Perdida a luta com Hamilton na largada parecia que o conto de fadas tinha explodido para Verstappen, mas um “safety car” e uma inépcia tremenda da Mercedes entregaram o título ao piloto da Red Bull. Antes de falar sobre o que foi este GP de Fórmula 1 de Abu Dhabi tenho de dizer uma coisa: este foi o melhor Campeonato do Mundo de Fórmula 1 das últimas décadas. E digo décadas para não chocar os mais puristas que não deixam tocar em nomes como Senna, Prost, Piquet, Schumacher ou outros.
Luta até à última prova, à última volta!
Pela primeira vez tivemos verdadeira “afición” por um ou por outro piloto, com verdadeiras guerras de alecrim e manjerona entre adeptos de um lado e do outro. Voaram argumentos, impropérios e até ofensas como se estivéssemos num Porto x Benfica ou Sporting x Benfica! A Fórmula 1 foi discutida por gente que há anos não assistia a uma corrida… por gente que nem sabe o que está por baixo da carroçaria, apenas sabe que há Hamilton e Verstappen… enfim, por gente que não sabe o que é a Fórmula 1.
Por isso não tenho rebuço nenhum em dizer que este foi o melhor Mundial dos últimos (muitos) anos e assim digo, “Obrigado Lewis Hamilton”e “Obrigado Max Verstappen” por nos manterem agarrados ao televisor ao longo de tantos meses.
Evidentemente que no final, muitos choraram pela derrota de Hamilton, o homem que está igualado em número de títulos com Michael Schumacher. Muitos outros choraram e pularam de alegria pela vitória do irreverente, agressivo e sem maneiras Max Verstappen. E alguns, bastantes, sorriram e alegraram-se porque o que não queriam era ver Schumacher arredado do topo dos vencedores de mais títulos mundiais. Ou então porque odeiam a Mercedes, enfim, haverá sempre vencedores e vencidos.
Polémica na vitória de Verstappen
Porque com a vitória na corrida, Max Verstappen ganhou o título de pilotos e a Mercedes ficou com o cetro de construtores, terminando invicta no final desta era híbrida. O que se passou depois… é apenas o desespero de alguém ciente do erro cometido que se agarra às regras como um naufrago à tabua do navio.
Porém, a história da corrida teria sido outra se Nicholas Latifi não se tem despistado na volta 53, o Colégio de Comissários Desportivos tivesse pressa em tirar o “Safety Car” da pista e não tivessem a falta de coragem de manter-se firmes nas decisões e seguir os procedimentos que o regulamento diz.
Se o facto de Verstappen ter estado, momentaneamente, à frente de Lewis Hamilton é uma reclamação verdadeiramente tonta, a questão dos carros que receberam uma espécie de “free pass” é bem diferente.
Ora, diz o regulamento no Artigo 48.12 que todos os carros que tenham volta ou voltas de atraso face ao líder devem ultrapassar os carros na volta do líder e, depois, o “Safety Car”. Devem acelerar o suficiente para recuperarem o lugar no final do pelotão sem se ultrapassarem.
Numa primeira fase, a Direção de Prova não deixou que os pilotos atrasados – usando uma prerrogativa do regulamento (Artigo 48.12 – … se a direção de prova considerar que as condições da pista não são as necessárias para as ultrapassagens, será mostrada a mensagem “Ultrapassagem não permitida”) – ultrapassassem o “Safety Car”.
Nessa altura e com duas voltas para o final, os Comissários Desportivos não tiveram coragem de fazer uma de duas coisas: ou a corrida acabava em “Safety Car” porque fazendo todos os pilotos atrasados passar o “Safety Car” e recuperar a posição no pelotão essas voltas não iriam chegar; ou então, ninguém passava e a corrida recomeçaria com os pilotos nas suas posições.
Decisão polémica
A FIA e os Comissários não se quiseram assumir e tomaram duas más decisões. Primeiro não quiseram acabar a corrida com o “Safety Car” em pista e depois não quiseram ter o ónus de existirem carros entre o líder Lewis Hamilton e o segundo classificado, Max Verstappen.
Por isso, deixaram passar Lando Norris, Fernando Alonso, Esteban Ocon, Charles Leclerc e Sebastian Vettel – exatamente os carros que estavam entre Hamilton e Verstappen, mas não permitindo a ultrapassagem de Daniel Ricciardo, Lance Stroll e Mick Schumacher, estes bem mais atrás.
Isto só aconteceu porque, como dizem os brasileiros, os comissários “amarelaram” acobardaram-se e não quiseram ser protagonistas… sendo. A Mercedes errou porque acreditou que a FIA e os seus Comissários Desportivos acabavam a corrida debaixo de “Safety Car” porque não havia tempo útil para o procedimento de “free pass”.
A Red Bull jogou roleta russa e acreditou que não tinha bala na câmara, prescindido de posição em pista pelos pneus novos. Pouco tinha a perder e por isso… disparou! Christian Horner não pode agora vir dizer que os Comissários Desportivos decidem sempre contra a Red Bull…
Vitória e título de Max Verstappen
Fica a 20ª vitória de Max Verstappen no Mundial de Fórmula 1 e o seu primeiro título de Campeão do Mundo de Fórmula 1, de pouco valendo os milhares de euros que a Mercedes vai gastar com todos os apelos possíveis e imaginários, depois dos Comissários Desportivos, obviamente, terem escondido a mão e rejeitado os protestos da Mercedes feitos ainda em Abu Dhabi.
Disse no final o neerlandês que “estive sempre a lutar e claro que aproveitei a oportunidade da última volta. Ainda tenho cãibras! Tem sido um ano inacreditável. Claro que no fim houve um pouco de sorte. Quero ficar nesta equipa toda a minha vida!”
Por seu turno, Lewis Hamilton foi enorme na hora da derrota, e deu os parabéns ao novo campeão do Mundo. “Quero felicitar o Max e a sua equipa. Todos nós trabalhamos muito e arduamente. Demos tudo no final da época.”
Uma reação digna de quem tinha acabado de perder um título que estava controlado depois de bater Max Verstappen na largada. O neerlandês perdeu claramente para Hamilton e depois voltou às manobras habituais: na curva 6 tentou passar atirando o Mercedes parta fora de pista. Mas o crime não compensou.
Lewis Hamilton tem sete títulos mundiais e 103 vitórias!
A Red Bull voltou a pressionar o gelatinoso Michael Masi, queixando-se de Hamilton, mas desta vez o australiano manteve-se coerente e acabou com a conversa dizendo que os comissários desportivos não iriam decidir nada sobre o incidente.
A Red Bull ainda tentou usar Sergio Perez que ficou na frente de Hamilton e o atrapalhou entre a volta 19 e 21. O campeão do mundo de 2020 recuperou o comando, mas a missão estava cumprida: Verstappen recuperou mais de 7 segundos face ao Mercedes.
O “Safery Car” Virtual lançado devido a problemas no carro de Antonio Giovinazzi, ofereceu a Verstappen a oportunidade de colocar novo jogo de pneus duros para atacar Hamilton. Quando a corrida recomeçou, Verstappen estava a 20,2 segundos e teria de pedalar muito para ganhar o campeonato.
E a verdade é que Hamilton deu o seu melhor e com pneus absurdamente desgastados, não permitiu que o seu adversário lhe roubasse mais que umas décimas, aqui e ali perto de um segundo, mas com um ritmo que a faltarem duas mãos cheias de voltas para o final entregava o título a Hamilton.
Honda conquista sexto título de pilotos
Depois foi o que se viu e a natural vitória e título de Max Verstappen face a um Lewis Hamilton que era um “sitting duck” perante o medo paralisante da Mercedes em prescindir da posição em pista para imitar a Red Bull e trocar de pneus. Juntou-se o insulto ao prejuízo e a Mercedes ficou com a magra consolação do 8º título consecutivo de construtores.
Para a Honda, que fez a sua despedida, oficial, da Fórmula 1 (vão continuar, mas com o nome Red Bull e sem presença oficial) fica o sexto título de pilotos – Nelson Piquet em 1987, Ayrton Senna em 1988, 1990 e 1991, Alain Prost em 1989 e Max Verstappen em 2021 – falhando o sétimo título de construtores (1986 a 1991).
Carlos Sainz com novo pódio e bate Charles Leclerc
Sergio Perez teve de abandonar depois de cumprir a sua missão, deixando a Carlos Sainz (Ferrari) mais um excelente pódio, ele que fez uma corrida isolada com apenas uma paragem. Com isto e o décimo lugar de Charles Leclerc, o espanhol foi o melhor piloto da Ferrari em 2021.
No quarto lugar ficou o japonês Yuki Tsunoda (Alpha Tauri), que quis deixar uma última boa impressão a Helmut Marko, seguido de Pierre Gasly. Que ficou na frente de Valtteri Bottas, desapontante, uma vez mais, mas desta feita na última corrida com a Mercedes a caminho da Williams onde voltará para um anonimato que o atirará para fora da Fórmula 1.
Lando Norris não deu seguimento à excelente prestação feita na qualificação, ficando no sétimo lugar à frente dos dois Alpine de Fernando Alonso e Esteban Ocon que, assim, consolidaram o quinto lugar entre os construtores atrás de Mercedes, Red Bull, Ferrari e McLaren.
Palavra final para o final de carreira de Kimi Raikkonen após 350 Grandes Prémios, 19 temporadas, 21 vitórias e um título de campeão do Mundo em 2007. Saiu pela porta pequena devido a mais um abandono (o 72º da sua carreira), tal como Giovinazzi que fez a sua 62ª corrida na Fórmula 1 (provavelmente a última) tendo como melhor resultado um 17º lugar no campeonato de pilotos (2019 e 2020) e 21 pontos registados.
Classificação final GP Abu Dhabi
- 1º Max Verstappen (Red Bull Honda), 58 voltas em 1h30m17,345s;
- 2º Lewis Hamilton (Mercedes), a 2,256s;
- 3º Carlos Sainz (Ferrari), a 5,173s;
- 4º Yuki Tsunoda (Alpha Tauri Honda), a 5,682s;
- 5º Pierre Gasly (Alpha Tauri Honda), a 6,531s;
- 6º Valtteri Bottas (Mercedes), a 7,463s;
- 7º Lando Norris (McLaren Mercedes), a 59,200s;
- 8º Fernando Alonso (Alpine Renault), a 1m01,708s;
- 9º Esteban Ocon (Alpine Renault), a 1m04,026s;
- 10º Charles Leclerc (Ferrari), a 1m06,057s;
Classificação do Campeonato Mundial de Pilotos
- 1º Max Verstappen, 395,5 pontos;
- 2º Lewis Hamilton, 387,5 pts;
- 3º Valtteri Bottas, 226 pts;
- 4º Sergio Perez, 190 pts;
- 5º Carlos Sainz, 160 pts;
Classificação do Campeonato Mundial de Construtores
- 1º Mercedes, 613,5 pontos;
- 2º Red Bull Honda, 585,5 pts;
- 3º Ferrari, 323,5 pts;
- 4º McLaren Mercedes, 275 pts;
- 5º Alpine Renault, 155 pts;