O que leva um casal a ligar o Polo Norte ao Polo Sul ao volante de um carro 100% elétrico durante 10 meses? “A paixão pelo automóvel e pelos veículos elétricos” confessou-nos Chris Ramsey uma das caras da Expedição Nissan Pole to Pole. Julie Ramsey, a outra face lembrou que tudo começou “com um Nissan Leaf em 2017 quando fizemos o Rali da Mongólia e o carro não tinha mais de 130 km de autonomia!” Portanto, ligar os dois pólos num Nissan Ariya foi uma “loucura controlada”.
A verdade é que Chris e Julia Ramsey fazem isto “há mais uma década.” Então quisemos saber como tudo começou. Com um enorme sorriso, Chris Ramsey confessou que “a génese está no Nissan Leaf que descobrimos em 2016 com apenas 140 km de autonomia. Claro que sendo um enorme apaixonado pelo automóvel e pela tecnologia, fui, imediatamente, seduzido pela mobilidade elétrica. Com toda a certeza não só pela tecnologia, mas também pela defesa do ambiente.”
Paixão pela aventura
Estivemos à conversa com Chris e Julie Ramsey por ocasião do Salão do Automóvel Híbrido e Elétrico, ambos transparecendo uma simpatia e alegria imensas com o interesse gerado por esta aventura. “Tivemos, até agora, a oportunidade de conhecer pessoas muito simpática” lembrou Julie, que de imediato acrescentou “e Portugal não foge à regra!”
Ambos são “apaixonados pela aventura e a verdade é que nos fomos envolvendo em projetos cada vez maiores.” Até que um dia decidiram “levar o nosso Nissan Leaf até ao Rali da Mongólia.”
Para quem não conhece, são 16 mil quilómetros que ligam Londres, no Reino Unido à à parte norte da Mongólia, perto da Sibéria. Perante a minha cara de espanto, Chris e Julie sorriram e contaram a aventura.
“Foi uma grande loucura ligar os dois países em 65 dias. Conhecemos algumas dificuldades com os carregamentos, pois o Leaf não fazia mais de 140 km e a rede de carregamento, na época, era muito diferente” disse Chris. Lembrando Julie que “há cerca de uma década que fazemos estas aventuras.” Por outro lado, Chris Ramsey, nascido na Escócia (Aberdeen), destacou que “a paixão por estas coisas foi espoletando o desejo de fazer aventuras cada vez maiores.”
Claro que foi o Rali da Mongólia que os levou mais além. “Claro que sim. E como disse, foi uma loucura fazer esta viagem de 65 dias” confessaram Chris e Julie.
Carregar o carro contando com a boa vontade alheia
Naturalmente que carregar o carro com tão pouca autonomia foi uma dificuldade. “Na verdade, cruzamos o Cazaquistão, entrámos na Rússia e na Sibéria até descer à Mongólia. Claro que nessa altura não havia postos de carregamento e, por isso, tivemos de confiar na boa vontade de estranhos que aceitavam que dois estrangeiros lhes pedissem para carregar, na sua casa, um automóvel elétrico!”
Julie lembra que esta situação “altera a perspetiva das coisas. Podemos pensar ‘oh não há carregadores’, mas temos sempre uma tomada doméstica que resolve o problema. Sim, leva muito mais tempo. Mas a beleza disto quando estamos numa aventura é que desaceleramos, temos tempo para conhecer os locais e as pessoas da região, comer com as pessoas e bebemos conhecimento das pessoas. E isso, quando nos propomos a uma aventura é o essencial!”
Por outro lado, Julie Ramsey lembra que “ficamos a conhecer muita gente, eles ficam a conhecer-nos e apesar de continuarem a pensar que somos uns grandes malucos (risos) a nossa perspetiva sobre a vida muda. E a verdade é que apesar de tudo isto, conseguimos chegar ao final da prova!”
E que tal ligar dois polos? Expedição Nissan Pole to Pole!
No final do Rali da Mongólia, Chris e Julie ficaram a pensar. E que tal ser mais ousados? “Quando terminamos o Rali da Mongólia pensamos na forma de forçar ainda mais os limites. Como é que poderíamos ir mais longe” comentou Chris, referindo que “queríamos inspirar pessoas, levá-las a conhecer a mobilidade elétrica. Como é que poderíamos fazer isso? Foi aí que decidimos, teria de ser com uma expedição.”
Olharam para um mapa-mundo que tinham em casa e pensaram em ligar as Américas, mas olhando mais longe, que tal ligar os dois Polos?
“O desejo de mostrar as capacidades dos modelos 100% elétricos levou-nos a esta decisão de ligar os dois Polos” exclamou Chris que desfiou as razões para esta aventura. “Quisemos desmistificar as ideias pré-concebidas em redor dos modelos elétricos. A questão das temperaturas, as grandes distâncias que as autonomias não permitem. O facto de não haver infra estrutura de carregamento não permite andar de EV, enfim, derrubar mitos.”
Como referiu Julie “quisemos desmistificar tudo isso com uma expedição que nunca foi tentada ou realizada.” Por outro lado, a esposa de Chris Ramsey lembra que “todos sabemos o que se passa no planeta e que precisamos de soluções de mobilidade mais amigas do ambiente. Com toda a certeza, os veículos elétricos são parte da solução. Nos adoramos veículos elétricos e acreditamos que conseguimos derrubar alguns mitos com esta nossa aventura.”
Sete anos para conseguir colocar de pé a aventura
Se está a pensar que foi uma tarefa fácil colocar de pé a “Nissan Pole to Pole Electric Vehicle Expedition”, Chris Ramsey coloca a mãos na cabeça e deixa um desabafo. “Foram precisos longos sete anos para conseguir montar esta aventura. A logística, planeamento, equipas de suporte, burocracia, financiamento, enfim, uma série de montanhas que tivemos de escalar, mas que acabaram por ser ultrapassadas, por exemplo, com a chegada de parceiros como a Nissan. Foi a marca que nos ajudou a resolver muitos dos problemas e nos entregou um carro estupendo.”
Em primeiro lugar, a Nissan percebeu o alcance que uma aventura destas teria no que concerne a mobilidade elétrica. Em segundo lugar, o Ariya foi a escolha lógica para quem estava a lançar o carro no Velho Continente e pelo conhecimento que Chris e Julie tinham de ter feito o Rali da Mongólia com o Leaf. Finalmente, restava escolher a versão.
“Optámos pelo e4FORCE, pois os dois motores elétricos ofereciam tração integral e com uma bateria de 87 kWh, teríamos mais alguma autonomia” esclareceu Chris que lembrou de ter verificado autonomias de 500 quilómetros.
Um Nissan Ariya (quase) de série
O Nissan Ariya e4FORCE passou pelas mãos da conceituada Arctic Trucks, preparador especializado em veículos radicais para expedições igualmente radicais. “Mas a verdade é que o carro poucas alterações sofreu” confessa Chris Ramsey. “Bom, como podemos ver a mais evidente são estes pneus BF Goodrich de 39 polegadas em jantes especificas para este tipo de pneu. Depois houve que modificar as cavas das rodas para caberem estas borrachas gigantescas e mexer na suspensão aumentando a distância ao solo. Há uma placa de proteção inferior para as baterias e barras à frente a atrás para nos permitir resgatar o veículo em caso de necessidade. Finalmente, um suporte para a tenda no tejadilho.”
O carro ficou pronto, mas Chris Ramsey quis incluir dois extras de última hora. “É verdade! (risos) Como adoro café instalei uma segunda bateria carregada com luz solar que fazia funcionar uma máquina de café!”
Muitas “estórias”
Com toda a certeza, uma aventura que durou 10 meses, percorreu mais de 30 mil quilómetros desde o Polo Magnético Norte de 1823 até ao Polo Sul na Antártica, acumulou muitas “estórias”.
Tudo começou em março de 2023 e o percurso atravessou paisagens glaciares, planícies, florestas, desertos, enfim, uma diversidade a que o Nissan Ariya respondeu, sempre, com eficácia. “Só tivemos um furo ao atravessar o Perú. Mas nem sequer tivemos de recorrer ao apoio… reparámos o pneu numa oficina local e seguimos viagem!”
Juntamente com a equipa de apoio, necessária perante as condições extremas que foram encontrando, conseguiram levar a missão até final. Chris Ramsey confessou-nos que “nas zonas dos polos tivermos de recorrer a um gerador a gasóleo, mas porque no meio do gelo não há carregadores (risos).” Porém, “fizemo-lo com o maior sentido de responsabilidade e da forma mais eficiente possível.” Por outro lado, um dos carros de apoio tinha uma turbina eólica que gerava energia que era, depois, injetada no Ariya. Com toda a certeza, a ajuda dos concessionários Nissan foi instrumental. Muitos instalaram postos de carregamento “e fizeram muitas vistorias ao Ariya, embora ele se tenha comportado sempre de forma perfeita.”
Expedição Nissan Pole to Pole: um desafio pessoal intenso
Com o fim de perceber como foi estar 10 meses dentro de um automóvel, perguntei ao Chris e à Julie como resistiram a tanto tempo dentro do Ariya. “Há quem diga que a maior conquista desta expedição foi mantermos o nosso casamento (gargalhada)!” E Julie confirmou isso ao dizer que “foi um enorme desafio manter as emoções controladas ao longo de 10 meses fechado num carro.”
Lembra Chris que “todos os dias eram diferentes. Dormimos todos os dias em locais diferente, comíamos de tudo e com muitas novidades pelo meio.” Por outro lado, como nos disse Julie “tínhamos de lavar a nossa roupa, fazer a higiene pessoal e sempre a pensar como é que conseguiríamos fazer tudo isso no dia seguinte.”
Ainda por cima havia limitações de tempo. “Foi o mais complicado” confessou Chris. “Seguíamos atrás de janelas temporais como, por exemplo, no Ártico. Tínhamos de o ultrapassar até abril, já no limite do degelo. Por outro lado, na Antártica só poderíamos entrar em dezembro. Agora imagina que nos atrasamos quatro dias e já havia demasiada água e menos gelo…”
E o futuro?
A conversa seguia solta e muitas histórias foram contadas, mas uma ficou-me na retina. Aconteceu no Chile quando só tinham dois por cento de bateria. Aproximaram-se de uma bomba de combustível e perguntaram por uma ficha. Só havia uma… na casa de banho no lado de fora do posto. Foi assim que “durante quatro horas estivemos dentro do carro ligados à corrente e a rezar para que ninguém desligasse a ficha (gargalhadas)” lembram Chris e Julie Ramsey.
E o futuro? “Para já estamos a celebrar o sucesso desta expedição” diz Chris. “Foi a primeira vez na história que qualquer veículo conseguiu ligar os dois polos” e Julie lembra que foi “fantástico ter sido um carro elétrico a ter conseguido fazê-lo.” Com toda a certeza, o próximo passo será fazer um livro com todas as histórias e as fotos feitas ao longo de dez meses “para partilhar com as pessoas aquilo que passamos ao longo deste tempo. Partilhar será a nossa próxima aventura. Claro que vão haver mais aventuras, mas por agora estamos a celebrar e depois veremos o que poderemos fazer” disse no final Julie Ramsey.