Se há coisa que se reconhece aos italianos, nomeadamente na indústria automóvel, é bom gosto e uma tendência natural para diferentes soluções ao nível da mecânica e tecnologia, envoltas num embrulho muito atrativo que provoca desejo e que faz com que ainda hoje, 109 anos depois, consigamos reconhecer o encanto de algumas obras de arte e de design nas quais foram colocadas quatro rodas, um motor e, na maioria dos casos, uma aerodinâmica de exceção.
À Alfa Romeo reconhecem-se alguns dos mais elegantes automóveis. Nomes como Giugiaro, Zagato, Bertone ou Pininfarina fazem parte da história da marca que esteve desde sempre ligada à competição. É de beleza com um estilo e design extasiantes e de desportividade e competição que nos fala este Alfa Romeo 4C.
A perfeição? Longe disso…
Para além de uma relação peso/potência arrebatadora no tal embrulho irresistível, o 4C é um verdadeiro apelo aos sentidos. A oportunidade de o conduzir surgiu com esta versão ainda mais especial, ou não fosse ela uma edição limitada a 108 unidades, com características exclusivas a começar pela cor “Azul Misano” e a terminar num escape duplo da Akrapovic também ele com estrutura em fibra de carbono, passando por outros pormenores como as jantes especiais de 18” à frente e 19” atrás. 108 unidades por ser a idade da marca à data do lançamento desta série, 2018.
Já lá vai um ano, mas há carros que também têm destas coisas, são intemporais! Não só é um dos mais falados Alfa Romeo da atualidade, a par do Giulia Quadrifoglio que destacamos na última edição, como também um pedaço de história da marca. A experiência de condução vale a pena ser vivida, afinal estamos sentados no chão, dentro de uma estrutura monocoque em fibra de carbono sem qualquer tipo de mordomia e que depressa nos faz perceber que requer alguma experiência para se deixar levar. É aqui que começamos a nossa associação ao género feminino… o Alfa Romeo 4C é um automóvel de personalidade vincada!
Os primeiros momentos a sós são de contemplação, descoberta e… aprendizagem!
Contemplação de linhas exuberantes e inegavelmente bem esculpidas, com uma traseira larga, um altura ao solo mínima e uma distância entre eixos igualmente curta. Descoberta do funcionamento e posição de alguns comandos, nomeadamente o de abertura da pseudo-bagageira posicionado na estrutura e só acessível com a porta aberta. Aprendizagem de todas as reações e atitudes de um automóvel nada fácil com vários aspetos “sui generis” como o pedal do travão sem qualquer feedback de travagem, a direção não assistida, pouco precisa e que se deixa interferir pelas irregularidades, e a distribuição de peso com incidência na traseira fruto do motor 1.7 l com posição central.
O reduzido peso, inferior a uma tonelada, e os 240 cv com uma caixa automática de dupla embraiagem de acionamento rápido e preciso, aprimorada nos modos desportivos, fazem com que se adquira velocidade com uma rapidez estonteante mas seja nesses momentos como naqueles em que escolhemos uma estrada de montanha a ritmos proporcionalmente elevados, é preciso manter o 4C de rédea curta, muito por culpa de um eixo dianteiro pouco comunicativo e uma suspensão muito castigadora, que se não contribui para qualquer tipo de conforto, também não ajuda em estrada sinuosa.
O Alfa Romeo 4C é um desportivo exigente, com uma relação peso/potência única!
O som que acompanha a festa!
A estragar a nossa capacidade de resistir está um escape Akrapovic com um som fenomenal e que faz naturalmente toda a diferença alertando para a nossa presença a quilómetros de distância. O interior é simples, focado na condução. O único aspeto moderno que encontramos é um painel de instrumentos totalmente digital. Tudo o resto é simples mas sente-se como especial e faz parte do propósito do 4C que é o foco na condução. Talvez o carbono à vista também contribua para tal. Deixemos a ginástica para conseguir “cair” dentro do 4C ou os botões da caixa pouco práticos e o desconforto de lado. Este é um automóvel que nos fala de outras coisas. Fala-nos essencialmente de emoções e de paixão! Por onde passamos os olhos acompanham-nos e as cabeças viram à nossa passagem como se da mais bela e atraente mulher se tratasse.
Mas como ela, também o Alfa Romeo 4C está muito longe da perfeição, a marca reconhece-o inclusivamente pela falta de verba para terminar o projeto. No entanto e a ainda assim, é um automóvel viciante de conduzir e que nos faz sentir vivos. Quanto mais o conduzimos e nos vamos moldando e habituando aos seus defeitos, mais nos apaixonamos.
A condução é exigente mas mecânica, sem filtros, onde se ouve cada som metálico e se sente cada engrenagem. Seja pela condução, pelo som, pela experiência que é o impulso de cada passagem de caixa, pela quase ausência de suspensão ou pela ausência de um espaço para colocar o telemóvel a carteira e as chaves de casa, o 4C consegue proporcionar momentos únicos ao volante, que nesta versão Spider permitem deixar o teto em casa para melhor ouvir o Akrapovic lá atrás.
Saudades deste 4C… mesmo com todos os seus defeitos. Afinal, não são defeitos, é feitio…
Ficha Técnica
1742 cm3
Cilindrada
350 Nm
Binário Máximo
240 cv
Potência
4,5 s
0-100 KM/H
258 km/h
Velocidade Máxima
6,8 l/100 km
Combinado
10,7 l/100 km
Registado
161 g/km
Emissões CO2
89 150€
Base
91 644€
Ensaiado
Motor + caixa. Som.
Travagem. Direção. Suspensão.