Dá gosto olhar para a gama de modelos da Hyundai e verificar que, apesar da massificação SUV, das exigentes normas anti-poluição e até da presente eletrificação que abrange todos os segmentos, a marca mantém na sua oferta, vários modelos desportivos sob a sigla N. Apelidada de N performance, a recente divisão desportiva da Hyundai não se poupa a esforços para apresentar versões apimentadas dos seus modelos. É o caso deste Hyundai i20 N, um verdadeiro Pocket Rocket!
Em Portugal, para além deste temos também o i30 N nas suas versões normal e Fastback, e ainda o Kauai N, o mais recente membro desta família. Lá fora a Hyundai ainda disponibiliza o Veloster N que não teve direito a vir para Portugal, e bem lá mais longe não falta sequer um Elantra N. Na grande maioria dos outros construtores generalistas, o cenário é bem diferente. Por isso, obrigado Hyundai! Obrigado Albert Biermann.
Outra coisa que dá gosto é escrever um ensaio que nem é de um SUV, nem é de um elétrico, nem é de nada que tenha cabos para carregar seja o que for, a não ser o smartphone via USB. Podia dizer que o Hyundai i20 N é um Pocket Rocket à moda antiga, mas não. Esqueçam! Este é um pequeno desportivo moderno. Está longe de ser o puro & duro que conhecemos de outros tempos… mas é apenas e só um dos melhores, senão mesmo o melhor desportivo deste segmento.
Receita simples
Não quero com isto dizer que a receita deste Hyundai i20 N seja muito diferente daquilo que sempre é aplicado nestas versões. Um motor com potência, um bom chassis, eficácia na hora de colocar potência no chão, independentemente do eixo que o faz, e um cenário exterior apelativo mas dramático. Se a isto se conseguir juntar uma boa banda sonora extraída do escape e um interior à altura, com bons bancos desportivos e correta posição de condução, temos quase tudo o que é necessário para um bom pocket rocket, daqueles que ficam na história.
O resto são pormenores, mas claro… num automóvel deste segmento, pensado para extrair o máximo prazer de condução e a máxima eficácia em estrada, esses também contam. E como dizia no início deste ensaio, dá gosto constatar que a Hyundai não falhou, nem sequer nos mais ínfimos pormenores.
Afinal o que temos?
Deixemos de parte as considerações estéticas, não é certamente isso que procuras neste texto. Esteticamente não morro de amores por este Hyundai i20 N. O cenário é efetivamente dramático com saias laterais, um extrator traseiro, e vários apêndices, que se destacam ainda mais nesta cor característica das versões N, denominada de “Performance Blue”. Mas sabem que mais? Depois de me sentar ao volante, não quero nem saber do exterior. Sei que lá fora tudo (ou quase) não tem um propósito meramente estético. É o caso do aileron traseiro, responsável por 20kg de apoio adicionais.
Depois, lá na frente, temos a mais recente e mais potente versão do bloco 1.6 T-GDI de quatro cilindros Turbo. São 204 cv de potência e 275 Nm de binário que podem ascender aos 304 Nm com a função overboost. Mais do que os habituais modos de condução (Eco, Normal e Sport), aqui os que interessam chamam-se N1 e N2 e, para além de serem totalmente parametrizáveis, podem ser selecionados através dos grandes e práticos botões no volante. Em cada um destes modos, é possível configurar em três níveis os seguintes parâmetros:
- Motor: Controla a entrega de potência do motor;
- Direção: Controla o peso da direção;
- Controlo de tração: Normal, Sport e Off;
- Ajuste de rotações: O rev matching da caixa tem um atalho direto no volante, mas pode ser configurado em três níveis, entre um mais soft, intermédio, e mais agressivo;
- Som do escape: A válvula ativa de escape permite parametrizar o som do i20 N, entre o moderadamente discreto, o agressivo, e o “valha-me deus!”.
Infelizmente, mas perfeitamente justificável, a suspensão não tem qualquer regulação, o que significa que é sempre um bocado castigadora. Compromissos, em prol da eficácia e de um comportamento dinâmico de excelência. Ainda assim não podendo ser ajustável, não é intolerável.
Pormenores, que fazem (toda) a diferença
Querem saber os pormenores que, ao volante do Hyundai i20 N, fazem toda a diferença? Em primeiro lugar temos ponta-tacão (rev matching) automático que permite reduções mais agressivas, embora também seja possível acelerar e travar ao mesmo tempo sem que a eletrónica nos deixe pendurados sem qualquer resposta.
Temos inclusive um sistema inteligente que detecta a presença à nossa frente de uma curva e contracurva, sugerindo de imediato a ativação de um dos modos N. Acreditem que, ao volante deste i20, somos várias vezes convidados a acelerar e tirar partido do conjunto que temos em mãos.
O painel de instrumentos totalmente digital é muito completo e no modo N oferece toda a informação que é necessária e que normalmente está disponível no sistema de info-entretenimento. Ou seja, no modo N dá-se primazia às temperaturas, pressões, rotações, etc.
Não lhe falta uma válvula ativa de escape nem launch control para aqueles arranques ao semáforo ?
Depois, como verdadeiro desportivo, não falta nenhuma informação para o piloto. Desculpem, para o condutor. Temos temperatura do óleo, temperatura do motor, pressão do turbo, pressão de travagem, binário, forças G, e ainda um cronómetro para voltas em circuito.
O som de escape entusiasma e é dos melhores, senão mesmo o melhor do segmento, com a vantagem que podemos tirar partido dele praticamente em modo “económico”. Contudo, não nos deixemos levar pelo som no interior. Esse é sintetizado, infelizmente.
Nem a opção controlo de arranque, mais conhecida por Launch Control, ficou de fora. Só peca por ser demasiado complicada de ativar, mas até aqui podemos escolher as rotações que queremos para o arranque. Podemos ainda ligar ou desligar o som de alerta de mudança de velocidade.
De roda no ar
Ao volante do Hyundai i20 N as emoções ficam facilmente à flor da pele, mas não é fácil conseguirmos o melhor compromisso já que as configurações referidas não se resumem a um botão Sport. Em cada modo desportivo as parametrizações são algumas e, como seria de esperar, as definições ideais variam em função da estrada que temos pela frente.
O motor podia ter um pouco mais de fôlego abaixo das 5000 rpm, mas ainda assim sobe rápido de rotação, afinal estamos perante um bloco quatro cilindros turbo, capaz de 300 Nm (em overboost) logo às 2000 rpm. Para além disso este Hyundai i20 N tem uma relação peso/potência de 5,8 kg/cv, imbatível no segmento. Com uma velocidade máxima de 230 km/h, o i20 N consegue ritmos bem rápidos, como devem calcular.
O nosso querido Toyota GR Yaris até pode ser o mais incrível e potente do segmento, mas este Hyundai i20 N é o pocket-rocket mais rápido do mercado
Depois, por mais depressa que se entre em curva, a subviragem é inexistente e a traseira roda facilmente, tal como acontece com o seu mais direto, e talvez único, concorrente, o Ford Fiesta ST. Aliás, outra semelhança com este é a roda traseira do interior da curva, constantemente no ar, facto que fomos constatando ao longo deste teste. A eficácia é notável, bem como a aderência e tração no asfalto ajudada pelos pneus Pirelli Pzero em jantes 18″ (215/40) com especificação própria para este i20 N.
O comportamento em curva é sempre muito controlado, apesar dos exageros que somos convidados a fazer. Aqui a preciosa ajuda vem da parte do diferencial autoblocante mecânico, capaz de enviar até 85% do binário para uma das rodas do eixo da frente.
Os bancos desportivos em pele e Alcântara oferecem bom apoio, e não merecem críticas, ainda que não sejam a referência no segmento. A caixa manual de seis velocidades é muito rápida e precisa, tem um comando bem posicionado, e foi reforçada para aguentar um tratamento mais… selvagem? Agressivo? Contundente talvez seja a palavra mais correta!
Os consumos vão dos 6 l/100 km em modo Eco, até aos 12,5 l/100 km em modo “faca nos dentes”
A cereja no topo do bolo são uns travões eficazes e que não nos deixam qualquer margem para arrepios quando o ritmo aumenta desmesuradamente. Por outro lado, mas ainda no capítulo da travagem, só não se compreende a função de um travão de mão mecânico. A Hyundai parece não ter contado com ele para coisa nenhuma a não ser para quanto está parado. Com muito pouca eficácia, nunca nos permite o bloqueio das rodas traseiras para ajudar da rotação, ou sequer simplesmente para fazer um pião à frente dos amigos. Uma questão de afinação? Se assim for, menos mal…
Não falta equipamento e algum espaço
Por fim, e apenas a título informativo, acreditando que será o menos relevante na escolha deste tipo de automóvel, na frente temos tomadas USB, tomadas 12v, um sistema de climatização independente de uma zona, e um completo sistema de info-entretenimento com navegação e integração para Apple Carplay e Android Auto, com ecrã tátil de 10,25″. Já nos lugares traseiros temos boas cotas de habitabilidade e uma tomada USB. Para além disso o túnel central é pouco intrusivo. A bagageira tem 352 litros de capacidade.
Ainda temos também de série jantes em liga leve de 18”, chave inteligente com botão Start & Stop, sistema som BOSE, vidros escurecidos, sensores de estacionamento traseiros, câmara de estacionamento traseiro, faróis LED, pedais em alumínio e travagem autónoma de emergência.
Depois deste teste, resta-me acrescentar que acredito que esta seja a melhor altura para comprar um pequeno desportivo a combustão. Porquê? Em primeiro lugar porque as propostas começam a escassear. Em segundo lugar porque a eletrificação é inevitável. Por último porque acredito que estes pequenos desportivos estão no seu auge, partilhando tecnologia e em alguns casos até mecânica, com os segmentos superiores.
TODOS os “Pocket Rocket” à venda no mercado nacional. Aqui não entram SUVs!
Já não são muitos, mas alguns modelos ainda resistem. Estes são os pocket rocket que ainda podes comprar para te divertires no dia a dia.
Conclusão
É verdade que o Hyundai i20 N chega ao mercado com apenas um alvo, o Ford Fiesta ST. Contudo, por mais concorrentes que houvesse no segmento, não temos dúvidas que este seria sempre uma das melhores propostas. Pelo motor, pela tecnologia aplicada, pela eficácia e velocidade em curva e por todos os restantes pormenores que, neste caso, fazem a diferença. O preço também está de acordo com o esperado para o segmento. Felizmente ainda há quem faça automóveis destes, capazes de nos divertir ao volante.
Ficha Técnica
1591 cm3
Cilindrada
304 Nm
Binário Máximo
204 cv
Potência
6,2 s
0-100 KM/H
230 km/h
Velocidade Máxima
7 l/100 km
Combinado
9 l/100 km
Registado
158 g/km
Emissões CO2
29 990€
Base
32 435€
Ensaiado
Uiii tanta coisa! Motor. Caixa. Chassis. Configurações. Tecnologia.
Travão de mão