Haverá melhor forma de entrar no novo ano que ao volante de um dos melhores desportivos “hot-hatch” do mercado? Confesso que sou um verdadeiro apaixonado por dois conceitos do mundo automóvel. O dos “pocket-rocket”, e o dos “hot-hatch”. Talvez por serem mais “reais”, e possíveis de conduzir “com a faca nos dentes”, ou seja, muito perto dos seus limites, são automóveis que me fascinam… O Bruno Graça teve a recente oportunidade de rever o “nosso” notável Hyundai i30 N, e eu agora pude recordar as sensações do Honda Civic Type R, depois do especial 20 anos da Escape Livre Magazine, com este e com o Ford Focus RS.
Não sendo portanto novidade no mercado, ao contrário do que aconteceu com o Ford Focus ST, ou com o Renault Mégane RS Trophy R, o Honda Civic Type R é daqueles automóveis aos quais nunca dizemos que não. Dispensando grandes apresentações, o modelo FK8 com a icónica sigla da marca japonesa foi concebido a pensar primordialmente na eficácia.
Foi aliás por esse motivo que um dos engenheiros responsáveis pelo desenvolvimento do Type R nos respondeu que “fazer mais barulho, não significa ser mais rápido“, quando lhe perguntamos porque é que não tinham colocado outro escape mais audível neste FK8.
Muita parra… pouca uva!?
Repleto de “apêndices” aerodinâmicos, o Type R não passa despercebido em lado nenhum. Todo o arsenal aparatoso de spoilers, ailerons e de mais pormenores prometem fazer a diferença, e na estética garantidamente que o fazem. “Olhem para mim” parece ser a “frase de engate” do Type R, mas a verdade é que atrás deste aspeto musculado, agressivo e até exagerado, esconde-se um desportivo que, ainda que nos divirta bastante, não apaixona… o que não coloca em causa todas as suas potencialidades.
Inegavelmente o Type R FK8 é sobre eficácia! É indiscutível a forma abrupta como sobe de regime. Inquestionável a eficácia com que consegue curvar, com uma frente muito precisa mas uma traseira que funciona melhor ainda, principalmente antes de se atingir a temperatura ideal para os pneus Continental SportContact6 específicos deste Type R… Excetuando esses momentos em que provocamos o chassis propositadamente e no limite, o Civic Type R é tão certinho que “até chateia”, o que pode ser visto tanto como ponto positivo como negativo.
Por um lado, é esse o seu trunfo para bater sucessivos recordes, eficácia! Por outro, e apesar de um comportamento de eleição, o Type R é aquele desportivo que não nos tira o sono. A menos que estejamos precisamente a tentar bater algum recorde, em pista.
Nada a apontar aos incansáveis travões Brembo. Como manda a tradição, os logos do construtor assumem a cor vermelha. A enorme asa é já imagem de marca, mas cumpre a sua função. Pneus Continental SportContact6 em jantes de 20″.
De “papa-recordes” a “daily driver”
Por conseguinte, entre a Honda e a Renault Sport já existe uma célebre “troca de galhardetes” pelos recordes que tanto este Type R FK8, como o Renault Mégane RS Trophy-R têm conseguido por esses circuitos fora.
É incontestável a forma como esta geração FK8 consegue toda esta eficácia sem comprometer o conforto. Existe inclusivamente um modo Comfort selecionável que faz com que o Type R possa ser utilizado como um “daily driver“. Até as baquets vermelhas conseguem oferecer o melhor de dois mundos. Conforto e apoio! O motor 2.0 l Turbo acorda sempre em modo Sport, recordando-nos a sua verdadeira essência. Para além disso contamos com uma boa habitabilidade, cinco portas, e espaço na bagageira para dar e vender (420 l). Só mesmo a aparatosa “asa” traseira nos poderá inibir de o levar a determinados locais, sob pena de sermos imediatamente categorizados.
É inegável a excecional precisão da caixa manual de seis velocidades com um curso muito curto. Soberba! Nas reduções contamos ainda com um ponta tacão eletrónico que nos faz sentir verdadeiros pilotos. E depois, é impressionante a forma como se consegue colocar toda a potência (320 cv) apenas nas rodas dianteiras, sem quaisquer perdas de motricidade. E não me refiro apenas a direito e com o piso seco… refiro-me nos mais variadíssimos tipos de asfalto e adversas condições atmosféricas!
Muito eficaz, pouco apaixonante
Se tudo isto são factos mais do que comprovados, outros existem mais questionáveis. Falo da envolvência na condução, apesar da boa posição de condução. Daquilo que normalmente estes desportivos são capazes de suscitar em quem gosta de automóveis. Apesar de toda a aparência, de tão “certinho” e “silencioso” que é, o Civic Type R não causa aquele efeito de “fruto proibido” que nos provoca o desejo de inventar desculpas para lhe deitar a mão. Falta-lhe aquela dose de irreverência com um som a condizer, mesmo em modo +R, onde a suspensão nunca chega a ser demasiado desconfortável. Até o travão de mão agora é elétrico! Não me interpretem mal, este é um desportivo espetacular, dos melhores em eficácia, mas não me viciou nem me diverti tanto como no Renault Mégane RS Trophy R, ou no Focus RS…
O Honda Civic Type R fala-nos de eficácia pura!
Em contrapartida, esta geração passou a ser muito mais atraente para uma utilização diária. Não faltam vários sistemas de ajuda à condução. É o caso do sistema de anti-colisão e manutenção na faixa de rodagem, entre alguns outros. Em resumo, o Honda Civic Type R cumpre de forma exemplar em tudo o que lhe possamos exigir, e mais ainda como familiar… só lhe falta aquela dose de loucura a fazer jus ao enorme aparato que faz visualmente. É um facto que nem sempre vamos “de faca nos dentes”, até porque os limites do Type R estão bem para lá do que é possível numa estrada pública, mas quando vamos… que seja a sério e com toda a “pompa e circunstância”! Como apaixonado pelo conceito “hot hatch“, para mim é apenas isso que falta a este Type R!
Só lhe falta ser mais efusivo! Transmitir mais emoção a quem o conduz para além da velocidade. Talvez uma nota de escape mais inebriante fosse meio caminho andado…
Nuno Antunes
Preço e garantia
Tanto assim é que a Honda tinha preparadas para o Salão de Genebra 2020 duas novas versões para este Honda Civic Type R. Uma ainda mais “hardcore” com uma redução de peso de 47 kg, e outra mais discreta com um aileron bem mais sóbrio, infelizmente parece que não chegaram a Portugal.
Por fim, não só o preço de cerca de 50 mil euros é um valor justo e alinhado com a concorrência, como a garantia de sete anos é mais um trunfo a favor do Type R. Não são todas as marcas que ainda apostam neste segmento mas, em contrapartida, com propostas como este FK8, a escolha não fica fácil…
Conclusão
O Honda Civic Type R tem tudo o que um bom desportivo tem de ter. Um excelente motor, um chassis irrepreensível e uma caixa manual de uma precisão e manuseamento excecional. O conjunto confere-lhe uma eficácia inquestionável. Depois, para além da qualidade de construção, ainda oferece um bónus pela facilidade de utilização no dia-a-dia. Só lhe falta transmitir mais emoção para o condutor!
Ficha Técnica
1996 cm3
Cilindrada
400 Nm
Binário Máximo
320 cv
Potência
5,8 s
0-100 KM/H
270 km/h
Velocidade Máxima
8,5 l/100 km
Combinado
12,4 l/100 km
Registado
51 750€
Base
51 750€
Ensaiado
Precisão da caixa manual. Prestações do motor. Eficácia. Utilização diária.
Som do escape. Sistema de info-entretenimento.