A chuva e a tática foram os ingredientes de uma corrida louca que nos deixou colados ao ecrã para perceber se Lando Norris ia ganhar a primeira corrida na F1, se Lewis Hamilton ia chegar, finalmente, à vitória 100 ou se Max Verstappen saia de último e ganhava!
Talento transborda o corpo franzino, mas ainda falta experiência e rapidez de raciocínio a Lando Norris. A inesperada “pole position” oferecida por um anormalmente distraído Lewis Hamilton esteve quase, quase a materializar-se na primeira vitória de Norris, segunda consecutiva para a McLaren.
Chuva acabou por vencer!
Mas veio a chuva e Lando Norris não aceitou os pedidos da equipa para parar, acreditando que tinha superpoderes… a encharcada pista de Sochi não lhe deu veleidades e o britânico saiu disparado para uma escapatória, perdeu a liderança, acabou por parar e terminou a corrida que tinha tudo para ter o nome de Lando Norris escarrapachado no troféu do vencedor no sétimo lugar. Ficou com a consolação da volta mais rápida neste GP da Rússia.
As voltas iniciais mostraram que o McLaren era o mais rápido em pista, pois Norris perdeu uma posição para Carlos Sainz cujo Ferrari apanhou o conde de aspiração do McLaren e passou.
Foram precisas 13 voltas para Lando Norris ultrapassar o espanhol, mas a partir de aí o britânico desapareceu a um ritmo impressionante. Ajudado pelo McLaren e pela granulação dos pneus Pirelli do Ferrari. Sainz Jr. ainda sonhou com a vitória, mas acabou esbofeteado pela realidade.
E as paragens nas boxes ofereceram a Lando Norris um cenário ainda mais favorável: Daniel Ricciardo, o vencedor de Monza, chegou ao segundo lugar e sacrificou-se a servir de cordeiro sacrificial promovendo a fuga de Norris ao empatar Lewis Hamilton.
Táticas a ditar o resultado
O campeão do Mundo perdeu imenso tempo e foi aqui que a Mercedes “entalou” a McLaren ao simular uma paragem nas boxes que arrastou Ricciardo antes do meio da corrida. O australiano parou para cobrir a suposta tática da Mercedes e, para cúmulo, a mudança de pneus demorou mais que o esperado, atirando o segundo McLaren para fora da luta pela vitória.
Hamilton parou a meio da corrida, Norris parou pouco tempo depois e o campeão do Mundo começou a dar espetáculo em pista, recuperando o atraso para Lando Norris e colocando-se em posição de pressionar o seu compatriota.
Depois… bom, depois chegou a chuva, Hamilton parou para intermédios, Norris não parou. Hamilton voava, Norris escorregava para fora de pista. Lewis Hamilton ganhou, Lando Norris ficou em sétimo. Mercedes bateu a McLaren para tristeza de Zack Brown que ainda não tinha recebido todas as más notícias: do outro lado do lago, a equipa Arrow McLaren perdia o título da IndyCar Series quando Patricio O’Ward foi coloado fora de prova logo na primeira curva. “Damn it!”
Verstappen em segundo no GP da Rússia!
Hamilton não ficou totalmente satisfeito porque Max Verstappen veio lá da última posição da grelha até ao segundo lugar, ajudados, é verdade, pela chuva e pensamento estratégico rápido. Verstappen começou com pneus duros para se manter em pista o maior número de voltas para recuperar o maior número de lugares.
Passou pela casca de banana chamada Valtteri Bottas (que foi penalizado para ficar a chatear o holandês da Red Bull), deixou para trás Pierre Gasly, Charles Leclerc e Sebastian Vettel rumo ao top 10.
Rompeu o teto do objetivo até que ficou com Lewis Hamilton à vista e dai para diante tentou decalcar a estratégia da Mercedes. Até parou ao mesmo tempo que o seu rival, mas nunca esteve a menos de cinco segundos de Hamilton e na segunda parte da corrida, o holandês parecia resignado.
O sétimo lugar parecia-lhe destinado junto com perda significativa de pontos para Hamilton. Mas a mão divina ajudou Verstappen. Começou a chover e a Red Bull, uma vez mais, foi brilhante nas boxes, trocou os slick pelos intermédios e o holandês saltou de 7º para 2º numa mão cheia de voltas.
Limitados estavam os estragos e apesar de perdida a possibilidade de se manter na frente do campeonato, tudo está, ainda, em aberto.
A Ferrari conheceu uma profunda desilusão neste GP da Rússia com a renovada unidade de potência no carro de Leclerc a não mostrar absolutamente nada e a condenar o monegasco a um papel secundário, assumindo a casa de Maranello que seria Carlos Sainz Jr. a lutar por um lugar no pódio.
Com a tática certa, Carlos Sainz terminou no terceiro lugar, deixando atrás de si Daniel Ricciardo, Valtteri Bottas e Fernando Alonso. O finlandês já está a desligar a ficha da Mercedes e tanto se lhe dá como se lhe deu, enquanto Alonso voltou a explicar porque é um dos melhores do Mundo. Até porque manteve os slicks até ao fim e quase não se percebia que a pista estava molhada.
Atrás do triste e desanimado Lando Norris ficou Kimi Raikkonen, a regressar depois do teste positivo à Covid-19, mostrando que “velhos são os trapos”.
Uma prova espetacular este GP da Rússia, num circuito que é a antítese disso mesmo, que promoveu Lewis Hamilton ao primeiro lugar do campeonato de pilotos.
O campeão do mundo em título, Lewis Hamilton, conquistou uma recordista 100ª vitória (em 281 GP), ultrapassou a barreira dos 4 mil pontos e deu a 120ª vitória à Mercedes. Já Lando Norris reclamou a primeira “pole position” da carreira na F1, a primeira para a McLaren desde o GP do Brasil de 2012, através de Lewis Hamilton.