tecnologia é resposta para quase tudo, instalou-se um ceticismo que leva a maioria a questionar se a tecnologia é uma bênção ou uma maldição.
Evoluções tecnológicas ou de estilo?
A maior parte dos construtores escolheu os comandos hápticos (sensíveis ao toque), com toda a certeza, não por uma questão de estilo, mas por uma questão económica. E alguns foram ainda mais longe ao migrarem quase todos os comandos para dentro do oceano de menus e controlos do ecrã do sistema multimédia dos veículos.
Esta tendência, que veio tomar o lugar de outra tendência igualmente ineficaz (a dos milhares de botões espalhados pelo volante e pelo tabliê), extremou-se e levou a EuroNCAP a apontar o dedo. Quem começou? Talvez a marca liderada por Elon Musk…
Tecnologia pode ser um problema
Por conseguinte, o organismo europeu diz que esta sistemática escolha de botões sensíveis ao toque e a migração dos comandos para o sistema multimedia é perigosa. Porquê? Por que ao passar a maioria das funções para dentro de um ecrã ou para botões sensíveis ao toque, obriga-se o condutor a tirar os olhos da estrada aumentando, bastante, o risco de um acidente.
Com toda a certeza isto acontece com muitos automóveis e, particularmente, com a Tesla. A marca norte americana, claramente, exagerou ao colocar tudo concentrado no enorme ecrã. Atualmente o comando dos piscas está no volante, e até o seletor das velocidades (PRND) está no ecrã do sistema multimedia!
Estilo versus tecnologia, quem ganha?
Com efeito, muitas vezes a forma sobrepõe-se à função. Quem não lembra algumas carrinhas que tinham bagageiras ridículas porque sacrificadas no altar do estilo? Uma moda recente – que, como sucede com a moda, é um reciclar de uma tendência do século passado – são os puxadores retráteis das portas.
Assim, de repente, vêm à memória carros como o Tesla Model S, Range Rover Velar, Mercedes-Benz Classe S, Mercedes-Benz EQS e mais alguns como o Aston Martin DBX, enfim, a lista de carros com esta tecnologia acaba por ser mais longa do que pensávamos. A DS também os usa, e até o novo Renault Megane conta com eles. A mesma solução já foi adotada pela Kia para citar apenas mais um exemplo.
Razões para esta tendência? Em primeiro lugar porque fica mais bonito. Em segundo lugar porque adiciona um fator “wow” a cada paragem. Finalmente, porque uma carroçaria lisa sem perturbações é mais favorável aerodinamicamente.
E quem é o perdedor?
Além disso, temos de distinguir entre os puxadores retráteis manuais e os elétricos que saltam, do nicho e regressam a ele de forma automática. Os primeiros são apenas uma chatice e, vez por outra, entalam-nos os dedos. Mas não é nenhum problema fatal.
Já os segundos… são bem mais perigosos. E o automóvel clube da Alemanha (ADAC) debruçou-se sobre este assunto. E as conclusões não são muito positivas.
Em primeiro lugar, em caso de acidente e corte de energia, o puxador da porta dificilmente sairá do nicho, o que causará perturbação na prestação dos primeiros socorros. Em segundo lugar, os ocupantes, caso consigam, terão dificuldade em abrir as portas por dentro, visto o sistema de fecho central ficar bloqueado. Ou seja, não são boas notícias e, aqui, quem perde é, claro, o utilizador.
EuroNCAP testa os puxadores das portas
Com o fim de perceber se haverá testes por parte da EuroNCAP aos puxadores retráteis das portas depois destes testes da ADAC, questionámos o organismo europeu. A resposta foi rápida e assinalou que nenhum automóvel testado registou algum problema com estes puxadores. E que nenhum dos modelos, particularmente o Tesla Model S, foi penalizado ou impedido de obter as cinco estrelas por essa via.
Diz a EuroNCAP que as forças de abertura das portas e o desbloqueio do veículo após um acidente não colocou nenhum problema e permitiu que as portas fossem abertas do exterior.
Sem defeitos… mas!
Apesar disso, a ADAC continua a defender uma solução mecânica e não automática para os puxadores das portas. Assim tudo funcionará apesar de um corte de eletricidade em caso de acidente. Por outro lado, o organismo alemão recomenda que leia, atentamente, o manual de instruções do veículo na parte de destrancar pelo interior em caso de acidente. O martelo de emergência não é grande solução, pois com os vidros laminados é pouco eficaz.