Num segmento cada vez mais competitivo o Nissan Qashqai, detentor durante muitos anos do ceptro do segmento, e apelidado de “rei dos SUVs”, acaba de receber uma geração completamente nova. Com ela vem uma nova, e única, motorização a gasolina. Por outro lado, a nova geração do Hyundai Tucson rompe com a anterior oferecendo um pacote tecnológico muito interessante. Ao contrário do modelo japonês, este chega com motorizações Diesel, gasolina e híbridas. Assim, neste comparativo entre SUVs do mesmo segmento, fazemos também um frente-a-frente com duas motorizações distintas. Será que os motores a gasolina já são sempre a melhor solução, ou o Diesel ainda continua a fazer sentido?
Não são muitos os modelos automóveis que se podem gabar de ter criado um segmento, mas o Nissan Qashqai é um deles. Em 2006 marcou o segmento SUV familiar e mudou completamente a fortuna da Nissan na Europa. Sucessivamente revisto e aumentado, recebe finalmente em 2021 uma geração completamente nova assente na plataforma CMF-C, mais leve e rígida. Do outro lado temos um elemento da forte ofensiva de produto da marca coreana, e que conta também com uma nova geração lançada em 2021, o Hyundai Tucson.
Se a Nissan optou por remover o Diesel da gama Qashqai, a Hyundai oferece escolha. Gasolina, Diesel, híbrido ou plug-in. Neste frente a frente encontramos um motor 1.3 l gasolina com 158 cv no Nissan, e um 1.6 l Diesel com 115 cv no Hyundai.
Qashqai tem mais versatilidade… mas Tucson faz a diferença!
Com a nova plataforma CMF-C, o Nissan Qashqai viu as suas dimensões aumentarem 35mm em comprimento, 32 mm em largura e 10 mm em altura. Este incremento refletiu-se no espaço atrás e na bagageira, agora com 504 l de capacidade. Ainda nos lugares traseiros do Qashqai destaca-se a abertura de porta em 85º o que facilita sobremaneira o acesso, enquanto no interior temos vários espaços de arrumação. Existem também tomadas USB, e ventilação para os lugares traseiros, para além de um fundo falso na bagageira. Todavia, o Tucson também não facilita no que respeita à capacidade de acomodar família e bagagem, mesmo sem climatização traseira que está reservada à versão mais equipada. Com 560 l de bagageira e um espaço interior mais amplo que o Nissan, especialmente nos lugares traseiros, o Tucson é mais espaçoso.
Outro parâmetro onde o Hyundai leva vantagem prende-se com a qualidade de construção, de aspeto sólido e sem ruídos parasitas, ao passo que o Nissan se deixa ouvir em zonas de mau piso. Já nos materiais usados no interior não existem grandes diferenças. Encontramos plásticos macios no topo, e mais duros nas zonas inferiores e nas portas traseiras. A maior disponibilidade de espaço e de bagageira dão ao Hyundai Tucson a vitória, ainda que marginal, na categoria referente ao interior.
Mais potência, melhores prestações!
Mais do que prestações e comportamento, aquilo que procuramos encontrar ao avaliar a dinâmica destes dois SUV prende-se com a agradabilidade de condução e segurança, tanto em viagens longas como numa utilização urbana e suburbana. Neste particular, com uma caixa manual suave e de excelente tato, e uma direção leve, o Hyundai Tucson leva vantagem. O Nissan Qashqai é prejudicado pela calibração do acelerador, pouco consistente ao longo do seu curso, o que dá uma progressão pouco suave na cidade com reações pouco naturais. Relativamente ao comportamento, as melhorias que a Nissan realizou na direção do Qashqai sentem-se, pelo que este tem boa inserção em curva e alguma agilidade, mesmo sem grande feedback.
O comportamento é também ajudado nesta versão Tekna+ que inclui as jantes de 20” e, consequentemente, a suspensão independente traseira. Já o Tucson é menos dotado, com uma direção mais lenta e distante, mas que não prejudica a condução. O motor 1.3 l de quatro cilindros do Qashqai recebeu uma pequena ajuda híbrida de 12v, para suavizar e apoiar o start-stop, estando acompanhado de uma caixa CVT de oito relações com funcionamento muito melhorado. Para este comparativo escolhemos o Hyundai Tucson Diesel, com o 1.6 l CRDi com 115 cv e caixa manual de seis relações.
Se quanto às performances não há dúvidas, a maior potência do Nissan faz naturalmente a diferença e isso permite-lhe ser consideravelmente mais rápido. Já na transmissão o Hyundai faz valer a máxima de que mais vale uma boa caixa manual que uma automática “assim-assim”. Com vantagem no comportamento e nas prestações, o Nissan Qashqai leva de vencida a categoria da Dinâmica.
Qashqai joga cartada importante no equipamento
Relevante numa utilização estradista e urbana face ao estado de algumas das nossas estradas, Qashqai e Tucscon cumprem a missão de isolar os passageiros das piores irregularidades. Apesar disso, o Qashqai tem uma suspensão mais firme, o que se nota em zonas esburacadas, com algumas pancadas a chegaram ao habitáculo. As jantes de 20” da unidade testada também não ajudam neste particular. Já no interior é fácil encontrar uma posição de condução correta em ambos os modelos. Contudo, o Nissan permite baixar mais o banco do condutor, contribuindo assim para uma posição de condução mais agradável. O Hyundai Tucson tem caminho para melhorar a insonorização do seu motor, tanto ao ralenti como em estrada e, sobretudo, na redução dos ruídos aerodinâmicos que se fazem sentir em viagens longas.
O Nissan Qashqai evoluiu ao nível da qualidade e tecnologia
De forma a garantir um equilíbrio no preço, considerámos na nossa avaliação a versão N-Connecta do Qashqai, apesar da unidade presente ser um o mais equipado Tekna+. Já no Tucson a versão considerada foi a Premium, representando o nível mais baixo. Relativamente ao equipamento, o modelo japonês destaca-se. Apresenta de série itens tais como as câmaras 360º, os sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, entradas USB-C e acesso sem chave. Por outro lado, no Hyundai ainda temos de colocar a chave no canhão e não temos sensores dianteiros nem sistema de navegação. Em ambos os concorrentes encontramos Apple Carplay e Android Auto sem fios e iluminação LED, mas sentimos falta da porta da bagageira elétrica, tanto no Qashqai como no Tucson. A maior dotação de equipamento no Nissan, comparando ambas as versões de entrada de cada um dos modelos, dá-lhe a vitória na categoria do Conforto.
Economias muito díspares
Com o abandono do Diesel na gama Qashqai, o único motor disponível é o 1.3 l a gasolina que, como já mencionamos, recebeu uma leve ajuda mild-hybrid de 12V. Todavia, esta não é suficiente para tornar o Qashqai num SUV económico, pelo contrário. A média de 9 l/100 km com que terminámos o nosso ensaio, é prova disso mesmo.
Para além disso, a tendência em estrada é de aumentar e não diminuir estes valores. É preciso algum cuidado e pouco trânsito para baixar dos 8 l/100km. Já no Tucson, andar em estrada com médias de 5 l/100km é comum. No nosso ensaio medimos 7 l/100 km numa utilização com mais AE a ritmos rápidos e alguma cidade. De referir ainda que o “nosso” Tucson não tem qualquer hibridização, reservada para a versão com caixa automática que conta com um sistema de 48V. Naturalmente não estamos a comparar consumos de gasolina e de gasóleo per si, mas sim a constatar que o Qashqai é um SUV a gasolina com consumos algo elevados dentro do seu segmento, o que dá vantagem ao Tucson, que alinha com os melhores Diesel.
Este Hyundai Tucson é a prova que o Diesel ainda pode fazer (muito) sentido
Outra vantagem da marca coreana acontece na garantia, com os habituais sete anos, em contraponto com os três da Nissan. O valor referente ao IUC é ligeiramente mais em conta no Tucson, mas sem grande disparidade. E se o desempate podia ser feito através de um preço final superior para o modelo que recorre ao motor Diesel, não é isso que se verifica.
O Nissan Qashqai 1.3 DIG-T Xtronic N-Connecta custa 37 750€, ao passo que o Hyundai Tucson 1.6 CRDi Premium custa 37 236 €, valores muito similares. Já a versão topo de gama do Qashqai que aqui vemos tem um valor pouco apelativo de 44 650€. Assim, a maior garantia do Tucson e sobretudo os consumos do Qashqai, dão a vitória no parcial da Economia ao modelo coreano.
Conclusão
Tendo sido o pioneiro do segmento SUV compacto e um modelo importantíssimo para a Nissan, o Qashqai 2021 viu reforçada a sua capacidade familiar. Isto, para além dos seus conteúdos tecnológicos, e evoluindo também na qualidade. A opção por descontinuar o Diesel, bem como a não existência de qualquer versão “verdadeiramente” eletrificada podem-lhe criar algumas dificuldades no mercado, dado que o motor 1.3 DIG-T não impressiona.
Afinal, a concorrência não ficou parada no tempo, e o novo Hyundai Tucson oferece várias motorizações à escolha. Este 1.6 l CRDi cumpre as suas obrigações e faz bons consumos. Assim, acaba por desequilibrar este comparativo no capítulo da Economia, em contraste com o grande equilíbrio demonstrado até então. Por outro lado, prova que o Diesel ainda pode fazer sentido.
Como habitualmente, o ponto extra referente à estética resulta da votação efetuada junto dos nossos seguidores no Instagram, e que uma vez mais não seria decisivo para mudar o resultado final. De qualquer modo, o bónus atribuído foi também para o modelo coreano com 67% dos votos.
Ficha Técnica
1332 vs 1598 cm3
Cilindrada
260 vs 280 Nm
Binário Máximo
158 vs 115 cv
Potência
9,2 vs 12,1 s
0-100 KM/H
199 vs 175 km/h
Velocidade Máxima
6,4 vs 5,5 l/100 km
Combinado
9,0 vs 7,0 l/100 km
Registado
144 vs 140 g/km
Emissões CO2
37 750 vs 37 256€
Base
44 650 vs 37 776€
Ensaiado