Construtores aumentam preços para pagar descontos nos EV

Os construtores aumentam preços dos automóveis convencionais para pagar os descontos nos EV. Mas será que terá efeito?

O desespero está a tomar conta da indústria automóvel europeia, incapazes de lutar contra tanta adversidade. Com toda a certeza, a mobilidade elétrica não ganha velocidade e em janeiro entram em vigor os mais duros limites de emissões de CO2. Por isso, os construtores aumentam preços dos automóveis convencionais para pagar os descontos nos EV. Porque esses limites ameaçam afundar, mais ainda, os construtores europeus no que toca à rentabilidade. As últimas medidas acertam em cheio no consumidor…, mas terão efeito prático?

mercado eletricos 1

Gerir uma organização que movimenta milhares de milhões de euros só está ao alcance de alguns. Com toda a certeza, tudo é muito mais simples quando os ventos sopram de feição, no banco está uma conta forrada com muitos euros e os investidores estão satisfeitos com a rentabilidade.

Foi assim que Carlos Tavares, Dieter Diess e outros fizeram o seu tirocínio na gestão de grandes naus catrinetas como a Stellantis ou o grupo Volkswagen. O português ofereceu uma margem de lucro operacional nunca vista num construtor generalista durante tempo suficiente para criar o vício do lucro. Chegada a borrasca, nem Santa Bárbara salvou estes ilustres gestores. E, agora, o desespero está a tomar conta dos líderes da indústria automóvel.

mercado eletricos 5

Aumentar preços para desviar compradores para os EV

Com o fim de desviar os consumidores dos automóveis com motores de combustão interna, as marcas estão a aumentar os preços, fechando, assim, a diferença de preços. Este movimento que encarece os automóveis entre 300 e 500 euros, tem como pano de fundo o “monstro” que vai ser solto dia 1 de janeiro de 2025.

Falamos da norma de emissões mais restrita de sempre que baixa o limite de emissões de CO2 bem abaixo dos 100 gr/km de CO2. Com o intuito de evitar as pesadas multas previstas pela União Europeia, as vendas de modelos 100% elétricos teriam de chegar a uma quota de 20% do mercado. Por outras palavras, teriam de ser vendidos muito mais elétricos do que sucede atualmente, pois essa quota não passa dos 13%!

mercado eletricos

Crise já está a minar por todo o lado

A menos que haja uma reviravolta inesperada nos próximos meses, as vendas de automóveis novos no Velho Continente estão cerca de 20% abaixo dos valores antes da pandemia. Da mesma forma, há sobre produção no parque produtivo da indústria com os “stocks” a acumularem-se de forma assustadora. Com toda a certeza, há muitos carros que chegam aos concessionários sem comprador, mas que têm de ser escoados de qualquer forma.

Juntamos a este cocktail devastador a cada vez mais forte invasão chinesa, a mudança de hábitos de consumo e os custos elevadíssimos de produção dos veículos elétricos ou eletrificados. E, ainda, as incertezas políticas, formando um caldo altamente instável e que está a deixar em franja os nervos dos gestores. Como se não chegassem as decisões patéticas que estão a encaminhar para o abismo uma das mais importantes indústrias europeias, os Governos perceberam que os incentivos à compra de veículos 100% elétricos estavam a ficar caros. Sem pudores, acabaram com os incentivos perante a erosão da economia alemã, a maior do Velho Continente, cuja ligeira constipação pode transformar-se em gripe e profunda pneumonia nos outros países da União Europeia.

AdobeStock 176726239

Aumento de preços subsidia descontos nos EV

Carlos Tavares saiu da Stellantis pelo desacordo com o resto do conselho de administração da Stellantis sobre que ações tomar para combater a hemorragia financeira no grupo. O português defendia cortar a produção dos modelos de combustão interna e dar prioridade aos elétricos, tudo fazendo para cumprir as normas de 2025.

Com toda a certeza, outras razões houve para esta saída abrupta do português do leme da Stellantis. Porque Jean-Philippe Imparato, agora o responsável pela Stellantis na Europa, defende o mesmo que Tavares.

Dessa forma, os preços dos modelos da Stellantis de combustão interna estão a aumentar tentado desviar os compradores para os modelos elétricos. Só que isso vai levar à perda de produção, exatamente aquilo que Tavares defendia.

O aumento de preços reduz a diferença entre os modelos de combustão e os elétricos. Mas isso não vai gerar vendas de elétricos suficiente para “pagar” a ainda maior quebra de produção.

Por outras palavras, sem subsídios e sem o crescimento do mercado, o drama pode ser muito maior do que o esperado.