O desafio estava lançado. Percorrer toda a Nacional 2, a maior estrada nacional de Portugal e da Europa, com uma extensão de 738 km, com apenas uma carga e emissões zero. Quem aceitou o desafio foi o modelo porta-estandarte da sub-marca de elétricos Mercedes-EQ, o EQS, concretamente na sua versão 450+ com jantes de 21″ e uma autonomia anunciada de 717 km! Contudo, se no papel a matemática parece não enganar, na estrada as coisas mudam de figura.
Com temperaturas habitualmente não amigas dos carros elétricos, e neste caso abaixo dos 10ºC, arrancamos o motor do “nosso” EQS 450+ com 245 kW (333 cv) e 568 Nm para dar início à iniciativa com o nome de 1ZERO2 – UMA CARGA. ZERO EMISSÕES. TODA A N2.
Em primeiro lugar fez-se a selagem da tomada de carregamento pelo responsável da FPAK. Desta forma garantiu-se que, durante toda a viagem, não foi efetuado qualquer carregamento. Posto isto, e com um cenário “apocalíptico” derivado da nuvem de poeira laranja vinda do Saara, arrancou-se para a estrada. Felizmente o filtro HEPA filtra o ar exterior removendo mais de 99.65% das partículas de todas as dimensões. Apesar dos 107,8 kWh de bateria do EQS, a tarefa não se avizinhava fácil. A comprová-lo estava o número de serras que tínhamos pela frente para atravessar, e que, naturalmente colocavam as suas dificuldades. A saída de Chaves, junto à rotunda onde se situa o marco do quilómetro zero da N2, foi feita pelas 7h30 com 100% de bateria e o EQS a anunciar uma autonomia de 715 km.
Desafios superados
Três horas depois colocava-se o primeiro desafio. A Serra de Bigorne, no concelho de Castro Daire, exigia uma subida até aos cerca de 1000m de altitude. Nesta altura, com 115 km percorridos e 80% de bateria, o EQS 450+ anunciava uma média de 18,6 kWh/100 km. Ainda que todo o trajeto se tenha feito em condições normais de trânsito de um dia útil e condições atmosféricas que chegaram a fazer cair alguma chuva, naturalmente que foi imprescindível tirar partido da regeneração do EQS, ajustável através das patilhas no volante. Logo a seguir, no centro de Castro Daire, fez-se a primeira paragem para um café e umas fotografias.
Não havia tempo a perder. Esperavam-nos alguns desafios, muitas horas de condução pela frente e, ainda que com paragens para almoço e jantar, o objetivo era chegar a Faro antes das doze badaladas. Rio de Mel, Tondela, Santa Comba Dão e o inesperado acontece. As obras do IP3 afetam também a EN2, cortada na zona de Vila Nova de Poiares, o que obrigou o EQS a um desvio que acrescentou 10 km ao percurso.
Chegados ao quilómetro 248, em Vila Nova de Poiares, e antes da pausa para almoço, fizeram-se fotos junto ao mural alusivo precisamente à única estrada nacional na Europa que atravessa o país em toda a sua longitude. Curiosamente, com um posto de carregamento em frente, permitindo que o percurso da N2 seja perfeitamente possível de percorrer com carros 100% elétricos. No nosso caso, o responsável da FPAK que acompanhou todo o percurso certificou-se de que não houve qualquer carregamento, nem tal era necessário. Com 68% de bateria, e uma média de 13,7 kWh/100 km, a autonomia disponível não permitia qualquer sentimento de ansiedade.
Viagem sem condicionantes
Por outro lado, a velocidade também nunca foi algo que tivesse sido condicionado. Sempre dentro dos limites de velocidade, em cerca de 50% do percurso seria impossível com qualquer outro automóvel conseguir uma velocidade média superior dadas as características da estrada. Depois de Góis, mais um desafio. A zona de Amieiros apresentava mais uma subida até perto dos 800 m de altitude, antes da passagem por Pedrogão Grande, Sertã e Vila de Rei. Em Abrantes fez-se a travessia do Tejo que marcou precisamente a primeira metade do percurso. Com cerca de 359 km percorridos, o EQS 450+ marcava precisamente 50% de bateria e uma média de consumo de 14 kWh/100 km.
Entrava-se no Alentejo e a paisagem mudava. Se os declives pela frente eram bem menos acentuados, a verdade é que também não iria haver oportunidade para muitas regenerações. Aqui se constatou a extraordinária aerodinâmica do EQS da Mercedes-EQ, permitindo a este rolar vários quilómetros em modo de “roda livre”, ou seja, sem qualquer consumo. O modelo detém o recorde mundial de aerodinâmica. Com um coeficiente aerodinâmico (Cd) de 0.20, o EQS é um dos modelos produzidos em série mais aerodinâmicos do mundo.
Depois de atravessar Mora, Montemor-o-Novo, Torrão e Aljustrel fazia-se a paragem em Castro Verde para jantar à hora prevista. Eram 20h e estavam percorridos 605 km. Bateria? 20%. Média? 13,9 kWh/100 km. Nas longas retas alentejanas, e com a noite a cair, a iluminação Digital Light inconfundível do EQS fazia da noite dia. Cada farol dispõe de um módulo de iluminação com três LEDs de elevada potência, cuja luz é refratada e direcionada por 1.3 milhões de micro espelhos!
Último desafio
Na etapa final, o diretor geral da Mercedes-Benz em Portugal, Holger Marquardt, fez questão de se juntar à equipa do Escape Livre. A bordo do EQS 450+ cumpriu o último desafio antes da chegada a Faro, a Serra do Caldeirão. O topo, a quase 600 m de altitude, foi alcançado com 12% de bateria, uma média de 14,3 kWh/100 km e com autonomia para 74 km. Faltavam percorrer aproximadamente 45 km, mas agora era tudo a descer, altura para o EQS 450+ provar o seu potencial de regeneração…
Hoje ficou provado q a mobilidade elétrica para grandes distâncias é uma realidade. Com apenas um carregamento e zero emissões, mais de 700 km foram percorridos na Nacional 2. A tecnologia elétrica do novo EQS permitiu superar este desafio. Estou convencido que cada vez mais simpatizantes da nossa marca irão descobrir a condução elétrica no nosso país, tornando Portugal num pais cada vez mais sustentável.
Holger Marquardt, diretor geral Mercedes-Benz Portugal
A chegada ao quilómetro 738, em Faro, fez-se às 23h31m com 9% de bateria restante e uma autonomia de 83 km ainda para percorrer, e sem que tenhamos recebido sequer qualquer alerta referente à “reserva de bateria”.
Atualmente é difícil conseguir percorrer exatamente os 738 km devido às sucessivas alterações que a EN2 tem vindo a sofrer
Com uma bateria de 107,8 kWh, o EQS da Mercedes-EQ é, muito provavelmente, o único automóvel 100% elétrico atualmente no mercado, capaz de percorrer a Estrada Nacional 2 com apenas uma carga. Na verdade com todas as alterações que a EN2 foi sofrendo ao longo dos anos, e inclusivamente com obras a decorrer em alguns troços, percorremos exatamente 705 km desde o quilómetro zero da EN2, em Chaves, e o quilómetro 738, em Faro.
Contudo, o EQS da Mercedes-EQS chegou ao final da etapa, ainda com 9% de bateria e uma autonomia de 83 km! Já as 13 horas de condução não foram um problema dado os elevados níveis de conforto de que esta berlina de luxo da Mercedes-EQ é capaz.
Foi uma experiência de condução incrível. Ao longo da N2 tivemos a oportunidade de percorrer troços muito distintos, das serras às planícies, que exigiam estilos de condução bem diferentes para tirar o máximo partido da autonomia do EQS. Nas zonas mais técnicas com recurso às patilhas de regeneração, noutras com recurso ao cruise control e modo roda livre. Em todas elas o EQS mostrou-se à altura do desafio chegando a surpreender com a média final obtida. Soberbo!
Luís Coelho, Escape Livre
Viagem em números:
- 705 km percorridos;
- Média de 13,7 kWh/100 km;
- Velocidade média de 54 km/h;
- 13 horas de condução;
- Atravessados 35 municípios;
- Cruzadas pontes sobre 11 rios;
- Atravessadas 11 serras;
- Mais 83 km de autonomia ainda para percorrer;
- Apenas 1 carregamento;
- Custo total inferior a 15€, carregando a bateria numa instalação doméstica;
Uma curiosidade. Após cumprido o objetivo principal de chegar a Faro com apenas uma carga, e antes do regresso a casa, o EQS da Mercedes-EQ carregou 80% da bateria em 34 minutos. A uma velocidade de 200 kW (o máximo), recuperou neste período 600 km de autonomia. Contudo, este carregamento foi efetuado num posto Ionity, um dos mais caros do país e teve um custo superior a 80€. Todavia, com o cartão Mercedes.me, é possível reduzir significativamente este curso visto a Mercedes-Benz ser uma das marcas que integram o consórcio.
Depois da primeira volta a Portugal em automóvel elétrico a bordo do EQA, o Clube Escape Livre e a Mercedes-Benz cumpriram agora mais um desafio importante provando que a mobilidade elétrica deve ser encarada, cada vez mais, como uma solução viável, e não como um problema.