O mercado dos veículos híbridos não para de crescer e mostra-se como uma excelente transição entre os veículos a combustão e os 100% elétricos. Resultado disso são as vendas de 2020 que mostram um crescimento de 135,6% face a 2019 nos carros “eletrificados”. E é provável que o Mercedes-Benz A250e tenha dado uma boa ajuda nesse crescimento, pois a Mercedes-Benz foi a marca que mais veículos “amigos do ambiente” vendeu o ano passado.
Ano novo, novos ensaios(!) e não poderia começar de outra forma senão ao volante! Depois de uns meses afastado dos teclados por força das circunstâncias atuais, calhou-me na “rifa” um ensaio ao mais recente “eletrificado” da casa de Estugarda. Surpreendentemente, o Mercedes-Benz A250e foi também o “meu” primeiro híbrido plug-in.
Apesar de não ser novidade, o mais recente Classe A não ficou de fora dos planos de eletrificação da marca alemã. No entanto, as diferenças pouco evidentes estão reservadas para debaixo do capot. Sendo um híbrido plug-in, este equipa dois grupos propulsores. O primeiro, fazendo uso do bloco M270 a gasolina, fruto de uma parceria com a Renault e que é usado noutros modelos, incluindo o mais recente GLB, conta com 1 332 cm3, 160 cv e 230 Nm de binário. Acoplado a este está ainda um motor elétrico de 75 kW (102cv) e 330 Nm de binário. Em conjunto, esses valores equivalem a 218 cv de potência e 450 Nm de binário, tudo acoplado a uma caixa de velocidades automática de oito relações “8G-DCT”.
Mercedes EQ aposta em força nos modelos elétricos
A Mercedes-Benz quer reforçar ainda mais a eletrificação automóvel, com a aposta no lançamento de seis novos modelos EQ até 2022.
O futuro é híbrido?
Antes de mais nada, é preciso falar do “elefante na sala”, pois nos últimos meses inúmeras foram as notícias que inundaram os cabeçalhos dos media. Com o propósito de acabar com os incentivos fiscais aos veículos híbridos (e que acabou por ser mesmo aprovada no Parlamento) o PAN pôs em causa a veracidade dos números apresentados pelos fabricantes. Tudo porque os testes às emissões dos veículos híbridos não contemplavam as emissões quando se circula sem carga na bateria, funcionando apenas o motor a combustão. Por isso, mudanças irão entrar em vigor tendo em conta as novas normas europeias para os próximos anos. Terão estes veículos os dias contados?
Seja como for, é inegável o aparecimento crescente deste tipo de tecnologias e veículos nas nossas estradas. Ainda assim, os números mostram que só no ano passado se registou um aumento de 135,6% face a 2019 – correspondendo a 19 697 veículos “verdes” vendidos. Tal só é contudo possível na maioria dos casos, com os incentivos fiscais, uma vez que são fortemente penalizados no preço. Ao que tudo indica, existe uma maior procura por parte dos portugueses (e em especial das empresas, graças precisamente aos benefícios fiscais) às alternativas a combustão. E porque para uns a transição abrupta para 100% elétrico ainda está longe dos planos, nada melhor que começar por algo “híbrido”.
Igual por fora e por dentro… ou quase!
Começando pelo exterior do Mercedes-Benz A250e, é fácil constatar que (muito) pouca coisa muda face a qualquer outro Classe A. Tirando os emblemas “EQ Power”, existe também a porta de “combustível” extra. Esta, obviamente, para o carregamento elétrico. E já que estamos a contemplar o exterior, de notar que os poucos extras desta unidade são a pintura metalizada “Branco Digital” (750€) e os vidros traseiros escurecidos (399€). A nível estético, este conta ainda com o pack “AMG Line” (2250€), que inclui os para-choques, jantes e grelha, para além do equipamento interior.
Similarmente, no habitáculo, a sensação predominante é que não existem quaisquer diferenças. No caso, e ainda parte do pack “AMG Line”, para além dos bancos estilo “backet” em pele sintética e camurça, temos ainda apontamentos em pesponto vermelho. E para quem não dispensa tecnologia, de série temos o sistema de info-entretenimento MBUX, que falarei um pouco mais abaixo.
Além de boa parte do interior ser forrado a plástico, a sua grande maioria é de qualidade e suave ao toque. Existem ainda plásticos duros nalgumas zonas mais escondidas ou na consola central e saídas de ventilação (em preto piano). Tanto nas portas como no tablier encontramos ainda uma zona em alumínio escovado, que contrasta com o restante interior escuro e combina com outros elementos, como os raios do volante. Em termos de espaço a bordo o Mercedes A250e apresenta as mesmas cotas de habitabilidade que a sua base – embora tenha perdido 40 litros de capacidade na bagageira por culpa da bateria.
Tecnologia ao serviço da condução
O sistema MBUX da Mercedes-Benz é, sem dúvida, um dos sistemas de info-entretenimento mais avançados do mercado. Este não é apenas mais um “apêndice”, pois integra-se com o condutor e aprende com os seus hábitos, adaptando-se ao seu quotidiano. Para além de inúmeras configurações possíveis, é aqui que encontramos toda a informação relativa ao veículo.
Além de ser de série, é nele que toda a informação relativa ao consumo, viagem, carregamento e estado da bateria pode ser apresentada. Caso optes pelo cockpit digital de 10,25″, terás de contar com 550€ extra na fatura final (a nossa unidade dispunha apenas do de 7″, que limita o tipo e número de informação disponível). Para além da capacidade de funcionar em resposta a comandos táteis no próprio ecrã, na consola central encontramos um “touchpad” e botões que permitem manusear mais fácil e rapidamente cada menu do MBUX sem levantar o braço. Além de mais prático, mostra-se também mais seguro quando em viagem.
A interface MBUX tem uma curva de aprendizagem média e requer um par de horas até aprendermos “os cantos à casa”. E se por descuido (ou intenção) chamarmos “pela Mercedes“, ouvimos uma doce voz feminina pronta a ajudar. “Mercedes… tenho frio“, uma das frases-chave que fazem ligar a ventilação bi-zona. O mesmo acontece com “Mercedes… quero um café“. E não, ainda não serve café (ainda!), mas leva-nos ao café mais próximo para satisfazer esse desejo.
Um dos apontamentos, e que é sempre bom salientar, é a presença de botões físicos para a regulação da ventilação. Hoje em dia existem cada vez mais propostas 100% digitais que dificultam o manuseamento e “obrigam” o condutor a prestar mais atenção para dentro do carro do que para fora.
O reverso da medalha
No entanto, nem tudo poderia ser (quase) perfeito. Isto porque ao contrário de outras construtoras, não integra a ligação a Apple Carplay ou Android Auto de série. Para tal, é preciso que o pacote de ligação a smartphone, extra que custa 399€. E mesmo com esse sistema, não é full-screen, o que deixa boa parte do ecrã de 10,25″ com espaço de sobra em volta.
Dois são “melhor” que um!
Ao volante do Mercedes A250e também seria de esperar uma experiência de condução semelhante a qualquer outro Classe A. No caso, e dado que estamos perante um grupo propulsor com características distintas, essa realidade torna-se um pouco diferente.
Em primeiro lugar, na resposta do acelerador. Além de pronta, é bastante progressiva, tudo graças ao sistema elétrico que permite um arranque sem “atrasos”, e em conjunto (elétrico e combustão) consegue percorrer os 0-100 km/h em 6,6 segundos.
Em seguida, na ausência de ruído quando usado o motor elétrico de 102 cv. Mesmo quando o motor 1.33 l a gasolina de 160 cv entra em ação, é percetível a boa insonorização do Classe A em não deixar passar ruídos externos, mantendo um bom ambiente a bordo. Já o conforto, e mesmo com o peso extra do motor e bateria, é notório o excelente trabalho da suspensão, capaz de absorver todas as irregularidades do piso.
E por fim, na conversão de potência em consumos bastante agradáveis. O motor elétrico permite um arranque mais “limpo” (onde é expectável que o consumo de combustível seja maior). O conjunto funciona em harmonia e pode ser alterado ao gosto do condutor em andamento através de seis modos de condução distintos.
Novos modos de condução
E como estamos perante um novo sistema, três novos modos de condução integram o painel, de forma a poder tirar melhor partido do conjunto motriz.
Para uma viagem sem preocupações, o modo “Eco” permite uma gestão autónoma da autonomia, em que conjuga ambos os sistemas. Assim, é possível fazer consumos bastante comedidos por gerir os arranques e potência conforme a necessidade. No caso do “Battery Level”, a gestão é feita de modo a manter a capacidade atual da bateria. Este será mais útil para reservar a bateria para usar mais tarde. Já o modo “Electric”, e como o nome indica, o uso será 100% elétrico. Como tem uma autonomia de até 66 km (WLTP) em modo 100% elétrico, este permite uma utilização prática em curtas deslocações. Assim, é possível uma deslocação mais descontraída mas sempre com potência suficiente capaz de alcançar os 140 km/h.
E se estes novos modos servem para uma utilização no dia-a-dia, para as “ocasiões” é possível ainda escolher entre os já existentes Individual, Comfort e SPORT. Mesmo não sendo um carro de “performance”, o Mercedes A250e tem uma potência combinada de 218 cv e 450 Nm, tirando partido de ambos os motores.
A realidade é “verde?
Ao final de vários dias ao volante do Classe A 250e, é fácil tirar algumas conclusões quanto ao futuro deste tipo de veículos. Em primeiro lugar, o consumo. No papel, os valores anunciados ficam bem abaixo dos valores alcançados, mas ainda assim muito reduzidos. Isto porque os 3,3 l/100 km que registei são uma marca bastante aceitável para o quase meio milhar de quilómetros que percorri numa utilização mista, sobrando ainda mais de meio depósito de combustível. Por outro lado, convém não esquecer que para tal é necessário manter um nível de carga que permita ao motor elétrico entrar em funcionamento. Nem que para isso se faça bom uso das descidas e desacelerações em viagem para recuperar alguma energia, o que se torna fácil já que as patilhas da caixa de velocidades acabam por aumentar ou diminuir o nível de regeneração, quando circulamos em modo elétrico.
Para quem tem a disponibilidade para carregar o carro em casa, o Mercedes A250e inclui um carregador AC de 3,7 kW que permite carregar totalmente a bateria em cerca de 4h. Para quem preferir, pode ainda usar o outro cabo fornecido e carregar em postos de carregamento ou wallbox e ver esse tempo diminuir para mais de metade. Se for num posto de carregamento rápido, esse tempo diminuirá para menos de uma hora. No nosso caso, e dado que preferimos o meio tradicional de carregamento doméstico, não houve complicações e mostrou-se um processo bastante simples – o chamado “plug & play”. Tudo isto desde que próximo do estacionamento haja uma tomada convencional.
Ao contrário de algumas propostas, o A250e consegue facilmente cumprir a autonomia anunciada em modo elétrico, ou até ultrapassar se o deixarmos fazer a gestão
No final, em 461 km conseguimos um consumo de 3,3 l/100 km de combustível e 9,7 kWh/100 km de consumo elétrico. Em termos de distância, de notar que mais de metade do tempo (55% e cerca de 257 km) foi em modo 100% elétrico. Tudo isto demonstra que na sua maioria do tempo foi possível dar uma “folga” ao motor de combustão e fazer uso do elétrico.
É o carro certo para mim?
Se chegaste até aqui e ainda residem dúvidas se deves ou não escolher um híbrido, vou tentar passar o meu ponto de vista. Em primeiro lugar, devo dizer que este foi o meu primeiro contacto mais prolongado com um híbrido plug-in. E como primeiro contacto, não poderia ter ficado mais satisfeito com a experiência. Para quem procura fazer os melhores consumos e ao mesmo tempo sentir confiança sempre que pisa o pedal direito sem receio de ficar sem bateria em viagem (como num 100% elétrico), esta é a melhor escolha, ainda que com o devido senão… o preço!
Para que isso seja verdade, é necessário manter carga na bateria. Caso não tenhas possibilidade de o fazer diariamente, possivelmente não será o carro para ti. Ao usares exclusivamente o motor a combustão, os consumos irão ultrapassar facilmente os 7,0 l/100 km. Por outro lado, terás de perceber se, face à diferença de preço ainda te compensará pagar os mais de 9500€ extra, (comparando com o modelo A200 a gasolina) embora este A250e conte com alguns opcionais de série. É o caso do pack Advantage e pack Visibilidade, entre outros. Contudo, as contas poderão ser um pouco diferentes, tendo em conta os benefícios fiscais (por enquanto) em vigor.
Portanto, é colocar os “pratos na balança” e fazer contas. Será que a diferença deste Mercedes A250e para outro modelo fará sentido para o teu quotidiano ou ainda é cedo para apostares no futuro.
As mais valias da versão limousine do Mercedes-Benz A180d
Talvez o mais racional dos Classe A, aqui na nova versão limousine que lhe confere uma maior elegância com alguns outros atributos.
Conclusão
Se procuras um híbrido capaz de excelentes consumos e com uma excelente qualidade de construção, este poderá ser o carro ideal. Só terás de fazer contas e perceber se os 9500€ de diferença (preço base) para um A200 de 163 cv compensarão. Ao fim ao cabo, essa diferença pode servir para adquirir uns quantos extras e ainda sobra para muitos litros de gasolina.
Ficha Técnica
1332 cm3
Cilindrada
450 Nm
Binário Máximo
218 cv
Potência
6,6 s
0-100 KM/H
235 km/h
Velocidade Máxima
1,6 l/100 km
Combinado
3,3 l/100 km
Registado
36 g/km
Emissões CO2
40 800€
Base
44 200€
Ensaiado
Consumo, Autonomia em modo elétrico, Qualidade, Conforto.
Apple CarPlay e Android auto não é de série.