Quando tudo o que podia correr mal acaba por acontecer, diz-se que “há dias de manhã que à tarde não se deve sair à noite”. Aconteceu à Hyundai no Rally de Portugal 2021. Andrea Adamo, o patrão da Hyundai Motosport, ainda deve estar a pensar como é que perdeu o Rali de Portugal.
A primeira prova do Mundial de 2021 em pisos de terra prometia ser uma carga de trabalhos para os pilotos da Toyota, Hyundai e M-Sport, nem falando dos que alinharam no WRC2 e WRC3. No menu estavam 337,51 km de provas especiais de classificação num total de 1514 km a percorrer em três dias. E entre as 20 classificativas, duas super especiais – Lousada e Porto – o longuíssimo Amarante com 37,92 km e os dois troços eleitos pelos adeptos do Mundial de Ralis como os melhores do Mundo: Arganil e, claro, Fafe.
Vantagens para a Hyundai…
O primeiro dia do Rally de Portugal 2021 deixou claro que com os pneus macios da Pirelli, os Hyundai i20 WRC estavam muito á vontade. Primeiro troço em piso de terra do Mundial 2021 e uma tripla da casa coreana com Ott Tanak, Dani Sordo (a estrear Borja Rosada no banco do lado direito) e Theirry Neuville.
Sendo o primeiro na estrada, Sebastien Ogier olhava para a humidade nas estradas de terra da Serra da Lousã com alguma esperança de não perder muito tempo. Com apenas 5,1 segundos perdidos no primeiro troço, o francês avançou confiante para os 20 km de Góis. Os 11 segundos perdidos para Dani Sordo – e uma vez mais a Hyundai a fazer 1, 2 ,3! – estilhaçaram essa confiança e, até ao final do dia, Ogier perdeu muito tempo. Perda de tempo cifrada em 24 segundos.
O domínio da Hyundai começava a esboroar
Primeiro com Dani Sordo a ter problemas com os pneus Pirelli, depois quando Thierry Neuville, no regresso do troço de Mortágua ao Rally de Portugal, atirou com o Hyundai i20 WRC contra um morro. Este capotou e destruiu a suspensão traseira do lado direito.
Arrastou-se até final do troço prejudicando, claramente Elfyn Evans. Mas o galês teve aqui o seu momento de sorte: Sebastien Ogier fez o melhor tempo em Mortágua, Ott Tanak e Dani Sordo fizeram maus tempos (Tanak perdeu 9 segundos para Ogier e Sordo 21,3 segundos). Como o colégio de comissários desportivos foi sensível à perda de tempo atrás de Neuville, ofereceu-lhe o mesmo tempo de Ogier!
Foi o suficiente para dar salto até ao segundo lugar a apenas 2,7 segundos de Ott Tanak. O circuito da Costilha em Lousada fechou o primeiro dia e Tanak não desperdiçou a oportunidade de triplicar a sua vantagem face a Evans, dormindo na liderança do Rally de Portugal 2021.
… dificuldades para a Hyundai
Mas na Hyundai todos estavam apreensivos. Neuville tinha destruído o carro, recuperado para regressar no dia seguinte em “Super Rali”, mas havia mais problemas no i20 WRC do belga. E os carros de Portugal vão ser usados na Sardenha!
A equipa de Andrea Adamo usou as três horas disponíveis para recuperar o carro do belga que se apresentou à partida da segunda etapa. Mas não foi muito longe…
Gus Greensmith, ao volante do Ford Fiesta WRC da M-Sport, surpreendeu. Tendo a seu lado Chris Patterson, um experiente e reputado navegador, o ex-guarda redes júnior do Manchester City mudou totalmente a sua abordagem e não fosse um furo que o fez perder mais de um minuto e destruiu a lateral esquerda do Fiesta, poderia estar a lutar pelo pódio.
O segundo dia do Rally de Portugal 2021 começou como acabou o primeiro, com Ott Tanak a ganhar e Ogier a chegar ao quarto lugar por troca com Takamoto Katsuta. O japonês está cada vez veloz e começa a “incomodar” os titulares da Toyota.
O sete vezes campeão do mundo passou pelo japonês em Vieira do Minho, para devolver o quarto lugar a Katsuta devido a um pequeno erro que lhe custou 10 segundos. Só recuperou a posição na segunda passagem por Vieira do Minho, relegando Takamoto Katsuta para o quinto posto.
Entretanto, Ott Tanak “limpava” a primeira ronda por Vieira do Minho, Cabeceiras de Baixo e o “monstro” Amarante e chegava à Exponor com 19,2 segundos de vantagem para Elfyn Evans e 25,3 segundos para Dani Sordo.
Ataque da Toyota com Elfyn Evans
Após o almoço, Elfyn Evans tentou a aproximação com uma vitória em Vieira do Minho, Ogier ganhou o quarto lugar e à entrada da segunda passagem por Amarante, Ott Tanak tinha generosos 22,5 segindos para Evans, 33,7 para Sordo e 1m18,9s para Ogier. A pouco mais de 40 km do final da dura segunda etapa, o piloto estónio tinha tudo para sublinhar o domínio da Hyundai com a segunda vitória em Portugal.
Os 37,92 km de Amarante tomaram as rédeas do rali e mudaram quase tudo! Kalle Rovanpera, que andou o primeiro dia com dificuldades nos pneus e uma afinação errada no Toyota Yaris, juntou insulto ao prejuízo ao ver-se forçado a abandonar devido a um problema mecânico. A equipa pediu-lhe para não entrar no troço e seguir direto para a Exponor.
Depois, foi a vez do azar bater à porta de Ott Tanak. À passagem pelo quilómetro 34,1, a suspensão traseira do lado direito partiu-se. O piloto, campeão do mundo em 2019 e vencedor do Rally de Portugal em 2019, insistiu em prosseguir até ser forçado a imobilizar o i20 WRC com a traseira destruída.
Era o final de prova para Ott Tanak e o desmoronar da superioridade da Hyundai no Rally de Portugal para enorme desapontamento de Andrea Adamo.
Momento de sorte para a Toyota
O momento de sorte de Elfyn Evans na primeira etapa pagou dividendos nesta altura, oferecendo-lhe o primeiro lugar, com Dani Sordo atrás de si. Ogier chegou assim ao pódio, quando uns quilómetros antes o quarto lugar era o seu destino.
Dani Sordo ficava, uma vez mais, na ingrata posição de conquistar pontos para a Hyundai, pois estava sozinho em prova.
Enfyn Evans ganhou em Amarante e, prudente como sempre, deixou que Sordo – apesar de um carro ferido com um motor de arranque avariado e pneus quase nas lonas – vencesse a super especial do Porto. Perdeu tempo, mas o galês estava com tudo controlado.
A terceira etapa acabou por ser menos interessante porque Evans sublinhou a justiça da sua vitória com um par de melhores tempos, inviabilizando qualquer recuperação por parte de Dani Sordo.
O espanhol desistiu de perseguir o galês após a primeira passagem por Fafe, sem pneus, sem andamento e com a voz de Andrea Adamo a ecoar na cabeça a dizer-lhe que tinha de levar o i20 WRC até final.
Sem surpresas, os melhores tempos na “Power Stage” foram para Ott Tanak e Thierry Neuville, fraca consolação para quem dominou a prova até os problemas surgirem um atrás do outro.
Contas feitas
Contas feitas, vitória para Elfyn Evans, segundo lugar para Dani Sordo e terceiro para Sebastien Ogier, que manteve o comando do campeonato de pilotos e será o primeiro na estrada no Rali da Sardenha que se realiza nos dias 3 a 6 de junho.
No Mundial Junior de Ralis, vitória para Martin Sesks, seguido de Sami Pajari e de Robert Virves, todos ao volante do Ford Fiesta Rally4.
Destaque, ainda, para a brilhante vitória de Esapekka Lappi (VW Polo GTI R5) no WRC2, na frente de Teemu Suninen (Ford Fiesta Rally2) e de Mads Ostberg (Citroen C3 Rally2), enquanto que no WRC3, foi Kajetan Kajetanowicz (Skoda Fabia Evo Rally2) que levou a melhor sobre Yohan Rossel (Citroen C3 Rally2) e Chris Ingram (Skoda Fabia Evo Rally2).
Portugueses no Rally de Portugal 2021
Armindo Araújo (Skoda Fabia Evo Rally2) foi 7º entre os pilotos do WRC3, mas venceu a primeira etapa que formava a competição dedicada ao Campeonato de Portugal de Ralis.
O campeão de 2020 venceu na frente de Bernardo Sousa e de Ricardo Teodósio, ambos ao volante do Skoda Fabia Evo. Bruno Magalhães foi o quarto classificado e José Pedro Fontes o quinto. Apenas Armindo Araújo, Paulo Neto e André Villas Boas fizeram toda a prova, com o treinador de futebol a conseguir divulgar a sua fundação, conseguindo o outro objetivo: ele e o seu Citroen C3 Rally2 escaparam ao último lugar da geral, ficando na frente de Hélder Miranda (Renault Clio RS R3) o último português a chegar ao final do Rali de Portugal.
Classificação final Rally de Portugal 2021
- 1º Elfyn Evans – Scott Martin (Toyota Yaris WRC) 3h38m26,2s
- 2º Dani Sordo – Borja Rozada (Hyundai i20 WRC) a 28,3s
- 3º Sebastien Ogier – Julien Ingrassia (Toyota Yaris WRC), a 1m23,6s
- 4º Takamoto Katsuta – Daniel Barritt (Toyota Yaris WRC), a 2m28,4s
- 5º Gus Greensmith – Chris Patterson (Ford Fiesta WRC), a 4m52,7s
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- 7º Esapekka Lappi – Janne Ferme (VW Polo GTI R5) 1º WRC2
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- 13º Kajeran Kajetanowicz – Maciej Szczepaniak (Skoda Fabia Evo R5) 1º WRC3
Campeonato de pilotos
- 1º Sebastien Ogier, 79 pts;
- 2º Elfyn Evans, 77 pts;
- 3º Thierry Neuville, 57 pts;
- 4º Ott Tanak, 45 pts;
- 5º Kalle Rovanpera, 41 pts;
Campeonato de Construtores
- 1º Toyota, 183 pts;
- 2º Hyundai, 145 pts;
- 3º M-Sport Ford, 64 pts;