Este número assustador diz-nos que a Ford perdeu nos 36 mil veículos elétricos que vendeu no terceiro trimestre qualquer coisa 1,2 milhões de euros! E estes são valores só do terceiro trimestre. De acordo com as contas da casa da oval azul, no segundo trimestre as perdas eram de 30 mil euros/carro. Quer isto dizer que os prejuízos continuam a aumentar. Por outro lado, os modelos com motor de combustão interna e, sobretudo, os híbridos vendem-se que nem pãezinhos quentes e oferecem generoso lucro operacional.
Os resultados são tão alarmantes que Jim Farley, o otimista CEO da Ford, já anunciou uma série de medidas. Em primeiro lugar, uma mudança drástica nos investimentos. Em segundo lugar, concentrar-se nos modelos comerciais e híbridos. E, nesse particular, Farley foi claro: quer quadruplicar a venda de híbridos nos próximos cinco anos! Farley não esquece que a Ford perde 34 000€ em cada modelo 100% elétrico.
34.000€ de prejuízo em cada carro 100% elétrico
Akio Toyoda, ex-CEO e agora presidente da Toyota, sempre disse que o futuro não será totalmente elétrico. E nos EUA parece que começam a dar razão ao visionário japonês. Com toda a certeza, mais ainda depois das greves que durante mais de um mês pararam muitas unidades de produção.
Ford, Stellantis e General Motors sofreram com essa greve e tiveram de acabar com ela, sangrando. O acordo prevê, entre outras coisas, um aumento de salários de base em 25% durante os próximos quatro anos e meio!
Contas feitas, isso significa um aumento dos custos laborais que se repercutirá no preço final dos veículos. A estimativa, segundo o diretor financeiro da Stellantis nos EUA, está entre os 850 a 900 dólares (800 a 847 euros) por veículo produzido.
No meio de tanta aflição, a Ford e os outros construtores americanos, já perceberam que o cliente não está disposto a pagar mais por carros elétricos.
Camadas menos favorecidas não querem carros elétricos
O automóvel elétrico tem vindo a penetrar com grande facilidade nas camadas de clientes mais favorecidos e nas empresas. Os benefícios fiscais são engodo perfeito para essa camada de consumidor, pouco importado com os preços propostos.
A penetração dos modelos elétricos começa a ser mais difícil quando os estratos sociais são menos favorecidos ou quando as benesses fiscais diminuem ou acabam.
A guerra de preços da Tesla é uma bomba-relógio nas mãos de Elon Musk. As previsões de vendas estão cada vez menos risonhas, o lucro operacional reduziu-se significativamente e parece que os aumentos vão ser inevitáveis.
Só para exemplificar, depois de uma baixa de preço da F-150 Lightning, está a galope um aumento entre 2.095 e 9.595 dólares (1.971 e 9.000 euros). E o modelo está a caminho de mais países na Europa, depois da Noruega, o país paladino da mobilidade elétrica.
Europeus vão sentir o peso da transição
Com toda a certeza, os construtores europeus que se orientaram, rapidamente, para a mobilidade 100% elétrica vão sentir o peso da transição. Os americanos já sentem as dificuldades de uma transição absurdamente rápida que leva a uma descarbonização que não tem compradores.
Como dissemos acima, as vendas estão a começar a estagnar depois de um aumento veloz, pois estão a chegar à camada menos favorecida dos consumidores. Esgotados os clientes empresariais, os mais virados para a tecnologia, os particulares endinheirados e as benesses fiscais – que vão acabar tenham a certeza disso! – como é que o mercado se vai comportar?
Ao mesmo tempo, o mercado de usados elétricos não está estabilizado e temos assistido a uma depreciação brutal dos modelos 100% elétricos. Será que modelos como o Dacia Spring e o novo Citroen e-C3 podem chegar às camadas de consumidores menos privilegiados? Não temos resposta para isso. Porém, uma coisa sabemos: o automóvel 100% elétrico é uma opção que está longe de servir todos os consumidores.