Ford Focus RS. PESADELO na estrada!

O último Ford Focus RS que tivemos oportunidade de ensaiar, é o maior pesadelo de automóveis como o Honda Civic Type R, o Renault Mégane RS, o SEAT Leon Cupra, o Peugeot 308 GTI, o Audi S3, o Volkswagen Golf R, entre outros, e deixou-nos verdadeiramente apaixonados. Foi por isso que com ele festejámos os 20 anos da Escape Livre Magazine!

Era sexta-feira, dia de jackpot no euromilhões… mas só me lembrei disso após os primeiros 50 km ao volante do Ford Focus RS. Na primeira paragem puxei do telemóvel e apostei o saldo disponível na aplicação. Já tinha destino para os primeiros 50 mil euros… transformá-los em algo especial, da cor do céu… outro tanto iria para umas aulas com o Ken Block, constatei mais tarde que não eram necessárias para conseguir tirar partido de tão eficaz automóvel.

Receita aprimorada ao pormenor

Mas deixemo-nos de sonhos… o Focus RS tal como alguns outros concorrentes, foi desenvolvido com tempo, e a receita foi aprimorada ao ínfimo pormenor. Os ingredientes estão todos nas doses certas e a Ford Performance esmerou-se para conseguir algo… especial(!), mas acima de tudo, marcante! A potência, a eficácia, a rapidez, a força, a precisão e a tração, fazem do Focus RS um dos melhores “hot-hatch” do mercado.

No arranque, o launch control é de se lhe tirar o chapéu já que dispomos de uma caixa manual. Tudo se assemelha ao arranque de uma etapa do WRC. Soberbo! Os 100 Km/h são atingidos em 4,7 segundos, tornando este no Focus RS no mais rápido de sempre.

O 30º carro da marca da oval a ostentar o emblema RS monta o já conhecido bloco 2.3 Ecoboost, com 350 cv e um sistema de tração integral Ford Performance AWD. O binário máximo atinge os 470 Nm durante 15 segundos com função Overboost, e o sistema de escape também foi alvo de afinações, revelando-se viciante nos modos de condução Sport, com os ráteres a soarem como foguetes. Palavras para quê?

Mais um Ford, para a história!

A experiência de condução deste Ford Focus RS é verdadeiramente única e visceral, já que o sistema AWD com vetorização dinâmica do binário, também inédito, atua em conjunto com o controlo eletrónico de estabilidade, e é capaz de enviar até 70% da potência para o eixo traseiro. Baseado numa dupla embraiagem que atua na unidade de tração traseira, o sistema gere a divisão do binário do eixo frontal para o traseiro assim como a distribuição do mesmo em cada roda do eixo traseiro. O resultado são passagens em curva a velocidades que desafiam as leis da física e com forças laterais a revelar valores inacreditáveis.

Existem quatro modos de condução: Normal, Sport, Track e… Drift, ou não tivesse sido desenvolvido em conjunto com o campeão das perícias, Ken Block. Cada modo controla o sistema AWD, os amortecedores, o controlo de estabilidade, a direção, a resposta do motor e a válvula de escape. A opção de ativar o modo desportivo dos amortecedores, aumenta 40% a firmeza e é percetível de imediato, aconselhada para pista, e para poupar as nossas costas. Na prática não é preciso ativar um dos dois últimos modos para perceber o funcionamento do sistema, as saídas de curva em carga são feitas sempre com ligeira deriva da traseira, que mal precisa de correção, e assim que endireita o RS rasga alcatrão com um grip avassalador.

Um verdadeiro… pesadelo!

Mas é sim nos dois últimos modos que se vivem as mais marcantes experiências com este Focus RS. A caixa manual exige precisão e não é muito curta, a direção está muito bem calibrada, e o som do escape nas detonações é o que nos leva às visitas frequentes ao posto de combustível. O modo Drift faz com que a traseira escorregue mais e mais cedo, mas não se pense que nos tornamos de imediato num Ken Block. Exige não só uma boa perceção do funcionamento do sistema, lembrando que este é um automóvel de tração integral, como alguma perícia, mas sim… depois disso, é viciante e torna-se “fácil”. Para conseguir fazer parar este pesadelo do asfalto, contamos com travões brembo com discos dianteiros de 350 mm e pinças de quatro êmbolos.

As jantes de 19” são de série, e é possível optar por pneus de competição, neste caso Michelin Pilot Sport Cup 2, e os confortáveis bancos Recaro também, embora possam ser substituídos opcionalmente e por quase 2000€ por umas baquets de competição da mesma marca, que não nos fizeram muita falta. Falhas? Falta-lhe seguir as pisadas do RS Francês, e ter um sistema de telemetria e informação específica para o RS!

E de resto?

É um Ford Focus, com péssimo ângulo de viragem como seria de esperar e uma embraiagem pesada que não ajuda nas manobras, e tem uma capacidade de bagageira inferior, para além disso, a fabulosa tração integral leva-o a consumir demasiado, mas digam o que disserem, não há no mercado nenhum automóvel que, por 50 mil euros, faça o que este RS faz. Nunca conduzi um WRC, mas este foi o mais perto disso que alguma vez conduzi. No final, não ganhei os 50 mil euros e fiquei com o Focus RS na cabeça. A vida não é justa…

Insatisfeitos por natureza… E porque o ser humano é um eterno insatisfeito, a Ford disponibiliza um kit de Performance da Mountune, que aumenta a potência máxima para 375 cv e 510 Nm de binário, em overboost, poupando duas décimas para atingir os 100 Km/h. O kit inclui um filtro de ar de alto desempenho, conduta com tubos em silicone de alta performance, uma válvula de recirculação de ar, uma revisão da afinação de software na unidade de controlo do motor, e pode ser montado à posteriori em qualquer concessionário mantendo a garantia de fábrica. Se vier de série, inclui teto, aileron e espelhos em preto mate. O preço do referido kit ronda os 1000€.

Uma coisa é certa, com ou sem kit o Focus RS é daqueles automóveis que vale a pena levar para pista, e com os Driving Days da Motor Sponsor isso é possível, em Braga, no Estoril e em Portimão!