Lembra-se do SEAT Bolero, o modelo que queria colocar a marca espanhola no patamar de grande rival da Alfa Romeo? O protótipo que surgiu no Salão de Genebra de 1998 deixou vincado o desejo de Ferdinand Piech em fazer o mesmo que Henry Ford II fez com a Ferrari em Le Mans: com a recusa do grupo Fiat em vender a Alfa Romeo ao grupo VW, Piech queria que a SEAT fosse derrotar a casa do Biscione. Para isso recorreu a um estilo muito “Audificado” e ideias grandiosas.
Lembra-se do SEAT Bolero? Acrescentava no nome a sigla 330 BT e marcava uma declaração de intenções por parte do Grupo VW e da própria marca de Barcelona, há 10 anos propriedade do grupo VW.
Lembra-se do SEAT Bolero?
Berlina de quatro portas desportiva tinha, sem sombra de dúvidas, inspiração Audi. Isso era perfeitamente visível nas formas da carroçaria e nas jantes que não escondiam a sua origem. Ainda assim, era um carro sedutor e que oferecia a imagem do que seriam a frente e grelha dos SEAT do futuro.
A ideia da casa espanhola era simples: elevar a fasquia dos produtos SEAT e dar à marca espanhola um estatuto diferente do que tinha até então. Dez anos depois ainda havia muito coisa Fiat pegada à pele.
Por outro lado, o Bolero 350 BT era um exercício que pretendia criar um rival direto para o Alfa Romeo 156, um carro lindíssimo e com algum sucesso na época. Para ser diferente, o Bolero 330 BT tinha ideias fantásticas. As portas abriam de forma totalmente diferente do habitual, com as traseiras a deslizarem para cima da ilharga, não havendo pilar central e as portas dianteiras abrirem de forma semelhante para diante. Como os puxadores das portas estavam escondidos numa barra que parecia decorativa, o Bolero parecia um coupé!
A verdade é que estilo criado por Erwin Leo Himmel era agressivo, musculado e foi neste carro que o departamento de estilo da Peugeot se inspirou para fazer o 407. Que não teve a colaboração de Pininfarina como sucedeu com o 406.
Interior do Bolero semelhante ao do Audi TT
O arrojo e a qualidade era Audi com o interior do Bolero 330 BT a lembrar, muito, o Audi TT. Na época ainda não havia digitalização e por isso os instrumentos eram belíssimos mostradores analógicos. E mais belos eram, pois, eram inspirados pelo mundo da relojoaria. Classe Intemporal no interior do Bolero.
SEAT Bolero usava o motor que foi para o Audi RS4
Por baixo do curvilíneo capot estava um V6 2.8 litros com duplo turbo a debitar 330 cv, tendo o mesmo sistema de tração integral quattro da Audi. Chegava aos 275 km/h e acelerava dos 0-100 km/h em “apenas” 5 segundos. Um bloco que pouco depois apareceria no Audi RS4, mas com 380 cv.
Mas… desapareceu na bruma da memória
Para Ferdinand Piech era claro o destino da SEAT: combater a Alfa Romeo que ele tanto gostava e nunca conseguiu adquirir. E como o grupo VW queria combater a hegemonia do grupo Fiat em Itália, nada melhor que outra marca latina fosse assentar arraiais em terras transalpinas.
Vontade que ficou por isso mesmo, uma vontade de contrariar a Alfa Romeo. Desde logo porque perceberam que estariam a condicionar a evolução de uma Audi fulgurante. Depois, mudaram algumas coisas dentro do grupo VW e a SEAT deixou de ser uma preocupação.
Mais tarde surgiu a CUPRA como versão mais desportiva dos modelos SEAT até que se tornou marca autónoma. E para cúmulo, a SEAT tem como previsão de futuro passar a ser uma marca de mobilidade sendo ultrapassada pela CUPRA.
E que dizer do Bolero 330BT? Está no armazém que serve de “museu” da SEAT com muitos outros protótipos e acabou por não dar origem a nada de relevante. Foi inspiração para o Toledo e para o Peugeot 407… hoje é apenas uma memória de uma história que poderia ter sido totalmente diferente. Ficará para sempre como um dos protótipos mais bonitos que a SEAT alguma vez fez. Apenas isso!