Miguel Oliveira e a Diabolique marcaram os ralis nacionais

O talento de Miguel Oliveira não se manifestava quando se sentava no banco do lado esquerdo, mas no lado direito e na organização da equipa por si criada, jorrava qualidade.

Impressionava pela altura e pelo bigode, mas também pela calma e extrema educação forjada pela educação familiar. Era um visionário, conheceu o sucesso empresarial e “escondia” uma enorme paixão pelo desporto. O talento não se manifestava quando se sentava no banco do lado esquerdo, mas no lado direito e na organização da equipa por si criada, jorrava qualidade. Miguel Oliveira e Diabolique: dois nomes que marcaram o panorama dos ralis em Portugal.

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O “Doutor” tinha 83 anos e abandonou o mundo dos vivos há dias, deixando o panorama dos ralis nacionais mais pobre. Muito mais pobre! Morreu o visionário que tinha no peito a paixão pelos automóveis. Que tentou destacar-se ao volante, tendo escolhido um Mini. Mas que acabou a ajudar vários pilotos e a navegar um dos melhores pilotos de todos os tempos a dois títulos nacionais. Foi aliás, um dos copilotos portugueses mais vitoriosos da história dos ralis.

Dando, uma vez mais, provas da sua lucidez e visão, trouxe para a competição um nome que se transformou num significado mais para os ralis. Todos recordam a Diabolique Motorsport, mas poucos lembram que era o nome, também, de um perfume.

Dourado, vermelho e branco: eis a Diabolique

Escolheu um esquema de decoração que ficou, também ele, inesquecível: branco, vermelho e dourado com a fonte do nome Diabolique a destacar-se. Um caso de marketing quase perfeito numa época onde isso era, apenas, uma prática das multinacionais.

Tudo começou com os Porsche 911, mas a ligação à Ford acabou por formar a imagem que todos temos desenhada na mente sobre a Diabolique Motorsport. Os Ford Escort RS2000 e RS1800 foram as “ferramentas” que pilotos como Rafael Cid, Francisco Gil, Mário Silva e Joaquim Santos.

Foi com o talentoso piloto de Penafiel que Miguel Oliveira e a Diabolique ganharam estatuto e receberam os elogios da comunidade dos ralis nacionais e internacionais. Aliás, a Diabolique ainda ensaiou uma presença internacional com Rafael Cid e um Escort RS1800 alugado a David Sutton. 

Miguel Oliveira e Diabolique

Joaquim Santos foi o piloto mais prolífico da Diabolique

O impacto de Joaquim Santos na Diabolique e no Nacional de Ralis foi imediato: estreou-se em 1981 e nesse ano ganhou o Rali do Douto Sul. No ano seguinte, chegou o primeiro título, uma vez mais, com o Ford Escort RS 1800 Gr.4. Um título que foi sublinhado com oito vitórias e o segundo lugar do outro carro da Diabolique, com Rui Souto ao volante.

Sempre acompanhando as evoluções, a Diabolique mudou a decoração dos seus Ford Escort, mas mantendo a base branca, vermelha e dourada. Joaquim Santos usou outro Ford Escort RS 1800 em 1983, mas o resultado foi o mesmo e novo título ficou no bolso de Joaquim Santos e de Miguel Oliveira, adicionando o título de “Melhor Português” no Rali de Portugal. Nesse ano, o bicampeão nacional de ralis fez uma perninha na velocidade no Troféu Toyota Starlet.

Com o apoio da Diabolique, venceu uma corrida no Autódromo do Estoril e ficou no quinto lugar da competição.

O terceiro título de Joaquim Santos e da Diabolique aconteceu em 1984 ainda com o velhinho Ford Escort RS 1800 e debaixo de enorme polémica. O título foi decidido no Algarve. Joaquim Moutinho chegou à derradeira prova com seis vitórias contra três de Joaquim Santos.

A Diobolique Motorsport foi a equipa privada de maior sucesso dos ralis nacionais!

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Polémicas e acidentes

Desconhecidos colocaram obstáculos na primeira etapa e o Renault 5 Turbo de Joaquim Moutinho viu explodirem dois pneus. Mais tarde, uma barra de ferro com espigões furou os quatro pneus do 5 Turbo. Era o abandono e o título colocado nas mãos da Diabolique. Foi o último título da Diabolique e de Joaquim Santos.

Recordamos que a Diabolique esteve envolvida na maior e melhor iniciativa de busca de jovens talentos, “Onde Está o Ás?”, em colaboração com a Ford. E que foi a Diabolique que trouxe para Portugal um Ford RS200 Grupo B. Infelizmente, envolvido no acidente no Rali de Portugal de 1986 que precipitou o fim dos Grupo B.

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A fugaz passagem do Grupo B – ainda assim, Joaquim Santos venceu quatro provas depois de começar a pontuar, apenas, no Rali da Figueira da Foz – deu lugar aos carros do agrupamento A e mantendo o seu relacionamento com a Ford, Miguel Oliveira acabou por ter de recorrer ao Ford Sierra RS Cosworth para manter a Diabolique e Joaquim Santos em competição.

Princípio do fim

Era o princípio do fim. O carro chegou tarde, não era fiável e foi batido pelo Renault 11 Turbo da equipa oficial Renault pilotado por Inverno Amaral em 1987. Depois chegaram os Lancia Delta da equipa Duriforte e Carlos Bica ganhou quatro títulos consecutivos (1987 a 1991). Em 1989, a Diabolique deu que fazer à Duriforte, lutando muito pelo título. 

Aproveitando o Ford Sierra Cosworth 4×4, a Diabolique deu um ar da sua graça em 1990. Joaquim Santos venceu três provas (António Coutinho venceu quatro ralis os mesmos de Carlos Bica) mas o Lancia Delta HF Integrale de Bica acabou por vencer. 

Miguel Oliveira e Diabolique

O percurso da Diabolique e de Miguel Oliveira terminaram no final desse ano de 1990 e o Ford Sierra RS Cosworth 4×4 já não apareceu nas estradas portuguesas. Joaquim Santos foi para a equipa Toyota, mas o carro era rudimentar e não deu luta a Bica.

O último título nacional de Joaquim Santos, o quarto, surgiu já fora da Diabolique e sem a companhia de Miguel Oliveira. O “Doutor” tinha 83 anos e “cantou” a sua última nota. Paz à sua alma.

(Fonte das fotos: Internet)