Renascimento da Lancia está a ser complicado

Parecia promissor, mas o renascimento da Lancia está a ser mais complicado do que, certamente, esperavam na Stellantis.

Após 13 anos sem lançar um novo modelo, outros tantos, confinada a Itália com um único modelo, a Lancia apresentou-se com um novo Ypsilon. O renascimento da Lancia era promissor, mas os primeiros meses de 2025 mostram uma realidade muito diferente. Que coloca, mesmo, a sobrevivência da marca em causa numa altura em que a Stellantis atravessa mar picado com ventos contrários. Afinal, qual é o problema da Lancia?

De acordo com alguns analistas, o problema da Lancia reside… em quase tudo! Com toda a certeza não será assim, mas há algumas coisas que nos fazem pensar. Em primeiro lugar, a Lancia esteve dezena e meia de anos fora do mercado presa no mercado italiano. Em segundo lugar, passaram-se 13 anos sem apresentar um novo modelo. Finalmente, o posicionamento Premium que foi a ideia que “matou” a Lancia no século passado.

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Preços, imagem, desconfiança

Pense comigo: é um apaixonado pela marca e quando sabe que vai ser lançado um novo modelo para relançar a marca, o que é faz? Se for possível, compra o carro! Mas se lhe disserem que o valor pedido é muito superior aos rivais? E se souber que a base do carro pelo qual lhe pedem um valor extra é um modelo muito mais barato?

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Na essência, o Lancia Ypsilon é um Peugeot 208. Ou um Opel Corsa. Pronto, há quem diga que é mais bonito, mas esta é a verdade. Por outro lado, a Lancia está há muito tempo fora do mercado e nem todos têm a cultura desportiva para lembrar os feitos da casa italiana nos ralis. Finalmente, de outra forma seria impossível fazer a marca renascer. É verdade que o Gamma (um crossover de topo) será, eventualmente, lançado em 2026 e que o Delta estará de regresso em 2028.

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Inovação foi palavra de ordem… no passado!

Nunca foi uma marca Premium, antes uma marca inovadora que ofereceu inúmeros avanços tecnológicos. O Theta foi o primeiro carro a oferecer um sistema elétrico completo de série. O Lambda foi o primeiro a ter um chassis monobloco e foi, também, o primeiro a ter suspensão independente à frente com a mola e o amortecedor juntos.

A primeira caixa de 5 velocidades foi da Lancia (Ardea) e o primeiro V6 de produção em série apareceu em 1950 no Aurelia. A Lancia foi o primeiro construtor a lançar um motor V4. Foi a primeira marca a usar suspensões independentes nos dois eixos e a primeira a usar o sistema Transaxle em carros de série.

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Renascimento da Lancia não pode passar pelo segmento Premium

Com toda a certeza, o ano de 2011 foi crucial para o desfecho da marca. A criação da Fiat Group Automobiles trouxe modelos Chrysler para o Velho Continente com símbolos Lancia. O 300 passou a Thema, o 200 Convertible a Flavia e o Voyager ficou com o mesmo nome. Curiosamente, os Lancia vendidos em mercado com volante do lado direito passaram a chamar-se… Chrysler.

O calvário acabou em 2015 e a marca desapareceu do mercado europeu, permanecendo em Itália com o Ypsilon. E recuando um pouco mais, percebemos que o desejo de fazer da Lancia uma marca Premium foi um desastre. Nunca mais a marca repetiu o sucesso do Delta que, sendo um carro normal – que até foi carro do ano em 1980 –  tinha uma versão turbo com tração integral e foi usada com enorme sucesso nos ralis.

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O aparecimento do Lancia Ypsilon Rally4 (um Peugeot 208 Rally4) deu alguma esperança aos adeptos da marca, mas parece que a paixão pela Lancia não se reflete na venda de carros. E sem venda de carros é a sobrevivência da marca que está em jogo.