O Governo alemão está a falar a duas vozes sobre a proposta da União Europeia de banir os motores de combustão interna a partir de 2035. Primeiro foi Christian Lindner, ministro das Finanças, quem veio dizer que a Alemanha não apoiava a proposta de banir os motores de combustão interna em 2035. Agora é a ministra do Ambiente, Steffi Lemke quem contradiz o seu colega de Governo.
Num evento da associação industrial BDI alemã, Christian Lindner referiu que haverá sempre nichos de mercado para os motores de combustão interna e que, por isso, banir esses propulsores é errado. Disse mais. Segundo o Ministro das Finanças, o Governo alemão não aceitará esta legislação. Qual legislação?
Redução de 100% das emissões de CO2 em 2035
A União Europeia não avançou com uma proposta para banir, diretamente, os motores de combustão interna. A ideia é reduzir 55% as emissões poluentes em 2030 face aos níveis de 1990 e dentro dela está a proposta de reduzir 100% as emissões de CO2 de carros novos em 2035. Isso significa, na prática, banir os motores de combustão interna.
Esta questão não divide só governos. As associações da indústria automóvel, com a ACEA à cabeça, têm expressado preocupação com esse assunto. Simplesmente porque a rentabilidade de todos está e estará nos modelos com motor de combustão interna.
Porém, o equilíbrio entre o “lobbying” e os apoios necessários para o futuro da mobilidade elétrica, deixou a ACEA a meio da ponte, algo que não agradou a Carlos Tavares, o CEO da Stellantis e um dos que entende que 2035 é um prazo demasiado curto para essa transição. E por isso a Stellantis anunciou a saída da ACEA até final do ano.
Governo alemão não se entende
Ora, depois das declarações do ministro das Fianças alemão, a ministra do Ambiente, Steffi Lemke, referiu, em declarações à cadeia de televisão alemã ZDF que “se o pacote legislativo incluir aquilo que a Comissão Europeia sugeriu, banir os carros que emitem CO2 em 2035, então votaremos a favor.”
Segundo esta ministra, vão existir dificuldades nas discussões com a União Europeia no que toca as regras de emissões. Para ela “a questão é saber como vamos lidar no futuro com os veículos de passageiros e outros veículos, para reduzir as emissões de CO2. Há várias sugestões, vamos ver.”
Curiosamente, a ministra do Ambiente referiu que o ministro da Economia, Robert Habeck, iria ter dias muito compridos à sua frente.
Entretanto, para lá desta dessincronização dentro do Governo alemão, países como Itália, Portugal, Eslováquia, Bulgária e Roménia, já vieram pedir um adiamento para 2040 da entrada em vigor dos 100% de redução de CO2.
União Europeia rejeitou reduzir os limites de CO2 até 2035
A União Europeia rejeitou reduzir os limites de CO2 previstos até 2035, trocando isso por uma redução de 100% das emissões de CO2 em 2035.
A discussão está no ar e muita coisa promete acontecer, particularmente se a guerra na Ucrânia se agudizar ou prolongar para o Inverno.
Nessa altura, todos vão mandar às malvas a ecologia e a necessidade de proteger o ambiente e recuperar as centrais a carvão e atómicas. Como, aliás, já está a suceder em diversos países devido à necessidade de energia.
Aguardam-se desenvolvimentos sobre as discussões dentro da Comissão Europeia e, depois, no Parlamento Europeu. Para perceber se os motores de combustão interna vão, ou não, acabar em 2035.