O Mitsubishi Eclipse Cross não é uma novidade absoluta no mercado nacional, e recentemente viu serem renovados alguns dos seus atributos que o introduzem num dos segmentos mais concorridos da atualidade. Hoje, com um aspeto mais robusto e “musculado”, surge com recurso a uma motorização exclusivamente híbrida plug-in (PHEV) focando-se num futuro mais sustentável. Terá sucesso?
A Mitsubishi tem vindo a perder alguma relevância e peso no mercado nacional, dispondo hoje de apenas três modelos na sua oferta. De entre eles surge o Mitsubishi Eclipse Cross PHEV, que deriva do SUV Outlander, e que foi introduzido no mercado em 2018.
Contudo, surge agora numa atualização de estilo que, para além do aspeto mais desportivo, despediu-se das versões apenas a combustão e recorre agora exclusivamente a tecnologia híbrida plug-in. Sim, para quem procura este SUV-Coupé, segundo a marca, terá de optar exclusivamente por uma motorização PHEV. Vamos conhecê-lo?
Renovação no aspeto
À primeira vista o novo Mitsubishi Eclipse Cross PHEV mostra-se agora mais robusto e modernizado, ainda que seja mais notório no seu exterior. Agora com um visual mais consensual e ao “gosto europeu”, vê agora alguns pormenores serem atualizados em prol de uma identidade mais jovial. Tanto na dianteira como na traseira viu o grupo ótico ser simplificado, ao passo que o aspeto SUV-Coupé se mantém inalterado.
A nova grelha negra em linha com a nova identidade “Dynamic Shield” evidencia-se sobre a pintura branca “White Diamond” (569€), combinando com os plásticos de proteção da carroçaria. O portão traseiro foi também alvo de renovação, despedindo-se dos farolins transversais, adotando um desenho mais minimal.
Já no interior é onde se esperavam algumas melhorias, mas foi onde pouco se alterou. Sem grandes queixumes no que toca aos materiais e à qualidade de construção, mantém um aspeto tradicional mas funcional e de acabamento suave ao toque. Tal é notório, especialmente pela ergonomia e função, onde os comandos são na grande maioria físicos e bastante acessíveis.
Os bancos aquecidos e de regulação elétrica são compostos por pele e camurça, e garantem nota extra no conforto. Para os bancos traseiros pode faltar um pouco de espaço para as pernas, mas dispõe de um piso bastante plano graças à colocação da bateria. No entanto, é a bagageira que fica “uns furos abaixo” da concorrência, que mesmo com a capacidade de reclinar as costas do banco traseiro, contabilizam-se “apenas” 369 litros de capacidade. Ainda assim, tal (de)feito não fere as restantes qualidades interiores do Eclipse Cross PHEV.
Tecnologia
No capítulo da tecnologia, uma das maiores novidades é a adoção de um novo sistema de info-entretenimento tátil de 8”. Mesmo não sendo o mais avançado do mercado, dispõe de acesso a plataformas móveis através de portas USB na frente. É neste sistema que é disposta boa parte da informação do grupo propulsor, e ainda o auxílio a manobras, com recurso a câmara de marcha-atrás e sensores de estacionamento. De fácil navegação e interação, peca apenas pela baixa resolução e grafismos, comparando com os seus concorrentes.
Mas não é apenas nos grafismos datados do sistema de info-entretenimento que se encontram críticas. Na dianteira encontramos duas portas USB (convencionais), mas faltam as tomadas de carregamento para os lugares traseiros, dispondo apenas de uma tomada de 12V. Tal não só é escasso, como obriga a usar adaptadores para um simples uso quotidiano – especialmente para quem tem filhos adolescentes.
Já o painel de instrumentos é um misto entre analógico e digital, e dispõe de um computador de bordo onde boa parte da informação é disponibilizada ao condutor. Embora bastante completo, sentimos falta de alguma informação adicional, como a velocidade (de forma digital) ou até mesmo a velocidade do cruise-control.
Semelhantemente a outros PHEV, este dispõe de um mostrador de energia (à esquerda) e carga do pedal. Tendo em conta uma condução mais ecológica, é nele que a vista recai boa parte da viagem, onde é possível perceber o nível de potência e recuperação em desaceleração. Este sistema é gerido através das patilhas que, à falta de uma caixa de velocidades convencional, permitem alternar entre seis níveis de intensidade.
“Alma” de Outlander
A equipar este Mitsubishi Eclipse Cross PHEV encontramos o mesmo grupo propulsor já antes utilizado no Outlander PHEV. Não é novidade, mas esta cadeia cinemática diferencia-se de outras propostas híbridas plug-in pelo seu funcionamento. Ao invés de se aliar motor(es) elétrico(s) a um de combustão, esta sinergia faz-se de forma inversa. Digamos que é como pegar num carro elétrico e juntar um gerador (motor), de forma a garantir energia quando há falta dela. Confuso? Eu explico.
A mecânica deste Eclipse Cross PHEV parte de uma solução 100% elétrica, composta por dois motores elétricos (um por eixo, que lhe garante tração integral) de 60 e 70kW (dianteiro e traseiro, respetivamente). A estes junta-se um terceiro motor – a combustão e atmosférico de 2.4l -, com uma caixa redutora (como os 100% elétricos). No entanto, este surge com o intuito de servir de gerador sempre que a carga da bateria está baixa, ou então acima dos 135 km/h.
Embora a sua potência combinada se cifre nos 188 cv, abaixo da potência do Outlander PHEV (224 cv), este Eclipse Cross PHEV mostra-se bastante dinâmico em andamento. O facto de ter apenas uma relação torna-o bastante progressivo, onde em carga se nota uma rápida resposta, ainda que os 10,9 segundos dos 0-100km/h o façam parecer mais lento.
Bateria e autonomia
A alimentar os motores elétricos encontra-se uma bateria de 13,8 kWh, garantindo autonomias de até 45 km (misto) ou 55 km (cidade) ambos WLTP. E para a mesma bateria existem duas formas distintas de a carregar. Uma, recorrendo ao combustível, e outra, à eletricidade.
Falando da primeira, claro está, dando uso ao motor/gerador térmico de 98 cv que se encontra sobre o eixo dianteiro. É a forma menos eficiente, mas a que mais jeito dará quando a bateria chega “a zero” e não há outra forma de a carregar. É graças a este que é possível carregar a bateria em andamento, ou preservar, de forma autónoma ou através do botão “SAVE/CHRG” na consola).
Já na segunda, usando um dos cabos de carregamento elétrico, que permitem tanto carregar em casa como num posto público. E nestes existe ainda uma outra particularidade. É que este PHEV é um dos poucos que permite tanto carregar em tomadas AC a 3,7 kW, como também em DC, a 22 kW. Tal feito tanto permite carregamentos lentos (até 7h) como rápidos, que em apenas 25 minutos vai dos 0 aos 80%. E acreditem, este segundo dá muito jeito, em especial em viagens mais longas.
Em termos de consumos, depois de vários trajetos e recorrer em boa parte ao motor a combustão para auxiliar na carga da bateria, conseguimos valores bem acima do anunciado, onde não conseguimos baixar para além dos 5,2 l/100km. Ainda assim, recorrendo marioritariamente ao modo elétrico e em cidade, é possível alcançar valores aproximados aos homologados e até mesmo inferiores.
Gestão de energia e modos de condução
Por ser um híbrido plug-in, este Eclipse Cross PHEV garante uma gestão automática (e também manual) entre os diferentes meios de propulsão disponíveis. Mas é no modo 100% elétrico (“EV”) que se mostra a sua preferência natural, tendo, claro está, carga positiva na bateria. Contudo, existe sempre a possibilidade de alternar entre este e os modos “Série” (propulsão elétrica, com o motor de combustão a servir de gerador) e “Paralelo” (motor elétrico traseiro em conjunto com o de combustão) de forma automática ou com o pressionar de um botão.
Por dispor de um conjunto motriz sobre cada eixo, este garante ainda tração integral, apelidada pela marca de S-AWC (Super-All Wheel Control). Contrariamente a outros 4×4, este não tem um veio de transmissão a unir ambos os eixos, e o sistema está permanentemente em funcionamento. Ainda que o “fora-de-estrada” não seja o seu habitat natural, a marca dotou-o de modos de condução específicos para diferentes situações.
Entre elas temos o Snow e Gravel, que por serem bastante específicos, não houve possibilidade de os testar. Depois encontramos o Normal e ECO, bastante descritivos da sua essência, e foi nestes que recaiu a nossa escolha em boa parte do nosso ensaio. No “Eco” nota-se um ligeiro decréscimo na potência, mas permite uma longevidade da sua autonomia. No “Normal” garante uma melhor relação de potência e suavidade de resposta, sem pesar (muito) na economia. Por último encontramos o Tarmac, que noutras propostas é denominado “Sport” e que resulta no acumular de potência dos seus motores. Tal permite explorar uma resposta do acelerador mais imediata, mas também menos ecológica.
E por quanto?
O Mitsubishi Eclipse Cross PHEV surge no mercado com um preço base de 43 038€, na versão de equipamento eMotion – única disponível em Portugal. No que à configuração diz respeito, a única escolha recai sobre as cinco cores disponíveis, que acrescem entre 366€ a 569€ à fatura final. Tudo o resto é de série.
Conclusão
O Mitsubishi Eclipse Cross PHEV surge com a árdua tarefa de concorrer com outras propostas da longa lista de híbridos plug-in atualmente no mercado. E não se adivinha tarefa fácil, pois ainda que disponha de uma nova identidade e recorra a uma motorização reconhecida, peca em alguns aspetos que o deixam abaixo da concorrência. A autonomia elétrica poderia ser mais extensa e a habitabilidade mais folgada quando comparado com outras propostas similares do segmento - também mais potentes e eficientes. Ainda assim, introduz a possibilidade de duplo carregamento elétrico (AC e DC) bastante útil em viagens mais longas, garantindo um carregamento mais rápido. Além disso, é ainda Classe 1 nas autoestradas (com identificador) e o conforto e suavidade de resposta recebem nota positiva. Tem alguns pontos a melhorar, especialmente no capítulo da tecnologia.
Ficha Técnica
2360 cm3
Cilindrada
188 cv
Potência
10,6 s
0-100 KM/H
162 km/h
Velocidade Máxima
2,0 l/100 km
Combinado
5,2 l/100 km
Registado
46 g/km
Emissões CO2
43 038€
Base
43 038€
Ensaiado
Conforto. Tipos de carregamento.
Autonomia. Preço. Capacidade da bagageira.