Fusão Honda – Nissan tem mais questões que certezas

Fusão Honda – Nissan gerou entusiasmo que depressa esfriou. Tudo porque esta ideia, neste momento, tem mais questões que certezas.

Quando Toshihiro Mibe, CEO da Honda e Makoto Uchida, CEO da Nissan apareceram lado a lado numa conferência de imprensa em Tóquio, a surpresa foi geral. O entusiasmo gerado esfriou depressa. Porque a fusão Honda – Nissan tem mais questões que certezas. Com toda a certeza, unir o segundo construtor japonês (Honda) com o terceiro construtor japonês (Nissan) ofereceria um enorme potencial. Mas como sempre, o demónio está nos detalhes e são muitos os que ainda podem “emperrar” o acordo que ainda está longe de estar terminado.

Com toda a certeza que a união de dois construtores com tamanho peso no Japão e no mundo seria algo que iria trazer uma mudança no panorama da indústria. Numa análise superficial, é um negócio simples.

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Mas, lá está, o demónio está nos detalhes e para quem quer assinar o acordo em junho, retirar de bolsa as duas empresas no verão de 2026 e então criar a nova empresa em agosto de 2026, os prazos estão a ficar apertados. Há, pelo menos, cinco questões que podem emperrar todo o processo.

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Como dividir o poder?

Com efeito há muitas questões que estão longe de estarem resolvidas. A propriedade e o controlo da nova empresa nascida da fusão terão de ser decidida de forma justa. A primeira abordagem diz será o rácio pelo qual os acionistas das duas empresas vão trocar os seus títulos antigos pelos da nova empresa.

Naturalmente que tudo terá de ser avaliado por empresas externas levando em linha de conta a média do preço de cada ação durante um alargado período de tempo. Depois, terá de ser levada em conta a junção da Mitsubishi a este acordo.

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A Honda tem uma dimensão bolsista desmesuradamente maior. Só para exemplificar, as ações da marca valem 10,18 dólares para uma capitalização de 55 mil milhões de dólares. Por outro lado, a Nissan tem um valor de 3,05 dólares o que se traduz numa valorização bolsista de 11 mil milhões. Se for unida a Mitsubishi, a Bolsa Japonesa acredita que a proporção será de 5 para 1 em favor dos acionistas da Honda.

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Significa que a Honda ficará com 77 a 78% da nova empresa, a Nissan assumiria 15 a 16% e a Mitsubishi com 6 a 7%. Questão: e se a Honda e a Nissan quiserem coexistir como empresas separadas debaixo da mesma holding. Como é que vão integrar a parte operacional?

Fusão Honda – Nissan: quem será o novo líder?

O rascunho do acordo entre a Nissan e a Honda apontava a empresa liderada por Toshihiro Mibe como aquela que iria nomear a maioria dos diretores internos e externos da nova empresa. Por outras palavras, o CEO da nova empresa seria nomeado pela Honda.

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Toshihiro Mibe, CEO da Honda

Nessa medida, não haverá dúvidas que numa eventual fusão o CEO será Toshihiro Mibe. O executivo japonês está no cargo há três anos e com uma gestão estável e do agrado dos acionistas. Já Makoto Uchida tem muitos problemas dentro da Nissan e o fardo pesado desde a saída de Carlos Ghosn tem sido complicado de gerir. Conseguiu libertar-se das amarras da Renault dentro da aliança, ficou com a Mitsubishi, mas os resultados não têm sido famosos. Já tentou vários recomeços, mas as coisas continuam emperradas.

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Makoto Uchida, CEO da Nissan

Por outro lado, a estrutura acionista da Nissan entende ser este o momento para alterar o rumo e fazer entrar sangue novo na empresa. Fica por saber quem assumirá os papeis de líderes operacionais na Honda e na Nissan se Mibe for o CEO do grupo e Uchida passar para um papel secundário.

Vai mudar a forma de operar das duas marcas?

De acordo com os dados apurados, tanto a Honda e a Nissan funcionam com excesso de produção, algo comum na indústria automóvel. Contudo, a Honda terá cerca de meio milhão de unidades de excesso, a Nissan está em pior condição com 1.3 milhões de unidade em excesso. Dessa forma, não estranha a declaração de Toshihiro Mibe lembrando que a fusão das duas companhias está condicionada à resolução dos seus problemas. Um recado à Nissan que levou os responsáveis máximos a olharem para Uchida e apressarem as mudanças necessárias.

Por outro lado, ambas as empresas querem partilhar linhas de produção, mas com sinergias que passam pela harmonização dos processos. Mas comprar as mesmas peças a fornecedores comuns  com linhas diferentes será complicado. Nessa medida, trabalhando com excesso de produção, há fábricas que vão ter de fechar. Quais? Que metodologia vai ser seguida? Quais vão ser os fornecedores escolhidos?

Questões difíceis para casas que, com toda a certeza, orgulham-se dos seus processos e possuem culturas diferentes. Pela análise feita até agora, os cortes e as dores serão todas na Nissan, mas este será um processo que levará anos a concluir.

Partilha de tecnologia

Antes de mais nada, dizer que ambos os construtores possuem avançados centros de desenvolvimento e estão muito avançadas em tecnologias de nova geração. Por outro lado, ambas já investiram, muito, no desenvolvimento de baterias de estado sólido.

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Porém, a Honda está mais avançada e os protótipos da Série 0 já estão a circular com estas baterias. E já este ano, com as unidades de produção nos EUA, deverá começar a produzir essas baterias. Possivelmente, o projeto da Nissan poderá ficar para trás ou ser usado pela Renault.

Com toda a certeza, há mais possibilidade de colaboração no que toca aos veículos definidos por software e na racionalização dos esforços de pesquisa e desenvolvimento. Mas antes de 2030 será difícil que produzam frutos.

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Como fica a Aliança Renault Nissan Mitsubishi?

A reestruturação da Nissan prevê muitas mudanças. Só para ilustrar, a Nissan está a vender a sua participação de 34% na Mitsubishi adquirida em 2016 e que lhe dava o controlo da sociedade. Por outro lado, a Renault e a Nissan continuam comprometidas em manter os 15% de participação cruzada. Por isso mesmo, a casa francesa está a vender os 43% que detém na Nissan.

Com toda a certeza esta situação vai complicar a avaliação da Nissan e a forma como encaixa na futura empresa. Do lado da Honda, as ligações externas também são complicadas. Só para exemplificar, a casa japonesa tem uma participação de 50% com a Sony na Sony Honda Mobility que criou a marca Afeela. Por outro lado, a Honda continua a sua colaboração intensa com a General Motors na busca de soluções na área do hidrogénio.

Em suma, unir duas grandes companhias é uma dor de cabeça inaudita. Juntar mais alguns atores externos, adensa a cefaleia. Quando há desproporção entre um e outro, passa a ser uma enxaqueca brutal. Portanto, veremos se a fusão se concretiza. A Nissan precisa dela para evitar uma queda pouco interessante, a Honda quer ser um major player no Japão e no Mundo.