Inicialmente apelidado de Z3, o roadster da BMW já teve várias vidas distintas desde 1996. Recebe o nome de Z4 já em 2002. Admirado por muitos, criticado por outros tantos, o modelo poderia estar condenado nesta geração… mas a marca bávara voltou a apostar no seu roadster, e em boa hora o fez. Obrigado BMW, ainda precisamos de automóveis como o BMW Z4!
Sendo um modelo de nicho na gama da marca de Munique nunca foi reconhecido como referência desportiva, motivo pelo qual não vê uma versão trabalhada pela divisão M desde 2006. Na sua última iteração tinha uma capota rígida e abdicava de oferecer um comportamento mais acutilante. Adiante…
Desportivo, roadster, ou ambos?
Chegados a 2019 a BMW lança a geração G29 com o objetivo de voltar a ter um descapotável de dois lugares e tração traseira com maior pendor desportivo. A capota rígida deu lugar a um tejadilho de lona, com vantagens no peso e na estética e as proporções da carroçaria mantém-se as tradicionais “frente comprida e traseira curta” mas num desenho alinhado com a imagem atual da marca, onde pontificam os rins de grandes dimensões na parte frontal.
Esteticamente o resultado convence, mesmo não estando perante a versão mais apimentada. O pack M é o responsável por tão apelativa presença em estrada, mas tem um custo aproximado de cinco mil euros.
O maior poder está reservado à versão M40i com 340 cv, autoblocante eletrónico e suspensão adaptativa, mas não é dessa versão que nos ocupamos. Essa é aliás a mesma que podemos encontrar no Toyota Supra, com o qual o novo BMW Z4 partilha inúmeros componentes.
Mais focado na condução
Equipado com um motor 2 l turbo de quatro cilindros que debita uns 197 cv, aqui acompanhado pela habitual caixa ZF de oito velocidades, este é o BMW Z4 mais acessível, e muito provavelmente o que mais veremos nas nossas estradas. Se o desenho exterior é desportivo, o que se acentua na unidade que ensaiamos devido aos para-choques específicos da versão M, orçada em 5690€, no interior encontramos bons materiais e excelente qualidade de construção, bem típico da BMW.
Sentados numa posição baixa, mas bem apoiados pelos bancos desportivos, encontramos um volante com boa pega, e de grande espessura. O info-entretenimento que já é habitual nos últimos produtos da BMW, com dois ecrãs, um na zona dos manómetros (pouco configurável e com um conta-rotações de difícil leitura) e outro no centro do habitáculo ligeiramente inclinado para o condutor onde se encontra o sistema de navegação, bastante completo e com conexão Apple Carplay, ambos opcionais por 2850 €. Os espaços de arrumação não abundam e, aparte a zona de carregamento para o smartphone, tanto o apoio de braço como as bolsas das portas têm pouco espaço.
À parte disso, e como referimos, a qualidade está lá e os materiais agradam na sua maioria. Não existem ruídos criticáveis apesar da suspensão ser algo castigadora como já vamos explicar mais adiante.
Com um toque no botão da ignição, o motor desperta e iniciamos a viagem…
Num ritmo calmo e de passeio salienta-se o som do motor 2 l que, apesar de ser sintetizado, está bem trabalhado e não se sente demasiado artificial. A caixa é muito suave e o vento não invade o habitáculo em demasia. Esta tranquilidade só é perturbada se surgirem problemas no pavimento, pois o BMW Z4 é duro, e sacode os ocupantes com veemência, particularmente nesta configuração que mistura jantes de 19’ com pneus de perfil 35 e suspensão desportiva M. Uma configuração mais branda seria preferível em prole de elevados níveis de conforto, mas prevalece a dinâmica.
O motor permite bons andamentos e parece até ter mais do que “apenas” os 197 cv, devido à boa disponibilidade de binário e a uma caixa automática que o mantém sempre no regime certo.
Quando queremos comprovar as credenciais desportivas do BMW Z4, a situação muda de figura pois temos efetivamente dois carros distintos. Se o piso for perfeito, o Z4 sDrive 20i faz tudo bem, tem muita tração, o motor não cria quaisquer problemas aos pneus de diâmetro 275 que equipam as rodas traseiras e, em piso molhado, até são os pneus da frente que escorregam primeiro. Competente sem dúvida, mas não especialmente memorável nem interativo, ainda que permita tirar partido da tração traseira criando aqueles momentos típicos do roadster da BMW.
Se, no entanto, a estrada tiver alguns desníveis, raízes de árvores ou um piso menos bom, o BMW Z4 sofre muito com os ressaltos, não apenas no conforto mas também no comportamento. A eletrónica entra regularmente devido ás oscilações da traseira que se manifestam não por existir demasiada potência, mas porque os movimentos da carroçaria os fazem perder o contacto com o solo.
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O mercado desacelerou em 2019, mas os elétricos começam a ocupar parte importante das vendas das marcas. A BMW contou com 18% das vendas destes veículos.
Dinâmica em prole do conforto
É um facto que a suspensão é dura mas nestas condições parece que mesmo assim não é capaz de conter os movimentos da carroçaria, eventualmente por ter pouco amortecimento para as molas que monta. Em suma, o BMW Z4 sDrive20i não se sente muito confortável neste tipo de condução, o que acaba por também retirar alguma confiança ao condutor. Tudo funciona melhor quando o piso ajuda e os ritmos são expeditos, mas sem exageros… O BMW Z4 deixa-se levar naquele passeio a tirar partido do sol, do vento, e de um bom sistema de som! É aqui que a essência do modelo se revela. E é claro que aquele som em modo Sport, ou aquele arranque mais solícito nos confortam o ego.
Ainda assim, seria interessante poder montar uma jante de menores dimensões com a opcional suspensão adaptativa (disponível por 630 €), de forma a constatar os ganhos neste Z4. Provavelmente ganharia um comportamento mais gratificante. A direção é precisa, mas sente-se margem para melhorias, pois o volume de informação que retorna ao condutor pode ser superior, algo essencial num automóvel que se conduz em cima do eixo traseiro.
Os consumos registados mantiveram-se abaixo dos 7,5 l/100 km com andamento contido, subindo para perto dos 10 l/100 km quando tentamos tirar mais partido do bloco e do chassis. Valores perfeitamente aceitáveis para o modelo em questão e utilização a que se destina.
Regras à parte…
Na regra dos três “b”s – Bom, Bonito e Barato – o BMW Z4 falha apenas na última, já que o preço base da versão de entrada situa-se ligeiramente acima dos 50 mil euros! Na verdade, não nos parece um defeito, afinal a qualidade tem o seu preço.
O BMW Z4 20i encontra-se disponível a partir de 51 000€ mas a unidade ensaiada ascendia a quase 68 mil euros, através de opcionais tais como a iluminação LED (1260€), as jantes de 19’ (990€), o carregador para telemóvel (415€), o head-up display (1140€), o acesso sem chave (630€) e a câmara traseira (530€). Em suma o BMW Z4, nesta geração G29, sofreu uma evolução no caminho certo face ao modelo que o precedeu e é hoje um produto melhor. Apesar disso, ainda não está ao mais alto nível do que se faz no segmento dos roadsters desportivos o que, sinceramente, não nos parece que afete a maior parte dos compradores desta versão 20i, certamente atraídos pelos outros interessantes atributos deste modelo.
Conclusão
A versão 20i do Z4 revela-se mais do que suficiente para não só conseguir imprimir andamentos céleres e emotivos com uma sonoridade que agrada e entusiasma, como para poder desfrutar daquilo que um roadster como o BMW Z4 proporciona. Se o principal propósito for tirar partido do Z4 em longas viagens a céu aberto com níveis de conforto significativos, aí a suspensão adaptativa é obrigatório, caso contrário teremos que aceitar um compromisso que dá primazia ao comportamento dinâmico. Mesmo nesta versão, o Z4 não é um roadster acessível, mas tem pouca concorrência com os mesmos níveis de qualidade, potência e diversão.
Ficha Técnica
1998 cm3
Cilindrada
320 Nm
Binário Máximo
197 cv
Potência
6,6 s
0-100 KM/H
240 km/h
Velocidade Máxima
7,1 l/100 km
Combinado
7,5 l/100 km
Registado
161 g/km
Emissões CO2
53 872€
Base
67 980€
Ensaiado
Qualidade interior. Motor. Consumos.
Comportamento em mau piso. Conforto. Opcionais. Pouca configuração do ecrã digital.