Mais depressa eu escrevia sobre a minha grande preocupação em relação à profunda inundação SUV que o mercado atravessa, e mais depressa me punham nas mãos um daqueles SUVs que provam que nem todos são iguais. Chamam-lhe os hot-SUV… mas mesmo dentro desses, há o Ford Puma ST, o Hyundai Kauai N, e depois há este Alfa Romeo Stelvio Quadrifoglio Verde ?, e apesar de estar no mesmo patamar dos SUVs de topo alemães como o BMW X3M Competition, ou o Mercedes-AMG GLC 63, já recebeu mais prémios que os restantes todos juntos. Mais concretamente 19 Prémios (entre 2017 e 2019), independentemente da versão. E, assim de repente, descobri que afinal adoro SUVs!
OK! Mais ou menos… e porquê? Porque me continua a fazer alguma confusão o contrassenso que é unir num só automóvel dois conceitos tão distintos. Um automóvel que se quer versátil e confortável, e outro que se quer dinamicamente capaz, e potente. Ora, unir estes dois conceitos não é tarefa fácil. É por isso que este Alfa Romeo pouco tem de confortável. Ainda assim, considero que a Alfa Romeo não se saiu nada mal com este Stelvio Quadrifoglio, senão vejamos…
SUV, B-SUV, SUV médio, grande SUV… Onde é que isto irá parar?
O mercado está inundado de propostas SUV em todos os segmentos e para todos os gostos… Teremos mesmo espaço para tantos SUV?
No exterior sobressaem vários pormenores como sejam a ausência de cromados, algumas aplicações a fibra de carbono, o célebre trevo de quatro folhas nos guarda lamas, ou as enormes jantes de liga leve de 19″ na frente e 20″ na traseira e que não escondem as bonitas pinças de travão personalizáveis na cor. Mas o que mais se destaca é a secção traseira com duas consideráveis saídas de escape de cada lado (4 no total) e um pequeno difusor central entre elas. Por outro lado, o que mais o identifica é o trevo de quatro folhas ?, originalmente desenhado dentro de um quadrado. Infelizmente o triângulo simboliza a perda do piloto Ugo Sivocci durante os testes do Grande Prémio de Itália, no circuito de Monza, em 1923.
Motor é o principal segrego
O colossal bloco 2.9 V6 biturbo com 510 cv de origem Ferrrai não é nenhuma novidade. Conhecido pelos melhores motivos, foi através da sua colocação no Giulia Quadrifoglio que ganhou fama. E se guardo na memória todos os momentos vividos com o Giulia Quadrifoglio, incluindo um pedido de namoro com o volante cruzado e fumo a sair da traseira, foi naturalmente com entusiasmo e muita expectativa que me sentei ao volante deste Stelvio, curiosamente na mesma cor do Giulia de outrora.
Alfa Romeo Giulia Quadrifoglio – Mamma Mia!
O Alfa Romeo Giulia Quadrifoglio é um misto de emoções, capaz de nos deixar sem palavras… só o motor Ferrari faz dela uma das melhores berlinas desportivas.
Por fora as renovações estéticas são muito subtis, quase impercetíveis, mas no interior este Alfa Romeo Stelvio apresenta já várias novidades e melhorias, e que são muito bem vindas. Falo não só dos materiais, mas acima de tudo da tecnologia, com um novo sistema de info-entretenimento com ecrã de 8,8 polegadas tátil que, devido à distância a que se encontra do condutor, é mais facilmente operado através do comando rotativo da consola. Ainda assim, de facto era urgente esta atualização.
Pormenores que fazem a diferença
Se o motor é a alma e o segredo do Alfa Romeo Stelvio Quadrifoglio, todos os restantes sistemas e componentes mecânicos unem-se para fazer a diferença. É a soma de todas as partes que o aproxima muito da perfeição.
O sistema de tração integral Q4 com diferencial traseiro ativo e veio de transmissão em carbono, está soberbamente bem conseguido. Os discos de travão perfurados com 390 mm à frente são imprescindíveis para parar as quase duas toneladas de SUV. Depois, o modo RACE é viciante e obrigatório, ainda que fiquemos entregues a nós mesmos. O ESP bem como as restantes ajudas à condução são desligadas. A válvula de escape abre para o melhor som deste Alfa Romeo Stelvio Quadrifoglio, e o amortecimento variável torna-se mais firme e, naturalmente ainda menos confortável.
A acompanhar a fome de devorar estrada a ritmos alucinantes está uma caixa de velocidades automática ZF de oito relações. Para além de rápida em modo normal e supersónica em modo Race, inclui aquelas patilhas geniais que não me canso de elogiar. Fixas à coluna de direção, com as dimensões perfeitas e um tato exímio. Sem dúvida que, a par da sonoridade do motor, são o melhor da experiência ao volante do Stelvio Quadrifoglio.
E ao volante também não podemos criticar os bancos desportivos. Apesar de pouca aparência e de não serem verdadeiras baquets desportivas, oferecem um muito bom apoio e são um excelente compromisso.
De SUV familiar, a SUV desportivo!
Se nos outros modos o Stelvio Quadrifoglio pode ser um SUV familiar, apenas mais despachado do que o normal, no modo Race este transforma-se proporcionando momentos extasiantes que só aqueles amantes do mundo automóvel vão perceber. A ritmos mais altos consegue-se provocar uma ligeira deriva do eixo traseiro que o ajuda a posicionar-se para a reta, ou curva, seguinte. Genial! Não esquecer que o sistema de tração tanto pode colocar 50% de tração no eixo dianteiro, como 90% no eixo traseiro.
A verdade é que em estrada o Alfa Romeo Stelvio Quadrifoglio é o “Sr Certinho”. Faz tudo bem! Do arranque à travagem, da estabilidade e tração em curva ao movimento muito controlado da carroçaria, perde apenas no que diz respeito a conforto. A culpa é em parte das barras estabilizadoras mais pesadas e das molas mais firmes para compensar um centro de gravidade mais alto. Lá está o tal contrassenso de que vos falava, embora também possa ser apenas a prova de que a perfeição não existe.
No final, é um facto que passei a ver os SUV com outros olhos, mas com a certeza que o Giulia Quadrifoglio não só faz mais sentido, como proporciona uma experiência ainda mais intensa.
Conclusão
É, sem dúvida alguma, um dos melhores hot-SUV do mercado, ainda que seja difícil digerir este conceito. Naturalmente que para apresentar estes níveis de performance, e uma dinâmica invejável, não se esperam bons consumos nem excelentes níveis de conforto. Não há bela sem senão. O sistema de tração integral é exímio, o som é viciante e a caixa de velocidades é rápida e precisa como se quer. O "modo" Drift é, apenas, a cereja no topo do bolo!
Ficha Técnica
2891 cm3
Cilindrada
600 Nm
Binário Máximo
510 cv
Potência
3,8 s
0-100 KM/H
283 km/h
Velocidade Máxima
11,5 l/100 km
Combinado
14 l/100 km
Registado
261 g/km
Emissões CO2
131 454€
Base
145 718€
Ensaiado
Motor. Som. Caixa automática e patilhas. Tração.
Preço. Consumos. Conforto.