O nosso ensaio ao Ford Focus ST podia ter sido bem diferente. Poder podia… mas não tinha sido a mesma coisa! Passo a explicar: Depois de alguns contratempos que nos levaram a adiar o ensaio deste Focus ST, quando finalmente acabamos por lhe deitar as mãos, já tínhamos tido conhecimento de uma notícia vinda dos lados da Ford Performance e que ditava o cancelamento da produção da versão mais radical, o Focus RS. Assim, este Focus ST passou a ser a versão mais potente em produção na atual geração, o que obrigatoriamente nos leva a olhar para ele com “outros olhos”.
De um momento para o outro, a versão “meio-picante” do Ford Focus, ou seja, intermédia entre o comum familiar do segmento C por exemplo na versão ST-Line com o 1.0 Ecoboost mild-hybrid de 155 cv, e o diabólico RS, passou a ser a mais potente forma de tirar partido de um chassis mais do que reconhecido pelas suas aptidões dinâmicas. Depois de conformado com tal facto, algo que acontece devido às exigentes normas antipoluição, restou-me sentar e usufruir deste Ford Focus ST como se não houvesse amanhã… perdão(!) como não havendo outro mais potente!
Ford Focus RS. PESADELO na estrada!
Clubismos à parte, depois do ensaio ao Ford Focus RS o nosso coração ficou azul. Há automóveis que nos marcam e este foi um deles!
Discreto!
Antes disso, deixem-me falar das poucas alterações estéticas que, ao contrário do que acontecia no Ford Focus RS, neste passam bem despercebidas. Como habitual nos produtos da gama ST da Ford, estas são poucas e contidas. Para-choques um pouco diferentes, um aileron atrás, umas jantes de 19″ específicas e duas saídas de escape suspeitas. Entre elas encontramos ainda um discreto extrator. Para além disso, pinças de travão vermelhas e claro, os logotipos ST na grelha e na tampa da bagageira. Os fantásticos Michelin Pilot Sport 4S também acabam por deixar “a pulga atrás da orelha”. Certo é que o conjunto nesta opcional cor cinza “Magnetic” passa muito despercebido.
Passemos ao interior… igual a tantos outros Focus com exceção das soleiras das portas com a insígnia Ford Performance e claro… os bons bancos elétricos Recaro. Fica desde já a nota positiva pela forma como apoiam o corpo num chassis que pede muito em curva, mas já lá vamos… Para além das siglas ST e da numeração a vermelho no comando da caixa manual de seis velocidades, é tudo! Bom, temos ainda o viciante botão “S” a vermelho no volante mas calma…
O que realmente interessa!
Deixem-me falar das verdadeiras alterações. Chamemos-lhes importantes alterações, já que não existe nenhuma profunda, mas vários “pequenos” ajustes que fazem a diferença. A saber: Redução da altura da suspensão em 10 mm com molas mais duras em ambos os eixos (30% à frente e 13% atrás), redução do curso da caixa manual e mudanças nas admissão e linha de escape, mas também no intercooler.
Depois, o motor 2.3 l Ecoboost de quatro cilindros turbo (o mesmo utilizado no Ford Mustang e no Focus RS) com 280 cv e 420 Nm que dispõe agora de um sistema de anti-lag para melhorar a resposta do acelerador. Para além disso, monta um autoblocante mecânico de controlo eletrónico que… OMG! Contamos ainda com uma suspensão eletrónica e modos de condução que não permitem parametrizações manuais. What you see is what you get! Piso molhado, Normal, Desporto e… Pista de corridas! Em inglês é tudo tão mais fácil:(Wet, Normal, Sport e Track).
Intenso!
Deixei as sensações para o final por vários motivos. Primeiramente porque são intensas! Com um chassis extraordinário, uma direção muito precisa e um motor soberbo, a diversão é garantida. O bloco 2.3 l tem uma disponibilidade constante e binário praticamente até ao red-line. Não falta o avisador de mudança de relação, nem o ponta-tacão eletrónico nas reduções. A entrada em curva é feita com um golpe de volante rápido e natural onde a precisão da direção é fundamental. O resto é trabalho do excelente autoblocante.
Face ao Ford Fiesta ST, sente-se por parte deste Focus uma atitude “mais adulta”. Não existe o travão de mão manual para provocações de chassis. Estas têm de ser feitas com o efeito “lift-off”, tirando o pé do acelerador depois da entrada em curva. Os Michelin Pilot Sport 4S são eficazes e não dão margem para sustos, mesmo com toda a eletrónica desligada. A caixa tem um escalonamento irrepreensível o que nos permite usar a 2ª e 3ª relações para tudo, e mesmo ligado o sistema de controlo de tração está também ele muito bem calibrado.
O chassis ajuda o carro a curvar com pouco volante o que se torna muito divertido e viciante!
O peso da direção e do pedal da embraiagem demonstram que este Focus é para levar de “pulso firme”. Eu gostei, mas não é de todo agradável em cidade ou com aquele trânsito infernal… Em cidade, é também especialmente mau o ângulo de viragem. Afinal, estamos perante um “hot-hatch”! Não é que não seja utilizável no dia-a-dia, mas naturalmente com as idiossincrasias de um desportivo. Ademais é um facto que se nota também na suspensão, que obviamente nos sacode veementemente quando o piso não ajuda.
No final, fica apenas difícil apurar consumos. O Focus ST consegue ser um lobo em pele de cordeiro, mas quando é constantemente provocado por nós não se nega a nada. É esse o motivo que nos leva a apresentar um consumo final de aproximadamente 12 l/100 km!
Experiência enrriquecida!
Quando o ritmo aumenta, num dos modos desportivos, temos um aumento de som em dose dupla, ou seja, não só passamos a contar com interessantes detonações de escape, como no interior somos brindados com um aumento de som sintetizado. No final não destoa, e fica sempre à escolha do condutor, de acordo com o modo de condução selecionado. Para além disso sentem-se as alterações no peso da direção, na suspensão e no acelerador.
O pack Performance é, dos opcionais deste Focus ST, aquele que verdadeiramente importa. Inclui os referidos modos de condução, o indicador de mudança de relação, sistema de launch control e rev matching, e ainda luz ambiente multicor. Com exceção deste último, todos os outros fazem parte da boa experiência de condução que este “hot-hatch” permite. Todos os outros que elevam a fatura final para lá dos 50 mil euros desta unidade, são totalmente dispensáveis. Entre eles o Pack Driver, o Pack Winter, o Pack Família, o Pack Driver Plus, o sistema de deteção do ângulo morto, o carregador sem fios para smartphones, ou o head-up display entre outros.
Para quem já teve a oportunidade, como eu, de conduzir o diabólico Ford Focus RS mais do que uma vez, é difícil não ficar com um sabor amargo, mas inegavelmente este Ford Focus ST é um excelente “hot-hatch” capaz de fortes emoções ao volante e, para os mais atrevidos… fica a dica! Tem um potencial enorme(!), onde se inclui um aumento de potência e outros tantos upgrades com a certeza de que temos chassis e componentes capazes de as suportar. Por outro lado, e ainda que com vários concorrentes como o Hyundai i30 N ou o Renault Mégane RS, pelos cerca de 40 mil euros, é difícil encontrar um desportivo com um motor como este Focus ST.
Surpreendentemente a Ford conseguiu fazer da sua versão intermédia do Focus o mais desportivo da gama, mantendo a cabeça erguida e com fortes argumentos perante a concorrência, como é o motor 2.3 l Ecoboost.
Conclusão
Justificando o título deste ensaio. Não é que vindo da Ford Performance não tivemos à espera de um bom desportivo. Efetivamente estávamos. Mas utilizando o mesmo motor previsto para o Focus RS, a Ford Performance conseguiu fazer um desportivo que não desilude em nada como o mais potente Focus atualmente disponível no mercado. Tem o que interessa! Um motor inesgotável com uma disponibilidade constante, e um chassis que lhe confere uma dinâmica invejável.
Ficha Técnica
2261 cm3
Cilindrada
420 Nm
Binário Máximo
280 cv
Potência
5,7 s
0-100 KM/H
250 km/h
Velocidade Máxima
7,9 l/100 km
Combinado
12 l/100 km
Registado
187 g/km
Emissões CO2
44 743€
Base
51 186€
Ensaiado
Motor. Som. Caixa manual.
Conforto. Imagem. Interior com pouca exclusividade.