É verdade! Esta é a história de uma das melhores insónias que já tive até hoje! Felizmente por acaso, ou até não… tinha um Renault Mégane RS Trophy-R parado à porta, o lado positivo desta “maldita” insónia. Garanto-vos que a melhor solução não é aquela de contar os carneirinhos… embora provavelmente a mais barata. Em vez disso peguei “na chave” do Mégane RS Trophy-R e fiz-me à estrada. Destino? Serra de Montejunto? Porque não?
No caminho deu para perceber que a regulação das suspensões Ohlins que equipam esta versão estava no meio termo. Nem exageradamente desconfortável, ainda que o seja, nem demasiado “soft”. O ideal para o tipo de teste que pretendíamos propor ao Trophy-R, longe das pistas para onde ele foi concebido. Talvez um dia… Enquanto isso posso vos explicar o que faz deste Mégane o hot-hatch mais falado e temido dos últimos tempos…
Dieta rigorosa
A receita para este Mégane RS, ainda mais hardcore que os restantes, foi: Em primeiro lugar, uma redução extrema de peso. Após retirados os bancos traseiros, as boas baquets Recaro foram aqui substituídas por outras não muito distintas da Sabelt mas com estrutura em carbono. Motivo? Menos 7 kg de peso cada uma! Na frente a inclusão de um capot em fibra de carbono (-8 kg), a remoção das luzes diurnas (-2 kg) em formato xadrez e a saída de cena do sistema 4Control de quatro rodas direcionais (-38 kg), provando que a relação peso/benefício do mesmo era dispensável.
Mas não é tudo em nome da dieta. Removeu-se ainda a escova limpa pára-brisas traseira (-3 kg), os sistemas de auxílio à condução, e colocou-se o sistema de info-entretenimento na sua versão mais simples, aqui em busca de apenas mais algumas gramas. Nem o sistema de escape “escapou” à redução de peso. A linha da Akrapovic em titânio reduz mais 7 kg.
Ao todo pouparam-se 130 kg de peso para um total de 1381 kg.
O motor e a potência mantiveram-se face ao Mégane Trophy, embora com alguns ajustes ao nível do turbo. O que é certo é que a diferença para este Trophy-R não está de facto na potência, mas sim no peso e principalmente em alguns componentes que, esses sim, fazem toda a diferença. É o caso do sistema de travagem, e das suspensões. Se no primeiro contamos com discos carbo-cerâmicos de 390 mm de diâmetro com pinças de quatro êmbolos e que são incansáveis sempre que solicitados, do outro lado temos as referidas suspensões da Ohlins reguláveis não apenas em altura mas também em dureza, permitindo ajustar o comportamento desta ao tipo de utilização. Uma configuração mais dura para condução em circuito, ou intermédia para que seja possível digerir da melhor forma as irregularidades de uma estrada de serra como aquela onde conduzimos o Trophy-R.
Objetivos claros!
Posto isto… resultado? Um tempo de volta recorde no traçado de Nürburgring, destronando o Honda Civic Type R com um tempo de 7min40,1s. De referir ainda outro facto que não só contribui para a redução de peso, como foi certamente determinante na obtenção deste recorde, as jantes! Se as jantes que vemos aqui nas imagens pesam menos 2 kg cada uma, o Renault Mégane RS Trophy-R vem ainda equipado com um conjunto de quatro jantes extra em fibra de carbono que pesam ainda menos 2 kg que as primeiras. No lugar dos bancos traseiros existe espaço “à medida” e moldado para acomodar as quatro jantes extra para levar para a pista, e tem ainda ganchos de fixação.
A escolha dos pneus por parte da Renault Sport é a mesma para ambas as jantes, os Bridgestone Potenza S007 com especificação própria para o Mégane RS. O conjunto destas jantes em carbono tem um valor astronómico de 15 mil euros(!) mas em Portugal foram de série. Sim foram… porque as apenas 10 unidades que vieram para Portugal, das 500 produzidas, já foram vendidas!
Desfrutar da insónia
Agora que a introdução está feita, já tenho pela minha frente algumas curvas para desfrutar de um chassis de eleição. Tudo aquilo que descrevi nos parágrafos anteriores faz com que este Trophy-R seja ainda melhor que a soma das partes. Os travões são incansáveis por mais que solicitados, e acrescentam uma precisão cirúrgica à frente. A suspensão faz milagres a curvar, ainda que o setup se tenha revelado mais adequado para pista. Em estrada de serra com algumas irregularidades como as que encontramos na Serra de Montejunto, o Trohpy-R ressalta um pouco mais do que o desejável, exigindo firmeza na direção. O autoblocante em conjunto com os extraordinários pneus Bridgestone Potenza S007 desafiam constantemente as leis da física. Por último, e claro que em modo “Race”, a orquestra sobre o comando do escape Akrapovic em titânio compõe o cenário idílico perfeito para uma noite de insónias.
Felizmente que a ânsia pela redução de peso fez com que pudéssemos aproveitar tudo isto com uma caixa manual, ainda que esta se acaba por revelar o único ponto menos positivo do Trophy-R. O curso é demasiado longo, o punho podia ser mais “compacto”, e o funcionamento não favorece as passagens rápidas em carga. Ainda que a escolha por uma caixa manual tenha sido sem dúvida alguma a melhor opção, desejava-se um manuseamento e precisão mais ao nível do restante conjunto. #savethemanuals
O Mégane RS Trophy-R é, simultaneamente, um carro de coleção e uma máquina de estrada!
Há ainda outro ponto muito positvo para o Mégane RS Trophy-R, felizmente comum às restantes versões, o travão de mão manual! Com a precisão do chassis e firmeza da suspensão, este é uma peça fundamental para posicionar o Trophy-R onde queremos em algumas brincadeiras, para além de o tornar mais analógico.
O motor 1.8 l turbo agradece a redução de peso com uma capacidade de aceleração notável e uma resposta sempre imediata em qualquer regime. Depois de algumas horas quem acaba a perder o fôlego somos nós. O Mégane RS Trophy-R foi concebido para pista, e a indiferença que demonstra depois de muita solicitação é a prova disso mesmo. Não se nega a nada. Enquanto isso eu já transpiro das mãos entre golpes de volante e reduções intempestivas para manter algum bom senso, e a firmeza necessária para lidar com uma suspensão que, embora regulável, apresentava uma configuração talvez um nível acima do ideal para estrada.
Descanso do guerreiro
Antes de regressar e tentar aproveitar o cansaço extra para conseguir dormir, houve tempo para deixar o Trophy-R arrefecer sobre um magnífico luar que as fotos demonstram. Mais uma vez cenário idílico para finalizar o ensaio àquele que é, muito provavelmente, o melhor tração à frente do momento. A Renault Sport mais uma vez não deixou os créditos por mãos alheias com um automóvel que mais do que insónias, protagoniza momentos intensos de pilotagem, embora por um preço de 81 500€. É verdade, tudo tem o seu preço! Parabéns aos dez proprietários em Portugal deste raro e apurado espécime.
Conclusão
O preço elevado de 81 500€ é o valor a pagar não apenas por uma edição limitada de colecionador como é este Trophy-R, mas também por uma máquina que não se nega a nada capaz de uma fiabilidade ímpar e de um comportamento ao alcance de muito poucos. Este Trophy-R é um desportivo que consegue superar a soma de todas as partes pela forma como devora asfalto e nos transmite sensações normalmente só ao alcance de pilotos. É um carro preparado de corrida, preparado para pista, e que vale mesmo a pena ser conduzido em circuito.
Ficha Técnica
1798 cm3
Cilindrada
420 Nm
Binário Máximo
300 cv
Potência
5,4 s
0-100 KM/H
262 km/h
Velocidade Máxima
8,1 l/100 km
Combinado
12,2 l/100 km
Registado
183 g/km
Emissões CO2
81 500€
Base
81 500€
Ensaiado
Motor. Travagem. Suspensão. Comportamento. Som escape.
Preço. Caixa de velocidades.