É uma das uniões mais antigas da indústria automóvel e conheceu sobressaltos que igualam a realidade dos casamentos. Esteve perto do divórcio com a Nissan a procurar os braços da Honda para recuperar das feridas. O namoro não deu em nada, a Nissan mudou de CEO e a Renault parece disposta a dar uma mãozinha. Com custos, claro, mas, claramente, a Aliança Renault Nissan transfigura-se. resta saber se para melhor ou para o divorcio final.
Com toda a certeza que as coisas não vão ficar como antes. De acordo com as informações disponibilizadas, está aberta a porta para a redução das participações cruzadas e para a venda de mais capital das duas empresas. Isto numa altura em que a prioridade da Nissan é sanear as finanças.

Aliança Renault Nissan transfigura-se
Em primeiro lugar, a Renault e a Nissan vão reduzir até um mínimo de 10% a participação cruzada. Era de 15%. Em segundo, a casa japonesa abdicará da empresa de produção indiana deixando o controlo à Renault. Finalmente, a Renault libertou a Nissan de um compromisso assumido anteriormente de investir na Ampere, a divisão elétrica da Renault.
Dessa maneira, a Nissan poupa 600 milhões de euros! É verdade, era esta a soma que a Nissan se tinha comprometido investir na divisão elétrica da Renault. Porém, a Ampere desenvolverá o novo modelo da Nissan para o segmento dos citadinos que terá por base o novo Renault Twingo.

Estará a Aliança a desfazer-se?
Como referimos, a aliança entre franceses e japoneses tem sido tudo menos fácil. Quer dizer, enquanto o todo-o-poderoso Carlos Ghosn mandou nas duas companhias, o cenário era de lua de mel.
Com o império Ghosn a desmoronar-se, muito por culpa da Nissan, a aliança entrou em convulsão. E por entre rivalidades mais ou menos mesquinhas e desconfiança mútua – com a Nissan a ter tentado ficar no colo da Honda sem sucesso – a casa liderada por Luca de Meo tem vindo a desfazer a aliança.

Quais são as razões para estas mudanças?
Porém, a Renault ainda é dona de 36% da Nissan e, assim sendo, não tem interesse que a casa japonesa entre em sérios problemas. Porque isso iria afetar – como já o fez – afetar as contas da Renault.
Como explica o responsável financeiro da Renault, Duncan Minto, em declarações á imprensa, “as decisões tomadas dão à Nissan uma flexibilidade adicional, possibilitando a venda de ativos e aumentar o seu fluxo de tesouraria.”
Por outro lado, Luca de Meo, CEO do Grupo Renault, veio dizer que “temos um forte interesse em ver a Nissan recuperar o seu desempenho o mais rápido possível.” Pudera!
Dessa maneira, a Renault poderá comprar os 51% da “joint venture” na Índia, ajudando a Nissan e alargando a presença da casa francesa no mundo. Acredita-se que até final do primeiro semestre tudo esteja concluído.
Em contrapartida, a Nissan deixa de fabricar automóveis na Índia e passa a concentrar-se nas vendas e nos serviços. Será a Renault a assumir as rédeas da produção local e vai produzir para a Nissan. Por outro lado, a Renault quererá dinamizar uma unidade de produção que pode produzir 400 mil carro/ano e que está a funcionar a um terço dessa capacidade.

Renault com saúde, Nissan nem por isso
E porque as perceções são importantes, a Renault já veio confirmar que o “free cash flow” da marca em 2025 será de 2 mil milhões de euros. Poderia ser ainda melhor não fossem os 200 milhões de euros de impacto que a aquisição da joint venture na Índia nas contas.
Contas feitas, a Nissan pode poupar 800 milhões de euros com a saída da Índia e a desobrigação de investir na Ampere. Um balão de oxigénio para Ivan Espinosa, o homem que vai assumir a liderança da companhia japonesa. E que já referiu em comunicado que “a Nissan está empenhada em preservar os valores e os benefícios no seio da Aliança, ao mesmo tempo que tem de implementar medidas de recuperação para aumentar a eficiência.”