No ano do septuagésimo aniversário do seu fundador, Carlo Abarth, a marca detida pela FCA teve um ano de 2019 muito positivo em termos desportivos, com vitórias em ralis que lhe valeram a Taça FIA R-GT e o troféu das duas rodas motrizes no Campeonato de Espanha de Ralis.
Em todos estes triunfos o denominador comum foi o Abarth 124 Spider. Um bom pretexto para tomarmos contacto com o roadster da marca italiana que se encontra no seu último ano de comercialização na Europa. Fruto duma parceria entre a Fiat e a Mazda, o Abarth 124 Spider é construído no Japão e assenta na plataforma do Mazda MX-5, um dos roadster de maior sucesso a nível mundial, e que também já ensaiamos.
O interior é partilhado com o Mazda e nele encontramos uma posição de condução bastante baixa que só é prejudicada pela falta de regulação em alcance do volante, algo também criticado no modelo japonês e que foi recentemente resolvido no último update da atual geração. Os espaços de arrumação não abundam no habitáculo mas não comprometem e a bagageira tem o espaço suficiente para um fim de semana a dois.
O info-entretenimento tem o mínimo essencial, com a navegação e a câmara traseira a custarem 1000 € adicionais. Lamenta-se que, ao contrário do Mazda MX-5, não exista integração Apple Carplay/ Android Auto, nem como opção.
Motor faz a diferença
Enquanto que a versão de rali está equipada com um motor de 1.8 l que encontramos no Alfa Romeo 4 C, no 124 de estrada a Abarth montou o mesmo 1.4 l Turbo do Fiat 500, e que aqui entrega 170 cv, em conjunto com uma caixa manual de seis velocidades, proveniente do Mazda MX-5 da geração anterior. Umas suspensões Bilstein, novas barras estabilizadoras, travões Brembo e o fundamental autoblocante mecânico completam a lista de atributos deste descapotável.
Mudando o foco para o fundamental, a condução, o Abarth 124 é um carro fácil de levar em cidade, em virtude da boa disponibilidade de binário do motor e das dimensões compactas. Os comandos estão bem calibrados e têm um peso adequado e os opcionais sensores de estacionamento e camara traseira são uma ajuda útil neste particular.
Em auto estrada temos presentes alguns ruídos aerodinâmicos provenientes da capota mas perfeitamente expectáveis e que não prejudicam a capacidade de, se o condutor assim quiser, fazer umas centenas de quilómetros em AE. Nestas condições o som do escape nem se torna demasiado intrusivo mas é preciso ter em atenção que não estamos propriamente dentro duma berlina familiar. Gerindo bem as expectativas, é bastante aceitável.
Escape é a cereja no topo do bolo!
O escape Record Monza é um dos grandes destaques destes Abarth 124. Simplesmente espetacular, com um ronco forte logo no arranque e uma crescendo que dá vontade de espremer o sumo à mecânica. O som não só abre constantemente o apetite, como até parece ter mais do que os 170 cv.
Numa estrada de montanha, o Abarth 124 Spider é uma escola de condução para quem procura ter prazer e diversão com um carro de tração traseira. Suficientemente potente e ágil a mudar de direção o Abarth 124 tem um chassis previsível e equilibrado, com uma suspensão que controla bem os movimentos da carroçaria sem prejudicar demasiado o conforto nem adornar demais, curvando como um bloco.
A tração é boa, com pneus Bridgestone RE050A, e o motor tem argumentos suficientes para intervir no chassis se assim o desejarmos, com o autoblocante a oferecer várias opções ao condutor dado que em curvas lentas é possível desequilibrar a traseira entrando pendurado nos travões ou em potência e, a partir deste momento, cabe a quem vai ao volante escolher qual o ângulo em que quer acabar a curva, com mais ou menos “nota artística”…
Só acelerador…
Em curvas rápidas este roadster é ágil, controlado, capaz de bons ritmos de andamento e tem uma afinação que controla bem a sub-viragem, colocando sempre a traseira a jogo num equilíbrio muito divertido. Depois… faz facilmente aquilo que no Mazda MX-5 exige muito mais empenho, deixa-se levar só de acelerador e volante. Um brinquedo…
O motor 1.4 l turbo, não tem a pureza de um motor atmosférico, mas o que perde em resposta ao acelerador ganha no binário que entrega, o que lhe possibilita intervir eficazmente no equilíbrio do chassis do 124. Neste processo o condutor sente-se claramente dentro da ação pois o motor não gosta de estar abaixo das 2500 rpm , o que implica uma utilização atenta da caixa manual para extrair o seu melhor. Damos por nós entre a 2ª e a 3ª velocidades procurando manter o turbo sempre cheio. Neste caso em específico, isto é um ponto a favor, até porque temos o tal som a puxar por nós…
Os travões Brembo estiveram sempre à altura dos acontecimentos e demonstram bom ataque inicial ao pedal.
Tudo tem o seu preço
O preço base do Abarth 124 Spider é de 42 000 € mas a unidade que ensaiamos possuía três pacotes adicionais que nos parecem importantes, o Visibility (Iluminação LED, sensores de chuva, luz e estacionamento) orçado em 1800 €, o Pack Officine Abarth (capot e bagageira em preto mate, e o escape Record Monza) por 3300 € e o pack Premium, com navegação, acesso sem chave e camara de estacionamento por 1000 €, elevando assim o total da unidade ensaiada para 49 071 €.
Em suma, o Abarth 124 Spider é um dos roadster mais divertidos que podemos encontrar no mercado. Representa uma boa hipótese de entrada para quem se quiser iniciar numa experiência de tração traseira, pelo seu comportamento divertido, ajustável e previsível. É mais caro que o modelo que lhe deu origem, mas também oferece outros atributos.
A sua exclusividade faz se pagar bem no momento de passar o cheque, com um valor demasiado próximo dos 50 000 €.
Mas tendo em conta que 2019 representou o último ano de comercialização na Europa deste modelo, podem existir na rede de concessionários Abarth unidades em stock com condições especiais de aquisição. Se tem interesse, vale a pena investigar, nós até damos uma ajuda…
Conclusão
É impossível não o comparar ao Mazda MX-5. O Abarth 124 Spider consegue, com a mesma base, uma imagem mais desportiva, para a qual contribuem todos os pormenores Abarth mas acima de tudo, o escape Record Monza, e ainda um comportamento mais divertido e mais fácil de levar com a solução de colocação de um motor Turbo com mais potência. Um carro para se conduzir numa boa estrada de serra, só com o acelerador, e de capota aberta...
Ficha Técnica
1368 cm3
Cilindrada
250 Nm
Binário Máximo
170 cv
Potência
6,8 s
0-100 KM/H
232 km/h
Velocidade Máxima
6,4 l/100 km
Combinado
9 l/100 km
Registado
192 g/km
Emissões CO2
42 000€
Base
49 071€
Ensaiado
Som do escape. Comportamento. Imagem.
Falta de ajuste na coluna direção. Preço.