Os salões automóveis estão de regresso à Europa mas começam a ser dominados pelos construtores chineses. Poucas marcas europeias responderam à chamada para vir a Munique revelar novidades. A forte presença dos construtores chineses registou-se com marcas como a BYD, a Seres, a Nio, a Xpeng, a Avatr, a Forthing, a Denza, a Zeekr ou ainda a Leapmotor. O Escape Livre esteve presente para conhecer todas as novidades. Bem… quase todas, porque algumas ficaram longe dos olhos dos jornalistas no pirmeiro dia de abertura à imprensa, num salão criticado por muitos, e por nós também.
No que diz respeito a marcas nossas conhecidas a Renault foi a única das francesas a marcar presença em Munique, e com uma novidade em estreia absoluta. A nova Renault Scenic E-Tech. Um SUV 100% elétrico que estreia algumas novas tecnologias e funcionalidades. Para além disso promete a mesma versatilidade que caracteriza o modelo desde que surgiu no mercado pela primeira vez, em 1996. Tem uma bateria de 87 kWh que permitiu anunciar uma autonomia de 620 km. No espaço da Renault estava também presente o novo SUV topo de gama, o Rafale. Ambos chegarão ao mercado no início do próximo ano.
Alemães em destaque em Munique!
A jogar em casa esteve o grupo Volkswagen com algumas das suas marcas, todas elas a dividir atenções no mesmo espaço, e a BMW e Mercedes-Benz. A Volkswagen trouxe o ID. GTI e o ID.7. O primeiro, ainda em forma de concept mas muito bem conseguido, é baseado no novo modelo ID.2 all já revelado, e marcará o regresso dos Pocket-rocket e da sigla GTI. Espera-se uma potência em torno dos 220 cv para este pequeno elétrico desportivo que só deverá chegar ao mercado em 2026. Já o segundo trata-se de uma berlina 100% elétrica pronta a chegar ao mercado e que já conhecíamos. O VW ID.7 será um “Passat elétrico”, já que a nova geração Passat, recentemente apresentada, só vai estar disponível na versão Variant (carrinha).
A Audi revelou o Q6 e-tron, mais um SUV 100% elétrico que estreia a nova plataforma PPE EV, e também várias novas tecnologias, nomeadamente um ecrã para o passageiro da frente e um novo sistema de info-entretenimento baseado em Android. A CUPRA mostrou o Tavascan na versão final e que montará a já conhecida bateria de 77 kWh do grupo com dois níveis de potência, apenas um motor e 282 cv, e dois motores com tração integral e 335 cv. O protótipo DarkRebel esteve em Munique, mas nós não o vimos já que o formato do salão exigia uma marcação prévia. Ridículo!
Por outro lado a Skoda e a SEAT ausentaram-se deste salão com falta de novidades, em particular esta última que deixará em breve de comercializar automóveis, focando-se apenas em soluções de mobilidade elétrica. Igualmente em casa esteve a Opel com o concept Experimental, tendo sido a única marca sobre alçada do grupo Stellantis a marcar presença em Munique.
Rivais premium ambas com segmento D em destaque e concepts no segmento C
A BMW preencheu o seu espaço em Munique com uma versão blindada da sua mais recente limousine elétrica, o i7, com 536cv e 550 Nm de binário extraídos de dois motores. Está igualmente disponível a combustão com um bloco 4.4 litros V8 com mais de 500cv. É a versão mais moderna do BMW 750iL que inaugurou aqui a rúbrica “A nossa garagem“. Igualmente presente estava o novo série 5 não só na versão 100% elétrica i5, como híbrido plug-in (PHEV). Esteve também presente o SUV iX5, uma versão movida a hidrogénio com produção limitada para servir uma série de testes que a marca está a desenvolver com este tipo de tecnologia.
Contudo, as atenções estavam todas viradas para o BMW Neue Klasse, um protótipo 100% elétrico que dará lugar a um futuro série 3 100% elétrico. O nome provém também da sua história, recordando o automóvel que relançou a BMW na década de 60.
Com a Mercedes-Benz começaram as desilusões com este Salão de Munique. Apesar de ter recentemente revelado um concept 100% elétrico do CLA, e ainda o novo AMG GT, a marca optou por não os trazer aos jornalistas no dia exclusivamente dedicado à imprensa. Em vez disso optou por colocá-los no seu espaço no centro da cidade, aberto apenas no dia seguinte ao dia destinado aos jornalistas, enquanto no “verdadeiro” salão marcou presença com o novo Classe E na sua versão híbrida plug-in (400e) com 375 cv de potência combinada através de um pack de baterias de 25,4 kWh de capacidade (cerca de 20kWh úteis), para anunciar uma autonomia 100% elétrica de cerca de 115 km.
Novidades disponíveis só para o público…
Foi exatamente o mesmo que aconteceu com as novidades por parte da MINI que tinha o novo Cooper elétrico, e o novo Countryman, para mostrar só que… não para os jornalistas. Continuamos apenas com as fotos…
No MINI três portas a versão Cooper E monta um motor de 181 cv no eixo dianteiro e uma bateria de 40,7 kWh, proporcionando uma autonomia próxima dos 300 km, ao passo que a versão Cooper SE monta uma unidade elétrica com 215 cv com uma bateria de 54,2 kWh, anunciando uma autonomia perto dos 400 km.
Por outro lado o Countryman ainda revela mecânicas apenas a combustão (gasolina e Diesel) das quais ainda pouco se sabe, uma híbrida plug-in (309 cv), e duas novas versões 100% elétricas, o Countryman E e o Countryman SE. O primeiro com 204 cv e 462 km de autonomia, recorrendo a uma bateria de 66,5 kWh, e o segundo com 313 cv e autonomia de 433 km com a mesma bateria.
Da Ford e Polestar também nada temos a acrescentar já que foram mais duas marcas que decidiram não revelar os seus modelos no dia dedicado exclusivamente à imprensa.
Presença chinesa em Munique com muita tecnologia a dividir espaço com os automóveis
Diferente fizeram as já referidas marcas chinesas das quais destacamos a BYD e MG, ambas já presentes no mercado nacional. Com uma oferta de modelos já significativa por parte de qualquer uma delas, no primeiro caso as atenções concentraram-se no Seal U que se trata de uma versão SUV da berlina Seal, rival do Tesla Model 3. Logo, este novo modelo SUV com opção de baterias de 72 e 87 kWh, é o mais recente rival do Tesla Model Y.
Ficámos também a conhecer o Dolphin, um hatchback 100% elétrico do segmento B que chega a Portugal com preços a começar nos 30 mil euros para a versão com bateria de 45 kWh que anuncia autonomia de 340 km (WLTP). A versão de topo apresenta uma bateria de 60 kWh para uma autonomia de 427 km (WLTP).
Já a MG apesar de ter trazido o seu SUV 100% elétrico Marvel R, trouxe também a versão desportiva do MG 4 com dois motores elétricos, um em cada eixo. O MG4 Xpower tem uma potência máxima de 435 cv, e acelera de 0 a 100 km/h em 3,8 segundos com sistema de launch control. Porém, no stand da chinesa já representada em Portugal pela MG Motor, todas as atenções estavam concentradas no seu regresso aos roadsters com o Cyberster.
Tesla marca presença e revela novo Model 3
E por falar em Tesla, a marca de Elon Musk também marcou presença em Munique, e fê-lo precisamente com o novo Model 3. O modelo recebeu uma atualização de visual, e atualizações no interior ao nível da qualidade e dos materiais. Mantendo-se com um dos interiores mais “clean” do mercado, as alterações foram na completa ausência de hastes para os piscas e caixa de velocidades, uma nova iluminação ambiente RGB, e um novo ecrã central para os passageiros do banco traseiro.
A par com as novidades automóveis propriamente ditas, o espaço do Salão de Munique foi dividido com várias empresas e fabricantes de novas tecnologias como a LG, a Bosch, a Samsung, a Qualcomm, entre muitas outras. Desde os ecrãs para os sistemas de info-entretenimento, aos painéis solares para os tejadilhos, aos retrovisores com câmaras de estacionamento, passando pelas soluções de carregamento, esta foi uma presença muito forte no IAA 2023.
Formato do salão criticado por muitos
Por outro lado, para grande parte das marcas o modelo aplicado a este Salão de Munique representou um orçamento maior para estarem presentes em dois espaços distintos, o que fez com que as críticas tenham vindo também dos diversos responsáveis das marcas como Thomas Schaufer. Para o CEO da VW, o Salão de Munique é “caro e complicado”, ao mesmo tempo que assume que os salões automóveis tradicionais estão “mortos”.
Também para nós jornalistas este formato acabou por se revelar criticável por vários motivos para além do principal que foi ter regressado de Munique sem conseguir ver e ter contacto com algumas das novidades deste salão. Contudo, sobre isso escreverei mais tarde em estilo “desabafo”.
O IAA 2023, em síntese…
Em resumo, o Salão Automóvel de Munique (IAA 2023) trouxe até nós uma série de protótipos em forma de regresso ao passado, e que poderão circular nas nossas estradas nas suas versões finais daqui a dois ou três anos, e muito poucas novidades efetivamente prontas a chegar ao mercado como aconteceu com a nova Renault Scenic E-Tech que merece especial destaque.
Enquanto isso, as novas marcas chinesas, sem qualquer passado ao qual possam recorrer para demonstrar concepts revivalistas, põem no mercado novos modelos em versões já finais, muitos deles já disponíveis na Europa e alguns até no nosso país como é o caso da BYD ou da MG, assombrando fortemente os construtores europeus.
Exemplo disso foi o episódio a que nós próprios assistimos, com toda a comitiva do grupo Volkswagen, incluindo o seu CEO Oliver Blume, a visitar o stand da BYD para ver de perto os modelos do construtor chinês.
O IAA 2023 foi mais uma prova de que os Salões Automóveis têm os dias contados, e não durarão muito mais, pelo menos como nós um dia os conhecemos.