Por muitos volantes que nos passem pelas mãos, há uns que ficam imediatamente eternizados. Normalmente são os mesmos automóveis com os quais passamos a sonhar com o dia de os poder conduzir todos os dias e não apenas durante estes ensaios, que por sinal já são muitos… Todas as semanas passam-nos pelas mãos vários modelos. O Toyota GR Yaris é daqueles tão especiais, que nunca esqueceremos! Facto que é percetível de imediato. Ou seja, em 20 anos é o primeiro desportivo 100% Toyota, e a marca japonesa não se poupou a esforços!
Depois do Toyota GT86, em conjunto com a Subaru, e do Toyota GR Supra, em conjunto com a BMW, a Toyota prova que não é uma questão de conhecimento, nem tão pouco de meios para tal. Quando há orçamento, a marca desenvolve máquinas absolutamente inacreditáveis, capazes de calarem todos os que, até então, criticaram os mais recentes desportivos da marca.
Mais que especial, um especial de homologação!
Nesta altura já muito se falou sobre o este Toyota Yaris especial. Se és um entusiasta ou um verdadeiro petrolhead, tudo aquilo que vou descrever neste artigo já não é novidade para ti, e quando as opiniões são unânimes, é logo muito bom sinal. Podemos começar por recordar que o Toyota GR Yaris é muito mais do que “apenas” um pocket-rocket. É um especial de homologação. Houve em tempos outros casos como este, mas atualmente não é caso raro, é único!
O GR Yaris é muito mais que um Toyota Yaris com esteroides e um motor mais potente. Manter o nome Yaris é, talvez, o seu único “problema”, mas apenas e só para quem nunca o conduziu. O GR Yaris é aquele carro em que tudo, mas mesmo tudo, foi pensado ao pormenor. Uma máquina de emoções fortes. Um automóvel que depois de conduzirmos nos invade de desejo sem olharmos a mais nada.
Comecemos pelas alterações face ao modelo original, e que são bem mais do que à primeira vista possamos pensar. Aliás, basta dizer que nem sequer os dois modelos são produzidos na mesma fábrica. Enquanto o Toyota Yaris convencional é produzido na Europa, em França, os GR Yaris são produzidos no Japão.
Muito mais do que um Pocket-rocket!
No exterior, todos os painéis são distintos. Da versão convencional ficamos apenas com as óticas e os espelhos retrovisores. Ao nível do chassis temos uma plataforma exclusiva que resulta da combinação entre duas plataformas, a GA-B e a GA-C, sendo esta última a responsável pela possibilidade de ter no eixo traseiro não apenas uma suspensão multilink, mas um sistema de tração integral. E que sistema! Mas já lá vamos… Para além disso, apesar da mesma distância entre eixos, o GR Yaris é mais comprido, mais largo e mais baixo, o que já começa a denunciar a disparidade face ao citadino que lhe deu o nome.
Totalmente pensado para ser um verdadeiro desportivo de emoções fortes, nada, mas mesmo nada, foi deixado ao acaso. A grelha frontal de maiores dimensões permite aumentar o fluxo de ar e todas as formas da carroçaria têm uma finalidade que vai bem para além da estética. Não apenas a forma, mas também o material aplicado. É o caso do tejadilho em fibra de carbono, do para-choques traseiro fabricados num material compósito próprio, ou dos painéis em alumínio que contribuem para um peso total de 1280 kg. Depois, a colocação da bateria por baixo do piso da bagageira, e a posição do motor 21 mm mais atrás no seu compartimento, permitiram ainda uma equilibrada distribuição deste peso e assim um baixo centro de gravidade.
São 1280 kg mas distribuídos com um objetivo: perfeição!
O interior encanta pela simplicidade. O foco não está na aparência, mas sim nas emoções. Apenas os itens imprescindíveis para uma condução verdadeiramente desportiva foram tidos em conta na hora de aplicar alterações, ou seja, bancos, volante, comando da caixa e pedais. Os bancos desportivos têm um bom apoio e em nada comprometem as viagens maiores. Também o volante é específico do GR Yaris e tem uma excelente pega provando que a moda dos volantes cortados em baixo não passa disso mesmo, uma moda! Contudo, o seletor da caixa de seis velocidades manual também sofreu alterações. A sua posição foi elevada para ficar mais próximo do volante. Por fim, só faltam os pedais. Para além de se tratarem de pedais desportivos, foram colocados em posição estratégica para facilitar todas as “manobras”, incluindo o ponta-tacão, e assim permitir uma condução perfeita.
Ainda assim, a posição de condução não é perfeita! Tudo apenas e só porque é demasiado elevada já que é herdada do Yaris convencional. Este pocket-rocket diabólico merecia uma posição mais baixa. Ainda assim a verdade é que acabei por me esquecer desse “detalhe” depois de algum tempo ao volante.
Incansável é o melhor adjetivo para o motor!
Depois… depois temos o motor! Um motor incrível! Ainda hoje me pergunto… Como é possível ter um bloco de três cilindros com tanta alma? O motor é incansável, e se há casos em que não suspeitamos a potência do bloco, ao volante do GR Yaris e com o pé direito no fundo é difícil acreditar que sejam “apenas” 261 cv. É um 1.6 l com três “apenas” três cilindros mas que entrega uma alma ao GR Yaris que acreditem é mesmo… inacreditável! É o bloco de três cilindros mais potente do mundo, mas é também o 1.6l turbo mais pequeno e leve de sempre. São factos(!), mas a disponibilidade e a entrega de que é capaz é que impressiona e, entusiasma!
A tração é o outro detalhe que faz toda a diferença. O sistema GR-Four de tração integral permanente, foi desenvolvido especificamente para o GR Yaris. Através do seletor na consola podemos optar por uma tração 60/40 no modo “Normal”, 50/50 no modo “Track”, ou 30/70 no modo “Sport”. Em qualquer um dos modos o GR Yaris é um automóvel surpreendente e viciante, mas é neste último que tudo atinge outra dimensão até porque esta é precisamente a repartição que encontramos no outro Yaris ainda mais radical, o Yaris WRC. Para além disso o travão de mão é mecânico, foi afinado pela equipa da Gazoo Racing e consegue ainda desligar o diferencial central.
Não se trata apenas do trabalho da Gazoo Racing, mas também da Tommi Mäkinen Racing e depressa percebemos que durante o desenvolvimento e conceção do GR Yaris, ninguém brincou em serviço! Nem mesmo os pilotos da Toyota Gazoo Racing World Rally Team, Kris Meeke e Jari-Matti Latvalla que também ajudaram no desenvolvimento com os seus anos de experiência a competir ao mais alto nível nos ralis.
Da estrada, para a pista!
Por isso nós também não nos podíamos ficar por um normal teste de estrada. Depois de uma estrada bem contorcida, fomos com o Toyota GR Yaris até ao Kartódromo de Évora pois foi em pista que os maiores (e melhores) desenvolvimentos foram feitos. Segundo a Toyota, até mesmo a capacidade de aquecimento dos travões foi pensada para condução em circuito.
Aqui, para além de um motor incansável, ainda que goste de ser mantido acima das 3000 rpm onde entrega o binário máximo de 360 Nm, o GR Yaris demonstra também uma agilidade inacreditável, evidenciada por uma pista desenhada para outro tipo de andamento. Ainda assim, três ganchos permitiram-nos tirar partido do travão de mão mecânico e da tração integral para evidenciar a rapidez com que o sistema é capaz de catapultar o GR Yaris para a frente a devorar alcatrão. Para vos ser sincero ainda não sei se prefiro uma volta em modo Track ou em modo Sport… O que não é de todo um problema pois ficava eternamente a tentar encontrar o melhor tempo. A verdade é que o nosso tempo por volta foi muito idêntico para qualquer um dos casos.
Num carro como este, pequeno e leve com a sua própria plataforma dedicada, é óbvio que tudo foi otimizado para o melhor comportamento em estrada. Isso é algo que se sente quando o conduzimos. Ter suspensão independente em cada canto do carro maximiza a tração e o movimento para a frente, que é tudo o que importa num desportivo de gema. Vindo de um contexto de ralis, este carro pode adaptar-se a todas as condições.
Kris Meeke, piloto da Toyota Gazoo Racing
É quando soltamos o GR Yaris em pista que ele nos apaixona e vicia com uma indiferença de quem foi feito mesmo para aquilo!
A suspensão independente, mesmo nesta versão “Premium”, consegue fazer um trabalho exemplar perante todas as irregularidades encontradas. O ponta-tacão automático (desligável) é mais um detalhe que faz toda a diferença quando imprimimos um andamento mais célere e temos que recorrer a reduções mais fortes. A caixa curta e o bom binário ajudam a manter o motor sempre no regime ideal. Uma delícia!
Os travões, com discos de 356 mm na frente e 297 mm ventilados na traseira, são também eles incansáveis e com boa abordagem. Nas primeiras curvas fiquei com a sensação de ter travado cedo demais. Os pneus Dunlop SP Sport Maxx montados nas jantes 18″ também parecem adequados sem que nunca comprometam a experiência de condução.
O GR Yaris é construído em Motomachi, uma das fábricas automóveis mais avançadas do mundo, e há muito trabalho feito à mão. Significa que as coisas demoram mais , mas podemos sentir as vantagens enquanto pilotos. O carro é muito, muito estável, e a suspensão mais rígida gera boas sensações em curva. Num carro de performance pura os detalhes têm que ser exatos, porque nos ralis e nas corridas são os detalhes que fazem a diferença.
Jari-Matti Latvala, piloto Toyota Gazoo Racing
A tração é muita e permite atacar o pedal do acelerador muito cedo na curva. Se não usarmos o travão de mão para a colocação em curva rapidamente percebemos que a frente é a primeira a dar de si, alargando trajetórias e mostrando alguma subviragem. Foi precisamente esta margem de progressão que levou os técnicos da Toyota a desenvolverem a versão Extreme Rally.
Se até aqui até os consumos de 8 l/100 km nos pareciam comedidos… claro está que depois de quase nos cansarmos o GR Yaris já marcava de média uns mais expressivos 12 l/100 km.
Honestamente? Poucos automóveis são capazes de emoções tão fortes a gastar “apenas” 12 l/100 km!
O peso dos comandos, a caixa manual com toque mecânico que exige e premeia o esforço da engrenagem da mudança. Mesmo em estrada, a 120 km/h em 6ª rodamos às 3300 rpm, ou seja, longe das enormes desmultiplicações a que estamos habituados nos dias de hoje…
Há escolhas a fazer…
Se vale os 50 000€ que a Toyota pede? Até nos sentarmos ao volante e arrancar para a estrada, não! Depois disso? Vale cada cêntimo!
Defeitos? Sim tem! A bagageira oferece apenas 174 litros e o ruído aerodinâmico também não é o mais contido, ainda que a amplitude de abertura dos bancos e o sistema Isofix permitam até levar os miúdos à escola ?. Os outros ficam resolvidos com a versão “Extreme Rally” e que custa exatamente o mesmo! Depois, naturalmente que podem esquecer os consumos anunciados a ritmos mais “apressados”. Aí o pequeno GR Yaris “bebe como gente grande”!
Apesar deste Toyota GR Yaris Extreme Premium já ser capaz de protagonizar excelentes momentos de diversão ao volante, é na versão Extreme Rally que os técnicos e engenheiros da Toyota depositaram os maiores esforços. Dificilmente detetável por fora, a versão mais radical tem algumas diferenças. É o caso das pinças de travão em vermelho, e das jantes BBS de 18″ forjadas com pneus Michelin Pilot Sport 4S. Para além disso, a traseira conta com molas mais firmes, mas o que o torna a escolha mais certa para quem procura o melhor são, sem dúvida alguma, os dois diferenciais autoblocantes Torsen. Nós ainda não o experimentámos, mas diz quem o fez que fazem verdadeiramente a diferença. Nós acreditamos(!) até porque pelas palavras de Jari-Matii Latvala, os pequenos “problemas” deste Premium parecem resolvidos na versão Rally.
Depois de nos sentarmos ao volante e fazermos um troço de estrada em modo “full attack” o Toyota GR Yaris vale cada cêntimo que a Toyota pede por ele!
Esta versão (Extreme Rally) é o mais próximo que se pode chegar do Yaris WRC sem entrar para a equipa de ralis. Os diferenciais autoblocantes Torsen fornecem a distribuição de binário ideal nos dois eixos. Garantem aceleração suave para a frente e estaabilidade uma vez que todas as rodas estão a girar ao mesmo tempo, não existindo aceleração para o lado. Ao sair de uma curva, o carro não começa a sobrevirar ou a subvirar, antes mantém a trajetória ideal.
Jari-Matti Latvala, Director da equipa Toyota Gazoo Racing
Nesta versão ensaiada (Extreme Premium), estes itens são substituídos por outras “mordomias” como o head-up display, o sistema de navegação ou o sistema de som JBL. Também o alerta de ângulo morto, e os sensores de estacionamento traseiro e frontal estão presentes nesta versão.
O Toyota GR Yaris é daqueles automóveis que estará presente em muitas garagens dessas por aí, ao lado de outras máquinas bem mais potentes, mais caras e menos… versáteis!
Um dia… assim haja oportunidade, lá estará na garagem o meu Toyota GR Yaris! ?
Conclusão
A Toyota não se poupou a esforços para que o desportivo mais aguardado do ano conseguisse surpreender tudo e todos. O Toyota GR Yaris é bem mais do que um pocket-rocket, é um especial de homologação! É um carro em que tudo foi pensado com um propósito muito claro e específico: A condução! É por isso que no futuro encontraremos muitos Toyota GR Yaris em coleções ao lado de outras máquinas que custam até quatro vezes mais.
Ficha Técnica
1618 cm3
Cilindrada
360 Nm
Binário Máximo
261 cv
Potência
5,5 s
0-100 KM/H
230 km/h
Velocidade Máxima
8,2 l/100 km
Combinado
11,2 l/100 km
Registado
186 g/km
Emissões CO2
46 990€
Base
46 990€
Ensaiado
Motor. Sistema GR-Four. Travagem. Caixa manual.
Capacidade bagageira. Ruído aerodinâmico. Posição de condução demasiado elevada.